O sonho da casa própria acompanha a Ospa desde sua fundação. Durante seus 70 anos, a orquestra passou por diversos espaços, sendo o mais emblemático deles o antigo Teatro da Ospa, na Avenida Independência, entre 1984 e 2008. Apesar do nome, tratava-se de um lar provisório, alugado. Com a deterioração do espaço – que nos anos 1960 e 70 havia sido o Teatro Leopoldina, palco de grandes espetáculos –, a Ospa voltou a ser uma orquestra nômade. Os concertos passaram a ocorrer em diferentes salas de espetáculo da Capital, e os ensaios, consecutivamente, em locais como um salão do Palácio Piratini, um espaço reformado no Armazém A3 do Cais do Porto, o salão Paroquial da Igreja São Pedro e o Teatro Elis Regina da Usina do Gasômetro.
Em 2003, cinco anos antes de deixar o antigo Teatro da Ospa, foi assentada a pedra fundamental do que seria uma sala sinfônica junto ao Shopping Total, com acústica de excelência e capacidade para 1,5 mil espectadores. A sala era uma obstinação do então presidente da Ospa, Ivo Nesralla, que ocupou o cargo entre 2003 e 2018 (e, antes, de 1983 a 1991). Mas o projeto sofreu forte oposição de moradores da região e de ambientalistas. Em 2006, novo local foi anunciado, o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Apesar de mais protestos contrários, os trabalhos começaram – apenas em 2012. Envolvida em entraves burocráticos com as empresas contratadas para a fase das fundações, a obra ficou abandonada. Em 2016, o orçamento total estimado era de R$ 46 milhões.
Tudo mudou em 2017, quando a Ospa passou a ensaiar em um espaço do Centro Administrativo Fernando Ferrari. Durante a reforma, constatou-se que poderia dar lugar a uma sala de concerto, o que de fato ocorreu. No ano seguinte, foi inaugurada lá a Casa da Ospa, considera a primeira sede definitiva. Já o projeto no parque foi abandonado. Com isso, o governo do Estado teve de devolver R$ 2,13 milhões à União de verba que havia sido repassada para a obra. Já o terreno voltará para a prefeitura.
A Ospa tem grandes planos para sua casa no Centro Administrativo, que soma 2,5 mil metros quadrados. Além da sala de concertos já entregue, com capacidade para 1,1 mil espectadores, haverá salas para recitais, para estudo e para o Coro Sinfônico. A última etapa da obra vai contemplar um memorial sobre a história da orquestra, a reforma do saguão, a cafeteria e a instalação da administração. Também estão previstos elevadores para melhorar a acessibilidade. O orçamento total da Casa da Música é de R$ 7,2 milhões, dos quais já foram investidos ou captados R$ 4,2 milhões. Os R$ 3 milhões restantes serão buscados por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
— Não é possível uma orquestra conservar sua perfeição se não tiver uma sede própria, uma casa que se molde às suas necessidades – diz o compositor e professor Celso Loureiro Chaves. – Juntos, orquestra, músicos, regentes e casa fazem a sonoridade que é característica de cada grupo. Cada orquestra tem o seu "som", a sua qualidade específica. A casa fixa é uma das grandes responsáveis por isso.
Um dos desafios foi tratar acusticamente a sala de concertos, que tem um pé direito considerado baixo para esse fim. O trabalho envolveu a cuidadosa instalação de placas de absorção e reflexão de som no forro do teto e no fundo do palco. O engenheiro de áudio Marcos Abreu, que trabalha no projeto, se diz satisfeito:
— Conseguimos um resultado muito bom com o orçamento que se tinha. O tempo de reverberação do som é adequado, equivalente às melhores salas. Com certeza não posso dar nota 10, mas são poucas as salas que sequer merecem nota 9. Diria que é nota 8, o que é excelente para a música sinfônica. Tem bom som, boa visibilidade e boas posições. De qualquer poltrona se tem uma boa experiência sonora.
Para concluir o complexo, agora é preciso sensibilizar pessoas físicas e empresas para reverterem seu Imposto de Renda à obra por meio da Lei de Incentivo à Cultura, segundo o presidente da Fundação Ospa, Luis Roberto Andrade Ponte, que planeja uma "turnê" a empresários:
— As estatais do governo federal têm uma aplicação muito grande no eixo Rio-São Paulo. Queremos tratamento isonômico em função da importância do Estado e da Ospa. Afinal, é uma instituição de 70 anos.
Parte 4: a saga da orquestra até a conquista da sala de concertos própria (você acabou de ler)