O 8° Festival Internacional Sesc de Música começou na segunda-feira (15) com uma explosão de alegria e dança nas ruas de Pelotas. E encerrou seu primeiro dia com a elegância do grupo Ensemble Berlin no Theatro Guarany. Eclético, o evento foi das antigas marchinhas de Carnaval até Mozart em poucas horas, e aproximou jovens aprendizes de ícones globais da música de concerto.
Como é tradição no festival, a programação foi aberta por um cortejo formado por músicos que participam do evento. A multidão deixou o largo do Mercado Público pouco depois das 18h e deu uma alegre volta pelo Centro Histórico. Pelo caminho, a energia dos músicos foi contagiando quem estava na rua, como a aposentada Maria Helena Gouveia, de 77 anos:
— É uma volta ao passado — disse Maria, que cantava e dançava Ó Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, na companhia de outra Maria, sua irmã.
— Acho muito lindo isso. O povo precisa disso, está todo mundo muito estressado — complementou Maria da Graça Paiva, 61 anos, antes de convocar a repórter a dançar ao seu lado.
As duas senhoras somaram-se ao cortejo, que além de muito maior, estava cada vez mais diverso, com mães levando bebês e até um homem de muletas — todos entoando Mamãe, Eu Quero.
Quando as cerca de 500 pessoas chegaram à Bibliotheca Pública Pelotense, o clima de Carnaval foi substituído por um solene silêncio. Lá, o barítono Homero Velho e a pianista Liliana Michelsen encantaram o público que lotava um amplo salão para ouvi-los interpretar Schumann e Fauré. Entre os rostos compenetrados estava o de Isaac do Amaral, 13 anos, que discretamente marcava o ritmo do piano com os dedos.
— Gostei muito do foco do piano — disse o adolescente, que começou a estudar o instrumento há cinco meses.
Ao fim do recital, o público de 250 pessoas ovacionou a dupla de músicos antes de migrar para o Theatro Guarany, que abrigaria a grande atração do dia, a Ensemble Berlin. O grupo de músicos completamente entrosados arrancou palmas e gritos dos 1,3 mil espectadores a cada intervalo. O paulista Luiz Filipe Coelho é um desses músicos e, demonstrando virtuosismo, mostrou porque também conquistou o posto de primeiro violino da Filarmônica de Berlim. Depois do concerto, comentou a experiência de participar do festival:
— Os festivais no Brasil são do tamanho do país, sempre enormes, com muitos alunos, e o público é muito mais caloroso, levanta, grita.
Festival se destaca por sua ênfase pedagógica
Ao longo de 12 dias, o evento promoverá cerca de 50 concertos e 24 cursos. A programação, toda gratuita, leva à cidade aproximadamente 50 professores e 300 estudantes de vários países, como o universitário colombiano Roberth Lopes, 26 anos, que não hesita ao responder o motivo de viajar até Pelotas: ter aulas com Alberto Bocini, um dos principais contrabaixistas da atualidade.
— Vou ter aulas duas vezes por semana com ele. Quero aprender muito e também ajudar os outros — disse Lopes, um dos 270 jovens que receberam bolsa integral para o festival.
Até veteranos procuram as oficinas. Fábio Mentz, 57 anos, atua como músico há quase 40 anos e atualmente toca fagote na Ospa. Em 2018, resolveu participar do festival como aluno, chamando a atenção ao ensaiar entre os jovens da Banda Sinfônica:
— As técnicas para o meu instrumento se renovaram muito em 30 anos. Aqui eu me reciclo trocando ideias com os professores e alunos.
— O festival tem uma energia muito grande. É um momento de estímulo, tão importante quanto a aula, que é o contato com os colegas — destacou o professor da UFRJ, Marcelo Jardim, que está encarregado de preparar a banda formada por alunos do festival para uma apresentação na Praia do Laranjal.
Viajou a convite do Sesc/RS