Eventos como a Bienal Internacional do Livro de São Paulo servem para tirar o rosto do celular e ficar frente a frente com escritores e personalidades que só seriam possíveis de ver pelo Instagram. Desta sexta-feira (6) a 15 de setembro, em São Paulo, a 27ª edição do badalado evento do mercado editorial oferece uma programação capaz de agradar a todos os gostos, de quem prestigia literatura premiada até quem gosta de consumir algo mais pop.
Serão 227 expositores de livros, 683 autores nacionais e 33 internacionais e a expectativa de receber em torno de 660 mil visitantes nos pavilhões do Distrito Anhembi, na capital paulista.
Nenhuma atividade será transmitida na internet: o convite é para calçar os tênis mais confortáveis e bater perna em busca de histórias ao vivo, mesmo.
Para quem não pode ir, Zero Hora reuniu abaixo alguns autores convidados, dicas de leitura e novidades que vêm por aí.

Felipe Neto e o ódio
É no primeiro final de semana de Bienal que ocorre o lançamento nacional mais polêmico e badalado do ano, Como Enfrentar o Ódio (Companhia das Letras, 376 páginas), de Felipe Neto. Em um relato pessoal, o influenciador digital relembra o início de sua carreira de youtuber, em que usava de um tom agressivo para criticar desde os costumes até a política brasileira, o que alavancou sua popularidade na internet. Até que ele próprio tornou-se alvo de ataques nas redes sociais por movimentos de extrema-direita, o que impulsionou uma tomada de consciência. Sempre determinado a não passar em branco, Felipe Neto conseguiu deixar uma marca e tanto na trajetória de uma das maiores editoras do Brasil: Como Enfrentar o Ódio é a maior pré-venda da história da Companhia das Letras, com mais de 10 mil exemplares comercializados. Neste sábado (7), antes de duas sessões de autógrafos na parte da tarde, ele irá participar de um bate-papo.

Ziraldo entre nós
O maior cartunista do Brasil saiu de cena, mas seu trabalho ainda é revisto e descoberto. Entre Cobras e Lagartos (Reco-Reco, 48 páginas) é o livro inédito de Ziraldo, falecido em abril, aos 91 anos, feito em parceira entre o Instituto Ziraldo e o escritor e ilustrador Guto Lins. Resgata a personagem da cobra, que já apareceu em outras obras do cartunista. Aqui, seu perfil ganha dimensão: é uma cobra com "s" de sobra, inclusive o "s" da solidão. As ilustrações foram garimpadas no acervo de Ziraldo e publicadas ao longo de sua carreira. Entre Cobras e Lagartos sai pela Reco-Reco, selo infantil e recém inaugurado da editora Record. O pai do Menino Maluquinho também batiza um espaço especial na Bienal, o Auditório Ziraldo, que receberá encontros entre autores e seus leitores.
A enchente gaúcha
Entre as maiores jornalistas do Brasil e experiente em retratar grandes tragédias nacionais em livros de não ficção, como o incêndio da Boate Kiss, Daniela Arbex irá mediar um bate-papo sobre a enchente que assolou o Rio Grande do Sul. Dois autores que testemunharam o drama em suas cidades irão participar do encontro que ocorre nesta sexta (6), às 13h. Vivendo em Porto Alegre, Karen Soarele (@karensoarele) é autora de romances fantásticos, como A Joia da Alma e A Deusa no Labirinto, ambos publicados pela Jambô Editora, da qual é editora-chefe. Morando em São Leopoldo, Rafael Fritzen (@angulodevista) é quadrinista e autor de Charlie, o Jovem Adulto (HarperCollins).
Quem não conhece a obra de Arbex pode escolher pelo tema que mais lhe intriga. Em Holocausto Brasileiro (Intrínseca, 2013), ela conta como um hospital psiquiátrico de Barbacena (MG), recebia pessoas consideradas fora do padrão e as maltratava até a morte. Cova 312 mostra como as Forças Armadas torturaram e mataram um jovem militante político durante a ditadura militar. Todo Dia a Mesma Noite (Intrínseca, 2018) reconstitui os acontecimentos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, em que 242 pessoas morreram em Santa Maria, no incêndio da Boate Kiss.

Falando em mudanças climáticas
Escritora gaúcha que vem ganhando destaque nacional, Morgana Kretzmann participará do bate-papo A Literatura e o Mundo em Colapso na companhia do neurocientista Miguel Nicolelis. Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura com o livro Ao Pó (Patuá, 2020), Morgana lançou neste ano Água Turva (Companhia das Letras), ambientado no Parque Estadual do Turvo, no noroeste do Rio Grande do Sul, região onde ela se criou. A história mistura o drama das relações humanas à temática ambiental, já que o parque volta e meia é alvo de algum projeto com potencial de minar sua fauna e flora diversificadas. Já Nicolelis recém lançou Nada Mais Será como Antes (Planeta Minotauro), uma ficção científica ambientada em um mundo que está colapsando pela falta de cuidado com o meio ambiente, e a situação promete ficar pior.
L&PM inovando
Comemorando 50 anos, a editora gaúcha L&PM vai lançar um produto especial na Bienal: uma nova plataforma educacional que promete aliar o desfrute do livro analógico à interação do conteúdo digital. Chamada L&PM na Classe, a iniciativa trabalha com o conceito de microaprendizagem, apresentando cards interativos que permitem que crianças e jovens aprofundem seu conhecimento sobre determinada obra literária. Segundo a editora, os conteúdos da plataforma usam de uma abordagem direta e atrativa, recheada de vídeos e links, garantindo aquela conexão que agrada as gerações mais novas.
Outros autores presentes
- Bruna Lombardi lançará Manual Para Corações Machucados (Sextante, 2024)
- Margarita García Robayo, colombiana, autora de Até que Passe um Furacão (Moinhos, 2022)
- Leonardo Padura, cubano, autor de O Homem que Amava os Cachorros (Boitempo, 2015) e do recente Pessoas Decentes (2023)
- Lynn Painter, norte-americana, autora de Melhor do que nos Filmes (Intrínseca, 2023) e Apostando no Amor (Intrínseca, 2024)
- Hwang Bo-Reum, sul-coreana, autora de Bem-Vindos à Livraria Hyunam-Dong (Intrínseca, 2023)