Poesia é o ar que Maria Bethânia respira e canta. Desde o início da carreira, a intérprete baiana estreitou no seu repertório a interação entre palavra e música, cantando versos de autores clássicos e contemporâneos com os quais compartilha percepções sobre a vida e os sentimentos. Depois de encerrar 2015 celebrando os 50 anos de uma das mais ricas trajetórias da música popular brasileira, com um espetáculo que percorreu o Brasil, Bethânia está agora focada no projeto literomusical que a traz novamente ao Rio Grande do Sul.
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Nesta quarta em Pelotas e sábado em Canoas (veja mais informações abaixo), a artista apresenta o recital Bethânia e as palavras, desdobramento do projeto Cadernos de poesias, parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais transformada em livro e DVD no final do ano passado. Em junho, na Capital, a performance abriu a temporada do Unimúsica.
– É uma leitura que venho fazendo tem seis anos. O projeto começou voltado para escolas públicas e professores, é um trabalho completamente diferente, muito simples e muito franco, que passa por esses poetas de língua portuguesa. Gosto de ler o que me vem à cabeça, trechos que conheço e que vou conhecendo. Mas eu não posso mexer muito na estrutura do espetáculo porque ele tem toda uma dramaturgia. Eu dou uma mexidinha em elementos como o momento amor, o momento sertão, o momento político, o momento religioso, porque preciso de uma novidade sempre – conta Bethânia.
A cantora é acompanhada no palco por Paulinho Daflin (violão) e Carlos César (percussão). No repertório, marcam presença, em cantos e leituras, autores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Paulinho da Viola, Wally Salomão, Vinicius de Moraes, Castro Alves, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Carlos Drumond de Andrade, Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andersen, entre outros mestres reverenciados por Bethânia.
Por essas mesmas águas poéticas a cantora navega também com o programa Poesia e prosa com Maria Bethânia, que estreou domingo no canal Arte 1, com ela recebendo Caetano Veloso para homenagear Clarice Lispector.
– Eu tive a liberdade de escolher formato, autores e convidados. Pensei no Caetano com a Clarice, o Chico com o João Cabral, o Paulinho Pinheiro com Guimarães Rosa e o Jorge Mautner com Castro Alves. Dois poetas e dois prosistas, com respaldo e presença de professores, compositores e eu como intérprete – diz Bethânia, já divulgando as atrações dos próximos domingos, às 22h.
Um novo disco de estúdio, sucessor de Meus quintais (2014), garante Bethânia, não está no seu horizonte:
– Quero ficar mais resguardada. Essa turnê dos 50 anos me tirou o couro (risos). Mais do que fazer shows, a rotina de viagem, aeroporto e hotel é o que mais cansa. Desarma a pessoa.
Sobre a conturbada vida política brasileira, Bethânia é sucinta:
– Tá difícil, mas sou uma brasileira persistente. Essa questão da Lei Rouanet, por exemplo, é mal explicada, não se tem interesse em colocar os fatos claramente. Mas acho que a poesia e a literatura brasileira são tão maiores que uma hora a gente ganha.
Bethânia e as palavras
Quarta, às 21h
Teatro Guarany (Rua Lobo da Costa, 849, em Pelotas)
Ingressos: R$ 500 (cadeira) a R$ 1.250 (camarote para cinco pessoas), com meia-entrada para os beneficiários legais. À venda, com cobrança de taxa, no site www.blueticket.com.br
Sábado, às 20h
Teatro do Sesc (Av. Guilherme Schell, 5.340, em Canoas)
Ingressos: entrada franca, com retirada de senhas um dia antes do espetáculo, a partir das 12h, no auditório da Praça da Bandeira. É permitido retirar apenas uma senha por pessoa – não haverá distribuição de senhas no dia da apresentação.