Com o lançamento de Tônus no ano passado, disco que figurou nas listas de melhores álbuns de 2018, a banda Carne Doce se expandiu com um olhar para o íntimo. Vocalista e letrista do grupo, Salma Jô buscou inspiração dentro de si para compor versos como “Nenhum disfarce no teu olhar/ Eu já venci/ Já não sou mais gostosa/ Você goza triste em mim”. Parceria com João Victor Santana, Comida Amarga abre o álbum e também deve ser a primeira a ser tocada no show que o grupo goiano realiza nesta quinta (26), pela primeira vez no Opinião — em passagem anterior pela Capital, no Agulha, os ingressos esgotaram-se com antecedência.
É a partir dessa canção que os músicos têm se conectado frente a frente com o público. De meia arrastão branca com incidência de luz ultravioleta, Salma dança. E não é mais possível ficar indiferente ao efeito criado no palco. O figurino remete à capa de Tônus. A cantora explica a ideia:
— É como se o conceito tivesse nos encontrado, pois foi tudo muito intuitivo. Um dia vi uma moça no Instagram usando a meia branca arrastão sob a luz negra. Vi algo ali que eu ainda não sabia o que era. Fizemos o ensaio para a capa exagerando esse efeito. Mac (Macloys Aquino, guitarrista do grupo e companheiro da cantora) e eu destacamos as linhas, testamos coisas, colocamos o carretel e aí encontramos um conceito: era algo sobre se construir e se desfiar, se amarrar e se descosturar, construção e desconstrução pessoal.
A ideia, segundo a artista, conversava com as músicas, que misturam indie rock com MPB:
— Levamos isso para o show. E os harness (acessório feito com tiras de couro) foram ocupando o lugar da meia. Foi automático pensar neles. São linhas mais grossas, mas também repetem essa sensação sadomasô, de prazer e dor.
A aposta tem dado certo. O grupo tem sido elogiado por suas apresentações, como a do festival Lollapalooza Brasil, em São Paulo, em abril deste ano. Somado a isso, a banda embarcará para a sua primeira turnê internacional, para shows em Portugal, além de uma apresentação em Londres de Salma e Macloys.
A boa fase vivida pelos músicos coincide com a preparação do quarto disco, sem previsão de lançamento. Segundo Salma, a banda vive um momento de transição, o que já poderá ser percebido nesta quinta, quando algumas composições novas aparecerão no setlist. Em um texto recente, a cantora escreveu que “as próximas músicas apontam para um som mais leve, mais sereno do que fizemos anteriormente”.
Transição
Também marcarão presença canções dos dois primeiros álbuns, Carne Doce (2014) e Princesa (2016). Mas Salma reforça que ainda se trata do show do Tônus, um trabalho que, apesar de mais intimista, reflete o momento de tensão vivido no país.
— O disco tem uma música com pendor mais político, que é Golpista, que remete a esse cenário de crise da democracia ou de representatividade das instituições, de descrença, de ansiedade, apatia, desmobilização etc, que é um movimento mundial e também brasileiro, e que tem possibilitado anomalias como o governo Bolsonaro — analisa a cantora. — Mas, nas demais canções, que falam de amor e outros temas, a abordagem política está de alguma maneira representada pela frustração, pelo sentimento de insuficiência, ansiedade e ressentimento.
Carne Doce
- Opinião (José do Patrocínio, 834).
- Quinta (26), às 22h.
- Classificação: 14 anos.
- Ingressos: de R$ 35 (com a doação de 1kg de alimento não perecível) a R$ 70.
- Pontos de venda: Lojas Multisom Iguatemi (sem taxa), Praia de Belas, Barra Shopping Sul e da Andradas, 1.001. Lojas Verse da Andradas 1.444 e do Shopping Lindoia (taxa de R$ 5); sympla.com.br/opiniao.