O editor da L&PM, Ivan Pinheiro Machado, e o proprietário da editora Sextante, Marcos Pereira, debateram os reflexos da pandemia de coronavírus no mercado editorial, assim como as perspectivas para o futuro do setor, na manhã desta quarta-feira (21), durante o Painel Atualidade, da Rádio Gaúcha. A crise que atinge o ramo, a dificuldade de lançamento de livros na pandemia e o crescimento dos clubes de leitura estão entre os temas abordados pelos representantes.
Nas quartas-feiras, o quadro dentro do programa Gaúcha Atualidade ouve representantes de setores econômicos para provocar o debate e estimular a busca por alternativas para a diminuição do impacto negativo causado pela pandemia na economia do Rio Grande do Sul.
A L&PM Editores nasceu em agosto de 1974. Foi criada por Paulo de Almeida Lima e Ivan Pinheiro Machado e há mais de 40 anos consolida-se como uma das grandes editoras brasileiras.
Já a Editora Sextante foi fundada em 1998 por Geraldo Jordão Pereira e seus dois filhos, Marcos e Tomás da Veiga Pereira. Foi criada com o intuito de publicar livros de autoajuda e hoje é uma das que mais vendem livros no Brasil.
Crise do mercado e a situação na pandemia
— O mercado editorial, quando começou a pandemia, já sofria de problemas com grandes redes pedindo recuperação judicial, o que causou um grande prejuízo no nosso setor. A livraria Saraiva, com mais de cem lojas, pediu recuperação judicial e causou um grande prejuízo no mercado editorial como um todo, então (esse) foi o primeiro vírus, o segundo vírus foi o coronavírus. Mas, acho que de uma forma geral, o livro foi muito testado nessa pandemia e saiu muito grande, porque a gente teve uma produção de alta qualidade e, apesar dos problemas terríveis de trabalho a distância, de distribuição, muitas lojas fechadas, a gente foi arrumando alternativas. Acho que pode se dizer que (as pessoas) leram muito, não dá para aferir se leram mais porque os números que se tem do mercado são números muitas vezes em queda, mas há uma recuperação rápida, pelo que eu estou sentindo atualmente. Também houve muito interesse pelo livro propriamente dito, quer dizer, quem não conseguia comprar o livro na loja física porque estava fechada na quarentena, comprava pela internet, tinha o recurso do e-book. Então, acho que entre todas as formas de lazer para enfrentar a pandemia, o livro talvez tenha sido privilegiado pela facilidade com que hoje tu tens um livro (em casa) — afirma Pinheiro Machado.
Dificuldade de lançamento de livros
— A partir de junho teve uma recuperação notável, agosto foi um mês inacreditável, a gente teve um crescimento em relação ao ano passado perto de 20%. A questão da venda online, tanto do e-book quanto do livro físico, fez com que todos os nossos times de marketing concentrassem as ações em mídias sociais, então você começa a falar com as pessoas e incentivar elas a irem aos sites e comprar. Acho que passado o medo, aquele pavor e aquela incerteza inicial, e também com as pessoas cansando de ver todas as séries disponíveis, elas voltaram para o livro. Como o Ivan disse, o livro sai muito fortalecido da pandemia, a única coisa talvez que eu discorde é que eu acho que a gente sofreu muito com relação ao lançamento de novos títulos. A livraria se prova neste momento como sendo um lugar privilegiado de descobertas, pois é muito difícil lançar um livro e só depender do canal online. Saraiva e Cultura eram ícones da livraria, Porto Alegre sempre foi um celeiro de grandes livrarias, e o nosso desafio é justamente esse: como é que a gente vai reconstruir o varejo físico — aponta o proprietário da Sextante.
Experiência da livraria
— As várias questões que se opõe à livraria, por exemplo, que muita gente fala do comércio online, isso tudo existe, mas tem uma coisa que é insuperável, que é a experiência da livraria, aquela coisa de entrar na livraria sem ter a menor ideia do que tu queres e sair de lá com três livros, porque tu ficas olhando os livros. Já no comércio online, tu vais já sabendo o que quer. E também a livraria pequena tem a questão do livreiro, que houve no Brasil livreiros históricos, a pessoa entra na livraria e tem uma pessoa que pode orientar e ajudar. São experiências, digamos assim, “artesanais”, mas que têm uma riqueza imensa e que fideliza muito o cliente — defende o editor da L&PM.
— Um totem de leitura de código de barras não é o que as pessoas querem dentro de uma livraria, elas não querem saber o preço, elas querem saber do que se trata o livro, querem saber se vão gostar do livro — concorda Pereira.
Clubes de assinatura
— Essa coisa dos clubes de leitura profissionais é muito legal e é muito importante, eu acho que fideliza (o leitor) mesmo e que principalmente traz o livro para a ribalta — ressalta Pinheiro Machado.
— Precisamos fazer uma homenagem aos meninos da TAG, que coisa sensacional que foi eles resgatarem isso, porque você tinha lá atrás o Círculo do Livro, mas a inflação acabou com ele, e agora volta com a TAG, que tem a coisa da curadoria, da surpresa, eu acho sensacional. O que eu penso disso é que as livrarias deveriam aprender com esse modelo, eu acho interessantíssimo a Intrínseca e a L&PM tentarem se conectar diretamente com seu público, mas é um esforço grande, e sei porque sou sócio da Intrínseca, então, eu administro toda a logístico do clube e vejo que essa ideia de vocês se conectarem com o leitor, de você atrair o leitor, de chamá-lo sempre de volta, é uma coisa sensacional. Essa ideia de clube tem que ser muito pensada pelos livreiros, como é que se transforma sua livraria em um clube, um lugar onde as pessoas frequentam — sugere o proprietário da Sextante.
Ideias em meio à crise
— Ontem, teve uma palestra de um autor nosso e a ideia dele é “pense de novo”, como uma forma da gente sempre questionar as nossas crenças pré-estabelecidas. Acho que nessa pandemia a gente teve que pensar de novo várias vezes, a gente teve que se reinventar de várias formas, questionar o trabalho presencial, como fazer em relação ao convívio com os amigos, como cuidar da nossa vida, da nossa saúde, então (a ideia é) pensar de novo, continuar pensando e continuar mudando. M mudança é inevitável. Então, a gente tem que encarar a mudança de uma maneira positiva — finaliza Pereira.