Houve uma época, e nem faz tanto tempo assim, em que se discutia a sério se havia ou não literatura feminina, se mulheres escrevendo lidavam com questões diversas, se havia algum tipo específico de "estilo" característico das autoras.
A ascensão e a repercussão de movimentos feministas recentes, como o Leia Mulheres ou o Agora é que São Elas, mudaram um tanto o foco nesse tipo de debate apontando para uma questão óbvia: teorizar ou não sobre "como as mulheres escrevem" é uma questão acessória diante de um ponto mais óbvio: antes, elas precisam ser lidas, ter sua obra discutida uma a uma, não em um bloco anônimo.
Nesta página, convidamos cinco autoras em atividade para indicar cada qual uma autora que você aí deveria ler. De preferência, logo.
SIMONE CAMPOS, autora de A Vez de Morrer e O Aleph de Botafogo, indica:
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ANA PAULA MAIA
"Ela escreve sua literatura pulp com personagens fazendo serviços sujos e brutos, desprezados pela sociedade, mas muitas vezes imprescindíveis: crematórios, matadouros, esgotos e ringues de boxe. Além de ser autora de mão cheia, é minha amiga. Ficamos muito próximas quando morávamos no mesmo bairro (Botafogo, no Rio) e publicávamos pela mesma pequena editora (7Letras); agora, publicamos pela mesma grande editora (Cia das Letras). Meu preferido dela é Carvão Animal (mas também amo o Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos)."
LYA LUFT, autora de As Parceiras e Perdas e Ganhos indica:
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"Sempre Lygia, e seu romance As Meninas, que teve grande importância na minha carreira literária, pelo encantamento e admiração que me despertou, levando-me a fazer sobre ele uma dissertação de mestrado. Mistério, emoção, choque e sutileza, um domínio extraordinário da linguagem muito pessoal e a amorosa prospecção da alma humana constituem a trama, que se situa numa época de ditadura e rebeldia, drogas e decadência familiar. Grande livro hoje raramente citado, perda nossa."
NATALIA BORGES POLESSO, autora de Amora, indica:
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BRENDA LOZANO
"A mexicana Brenda Lozano é uma das vozes mais interessantes na literatura latino-americana hoje. Além de ser uma narradora consistente e bem-humorada, é ótima ensaísta. Há pouco li seu Cuaderno Ideal, mistura de ficção e ensaio, e fiquei impressionada com sua força e criatividade para transformar banalidades em análises sagazes. Sua primeira novela, Todo Nada, está sendo adaptada para o cinema. Vou começar agora Como pensam as pedras, seu livro de contos, estou curiosa. Acho que precisamos ler mais o que narradores e narradoras latino-americanas estão nos estregando hoje em sua literatura."
MANOELA SAWITZKI, autora de Suíte Dama da Noite, indica
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JUDITH BUTLER, VIRGINIE DESPENTES e ANA MARIA GONÇALVES
“É difícil indicar uma quando há tantas que são necessárias. Por uma boa causa, trapaceio. Sinto que é fundamental lermos Judith Butler, Virginie Despentes e Ana Maria Gonçalves, por exemplo. Mais do que nunca, estratégica e politicamente, entrarmos em contato com a multiplicidade do pensamento em torno das questões de gênero e do racismo, e, sobretudo, lançarmos um olhar novo e mais aguçado sobre nossas próprias condições e posições.”
CÍNTIA MOSCOVICH, autora de Duas Iguais e Essa Coisa Brilhante que é a Chuva, indica:
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"É a autora que sempre mora no meu coração e nas minhas preces: a literatura dela me emociona, me diverte e, acima de tudo, me faz rir aos montes. É dos poucos autores (e autoras) nacionais que lida com o humor bom, sem apelação, só com ironia e com aquele olhar privilegiado de quem consegue verdadeiramente ficar espantado com a falta de sentido das coisas. É uma escrita ultrassofisticada, ultra elegante e ultra engraçada. Aula de vida. E é um encanto de criatura."