Ao longo de sete anos, o grupo Daughter saltou de promessa a sucesso na Inglaterra, onde a competição pelos palcos se dá no mais alto nível. Substituiu os pubs de Londres por grandes festivais, como Glastonbury, Coachella, Latitude e Festival de Jazz de Montreaux. Na quinta-feira, o público gaúcho poderá conferir ao vivo o grupo, que faz sua primeira turnê pelo Brasil.
A banda tem cumprido um roteiro apertado de shows: tocou terça no Circo Voador (Rio de Janeiro), quarta, no Popload Festival (São Paulo), e quinta chega ao Theatro São Pedro. O cenário histórico combina com a sonoridade da banda, que faz um rock melancólico com muitos recursos eletrônicos – algo entre Sonic Youth e The XX. À frente do grupo está a londrina Elena Tonra, 27 anos, dona de uma voz que lembra a de Florence Welch (de Florence and the Machine), ainda que cante em sussurros, sem alcançar a potência da conterrânea ruiva. Enquanto toca guitarra, Elena derrama no palco suas letras confessionais, num processo que a revista NME chamou de "exorcismo emocional".
Ela começou sozinha, apresentando-se no metrô de Londres, e, em 2010, formou o Daughter com o baixista e guitarrista suíço Igor Haefeli e o baterista francês Remi Aguilella. O trio gravou dois EPs, atraindo tanta atenção que, antes do primeiro disco, foi convidado para o programa de David Letterman. A estreia veio em 2013, com If You Leave, eleito o melhor álbum independente do ano por The Association of Independent Music (AIM) e impulsionado pelo hit Youth. Falando por telefone com ZH, Haefeli comentou a trajetória meteórica:
– Tivemos sorte porque as coisas ficaram melhores rapidamente, conseguimos largar nossos empregos e focar na música. Em comparação com outras bandas que conhecemos... O The National já tinha lançado alguns álbuns antes de achar seu caminho.
Uma das bandas mais respeitadas do cenário indie, The National incensou o Daughter ao convidar o trio para abrir seus shows em duas turnês.
– É definitivamente uma banda que admiramos – admite Haefeli, que cita ainda Björk e Radiohead como referências.
Segundo o músico, o show em Porto Alegre terá canções do primeiro álbum e principalmente do segundo, Not to Disappear (2016), produzido por Nicolas Vernhes (Animal Collective, Deerhunter e The War On Drugs). Mais maduro e enérgico que o debut, o disco tem como pontos altos How, Numbers e Doing the Right Thing. O terceiro álbum está em produção, mas, em setembro, o grupo lançou um trabalho que não considera um "álbum do Daughter": Music from Before The Storm, trilha sonora do jogo eletrônico Life is Strange.
Aliás, a popularidade do grupo se deve muito a trilhas sonoras – suas canções embalaram The Vampire Diaries e Grey's Anatomy, além de propagandas.
– Damos o nosso melhor para fazer música que seja evocativa. E achamos incrível quando ela é usada para fins para os quais não foi escrita. Muita gente nos descobriu por meio de um programa de TV ou um filme – confirma Haefeli.
A regra vale até no Brasil: Smother está na trilha da novela O Outro Lado do Paraíso, da Globo.