Ao lançar dois discos simultaneamente, Bebeto Alves diz que eles representam tempos diferentes de sua vida. O início de tudo está representado por Salvo, que surgiu depois que Marcos Abreu, produtor fonográfico e parceiro do músico, descobriu uma fita cassete, gravada entre os álbuns Paralelo 30 (1978), trabalho coletivo junto a nomes como Nelson Coelho de Castro, Raul Ellwanger e Carlinhos Hartlieb, e Bebeto Alves (1981), sua estreia solo.
Em Salvo, o uruguaianense de 65 anos recupera 10 canções inéditas, esquecidas por ele mesmo, conforme admite na entrevista, quatro faixas que entraram em discos posteriores (De um Bando, Fogueirais, Raiar e Amarelua) e Ah, Essa Cidade, gravada por Tânia Alves, mas nunca registrada por ele.
Bebeto lembra que uma das surpresas que Salvo lhe trouxe foi a participação de Nico Nicolaiewsky (1957-2014) tocando piano ou gaita nas seis primeiras faixas (Janela, Cura, Fogueirais, Lugarzinho, Amarelua e Raiar).
— Não lembro onde eu e Nico gravamos isso, mesmo. É um documento de uma época, recupera o que estava perdido. No momento em que isso vem à tona, cria uma consistência maior no meu trabalho — afirma Bebeto.
Já OHBLACKBAGUAL– Pela Última Vez, o segundo disco, representa para o artista o final de uma era. Bebeto destaca que é seu último trabalho com lançamento no formato físico, encerrando um ciclo.
— É uma coisa bem especial, o disco físico não existe mais, já não encontramos mais lojas que vendam CDs. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que existe um grande número de pessoas que ainda gosta de ter o CD, abrir o encarte. É como ler livro, o disco tem uma narrativa, te conduz por um caminho. É diferente de ouvir em plataformas digitais. Eu não ouço discos em plataformas digitais. Ouvir um CD é uma outra relação social. Vejo que as novas gerações não ouvem uma música inteira (nas plataformas), por exemplo. Estão ouvindo uma coisa e não vão até o fim — observa Bebeto.
Em OHBLACKBAGUAL – Pela Última Vez, Bebeto, que grava pela primeira vez um álbum somente com milongas, tem como referências o seu citado disco de 1981 e BLACKBAGUALNEGOVEIO (2004), primeiro trabalho com o coletivo OhBlackbagual, formado por Marcelo Corsetti, Luke Faro e Rodrigo Rheinheimer.
Parcerias
Entre as faixas de destaque, estão parcerias com o porto-alegrense Raul Ellwanger (João Madrugada, faixa que abre o disco), com o poeta uruguaianense Nei Duclós (Outras Verdades) e com o carioca Rodrigo Maranhão, líder do Bangalafumenga, um dos blocos de destaque do Carnaval do Rio de Janeiro (Milonga).
— Esse disco chega dentro da ideia de contemporaneidade, observação de uma paisagem contemporânea, de definir a milonga como um gênero da música popular brasileira, sem gauchismo. Com discos com esse, ao lado dos meus amigos do OhBlackbagual, considero que construí uma concepção estética de uma musica sulista — afirma Bebeto.
Sobre o fato de lançar os trabalhos em meio a uma pandemia de coronavírus, ele explica que o projeto dos discos começou em dezembro.
— Como a gente não tem perspectiva de quando isso vai se resolver, e acredito que deva demorar muito mais do que se imagina, resolvemos aproveitar esse momento, que todo mundo está ligado nas redes, para lançar os discos. É uma forma de trazer conteúdo para as pessoas, em um momento em que todo mundo está preso dentro de casa — finaliza.
Os discos estão disponíveis nas plataformas digitais e à venda em bit.ly/lojabebetoalves, por R$ 32,90 cada. Os dois juntos ficam por R$ 47, 90.