Olho maior que a barriga, fogo no rabo, vento nos pés e pernas enormes, capazes se abraçar o mundo. Assim foi apresentado por Ziraldo o personagem que há 40 anos encanta crianças de diferentes gerações. E o Menino Maluquinho faz aniversário junto com seu criador – neste 24 de outubro, Ziraldo completa 88 anos.
Para celebrar a data, a editora Melhoramentos lançou uma edição especial do livro ilustrado, com 120 páginas, que traz como conteúdo extra textos sobre essa obra clássica e a trajetória de Ziraldo, fotos do autor, linha do tempo e curiosidades de traduções e títulos que O Menino Maluquinho ganhou em diferentes idiomas. Acompanha um marcador de páginas no estilo do personagem e um paper art para destacar, montar e guardar.
Com 129 edições e mais de 4 milhões de exemplares vendidos, o Menino Maluquinho é, segundo Ziraldo, seu “filho mais famoso” entre os tantos que desenhou. Quando o guri comemorou três décadas de vida, o autor comentou em entrevista a Zero Hora a perenidade de seu universo lúdico em meio a tantas transformações da sociedade e sua conexão com crianças de diferentes realidades, dos grandes centros urbanos aos rincões mais profundos do Brasil.
Na ocasião, Ziraldo lembrou da viagem que fez em 1980 para lançar O Menino Maluquinho: em uma pequena cidade de Minas Gerais, às margens do rio São Francisco, surpreendeu-se ao encontrar um grupo de alunos de uma escola rural a postos para ouvi-lo falar do livro que já tinham como favorito. O mesmo se deu com pequenos indígenas de Roraima:
— É engraçado que o Menino Maluquinho não mexe com jogos eletrônicos, não está ligado nesses musicais americanos, ainda solta balão, tem 10 namoradas e continua tocando as pessoas. É que o ser humano, na essência, não muda. Até hoje você pode adaptar as tragédias gregas para os tempos modernos, porque o homem continua sofrendo, ficando feliz, chorando, matando e morrendo pelas mesmas razões. O Menino Maluquinho não fala de tempo nem de costumes, acho que é isso. De tudo que escrevi, e olha que fiz coisa pra burro, foi o livro que fez mais sucesso.
Um sucesso que migrou para outras plataformas. O esperto garoto de oito anos que usa uma panela na cabeça e tem uma imaginação infinita para criar brincadeiras e traquinagens entrou para o repertório do teatro infantil brasileiro, virou gibi, foi adaptado para o cinema duas vezes (1995 e 1997), chegou à televisão como seriado em 2006 e ganhou até versão para ópera, em 2015. A versão em desenho animado está prevista para estrear no próximo ano, como seriado, no catálogo da Netflix.
Após sofrer um acidente vascular cerebral, em 2008, e ficar quase um mês hospitalizado, Ziraldo diminuiu o ritmo de trabalho, mas segue atento às movimentações do mundo em tempos de pandemia. Em recente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele falou sobre a importância da fantasia para as crianças confinadas em casa e sua inspiração para uma futura obra:
— As crianças têm uma imaginação muito grande e fértil. Elas inventam coisas incríveis com uma rapidez fantástica para encher a cabecinha delas. Crianças são as veias do mundo. O coronavírus é uma coisa tão misteriosa que dá para gente inventar muitas histórias sobre ele. Estou com uma vontade muito grande de fazer uma aventura da Turma do Pererê em torno do coronavírus. Ainda não sei como seria, mas vou dar uma missão para a turma: liquidar o coronavírus. Eu acho que é um inimigo bom para uma história em quadrinhos.
Sobre o saldo da atual experiência para os pequenos, disse:
— Essas crianças vão crescer e vão virar, como eu, avós. E então elas vão contar para os netos: “Meninos, eu estive lá!” As crianças de hoje, quando estiverem com 87 anos, vão se lembrar dessa pandemia que passa pela vida apenas uma vez. Não sei como ela vai terminar, mas vai ser emocionante você se lembrar que estava presente. Como eu ouvia meu avô contar sobre a época da gripe espanhola.