A representatividade dos autores negros no sistema literário estará em debate no 3º Encontro de Escritores Negros do Rio Grande do Sul, que ocorre neste sábado e domingo, às 17h, na sala O Retrato do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Rua dos Andradas, 1.223). No sábado, os escritores Ana dos Santos, Luiz Maurício de Azevedo e Oscar Henrique Marques e a pesquisadora e jornalista Iarema Soares estarão na mesa Que Produção É essa que Está Sendo Chamada Literatura Negra. No domingo, Eliane Marques, Lilian Rocha, Luiz Maurício Azevedo e o pesquisador Deivison Campos falam sobre Literaturas Africanas e suas Diásporas.
A presença negra na literatura é um dos eixos temáticos desta Feira. Também no domingo, às 19h30min, no Teatro Carlos Urbim (entre o Margs e o Memorial do RS), haverá o Slam Conexões, uma competição de poesia falada. Na terça, às 19h30min, na Tenda de Pasárgada (diante do Memorial), será a vez do Sarau Oliveira Silveira, em homenagem ao poeta morto em 2009, com a presença de Sérgio Vaz.
As edições anteriores do Encontro foram realizadas em 2015, em Canoas, e em 2016, dentro da Feira de Porto Alegre, aprofundando um debate lançado naquele ano pelo poeta Ronald Augusto. Em um artigo publicado em Zero Hora, Augusto questionou quantos e quais escritores negros estariam na programação da Feira em 2016. Na ocasião, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) já havia sido motivo de crítica pela ausência de representatividade.
O Encontro de Escritores Negros do RS deu origem a um grupo permanente de reflexão sobre o tema, como relata Deivison Campos. Segundo o pesquisador e professor de Jornalismo da Ulbra, a ideia é partir da literatura em direção a uma interrogação mais abrangente:
– Nosso objetivo é aumentar a produção e a circulação de autores que seguem à margem do mercado e, por outro lado, provocar um debate sobre a marginalização da cultura negra como um todo na sociedade.
Abordando a situação das autoras negras, a escritora e musicista Lilian Rose Marques da Rocha acrescenta que o sistema literário nega a elas o status de poder da literatura:
– Primeiramente, é difícil chegar às editoras. No momento em que se consegue publicar, existe a dificuldade de divulgar. Há todo um conhecimento, uma experiência e uma dedicação que muitas vezes não chegam às pessoas porque esses livros vão parar no fundo das livrarias.
Lilian destaca grandes nomes que alcançaram reconhecimento, como a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, a cubana Teresa Cárdenas e a brasileira Conceição Evaristo, mas lamenta que as autoras negras no Rio Grande do Sul ainda sejam desconhecidas mesmo em segmentos do âmbito acadêmico.