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A um mês de completar 60 anos, Marcelo Rubens Paiva lança seu décimo tanto livro ("já perdi a conta, acho que são mais de 15"), com 29 contos e crônicas abordando relações entre homens e mulheres ("são casamentos, traições, namoros"), mas com uma pegada totalmente século 21: levando em conta o empoderamento feminino ("as coisas mudam, né?").
Algumas das histórias de O Homem Ridículo são inéditas, mas outras foram transformadas por Paiva à luz dos dias de hoje. Contos que já saíram na Folha de S.Paulo, no jornal Estado de S. Paulo, na revista Vogue e mesmo em antologias do tipo As 100 Melhores Crônicas foram revisitadas, retrabalhadas e reescritas. Ele exemplifica o que o incomodava:
— Tinha uma frase em uma delas que dizia assim: "Ela gosta de ser cantada na rua, mas não gosta de assédio". Ora, mas ser cantada na rua é assédio! A gente achava que não, né?
A cena está em A Garota de Preto, uma declaração de amor às mulheres paulistanas. Vamos à página 55 do novo livro para ver como o autor resolveu a sinuca: "Adora elogios. Detesta galanteios. Adora presentes. Odeia insistentes. Quer ser cortejada. Jamais abusada".
— É — responde Paiva, à questão sobre se estava tornando seus textos antigos politicamente corretos. — Apesar de não gostar muito desse termo, é tornar politicamente correto, sim.
— Eu defendo Monteiro Lobato. Acho que não se pode mexer no texto dele, porque a obra mostra uma época — diz, referindo-se à polêmica recente sobre o livro Caçadas de Pedrinho, que traz cenas consideradas racistas e, por isso, houve discussão sobre retirar certas frases em novas edições.
— Mas meu caso é diferente. Eu tenho a capacidade de mudar, porque estou vivo. E não vejo por que não fazer isso — afirma. — Não tenho o menor constrangimento. Fiquei feliz de ver parte desse material, que estava indo pro esquecimento, voltar à tona dessa forma.
— O discurso mudou. E é claro que sou totalmente a favor da mudança. Eu sou cadeirante e sofro do mesmo tipo de preconceito. Também procuro um lugar de fala e me identifico com o novo tempo.
Aliás, diz ele, já fez isso com diversas obras suas.
— Sempre que vai ter edição nova de Feliz Ano Velho, por exemplo, eu pego o arquivo de Word e reescrevo partes.
Falando em Feliz Ano Velho", best-seller de 1982 no qual relata sua vida de estudante e o acidente que lhe tirou os movimentos das pernas, e começando por ele, grande parte da obra de Paiva é autobiográfica, ou, se não, escrita em primeira pessoa.
Não é o caso dos textos de O Homem Ridículo, cuja maioria vem em terceira pessoa.
— Gosto muito de Jonathan Franzen [autor americano de As Correções e Liberdade] e li uma entrevista há um tempo no qual ele dizia que livro bom é livro em terceira pessoa. Depois disso, comecei a escrever assim e isso me deu uma liberdade muito grande.
Apesar de grande parte dos contos vir envolto em problemas de relacionamento, o tom é no geral otimista.
— Acho que amadureci — diz ele, que se separou há oito meses. Apesar disso, os dois filhos do casal, Joaquim, 5, e Sebastião, 3, não foram morar com a mãe. Vivem com ele. Isso é que é pai do século 21.
O HOMEM RIDÍCULO
AUTOR Marcelo Rubens Paiva
EDITORA Tordesilhas
QUANDO Lançamento: terça (2/4), às 19h,
ONDE Mercearia São Pedro (r. Rodésia, 34, Vila Madalena, São Paulo)
QUANTO R$ 44,90 (180 págs.)