Editores, escritores e interessados em livros realizaram manifestação neste domingo (3), no Parque da Redenção, em Porto Alegre, contra alterações no programa Adote um Escritor, que apoia a leitura em escolas da rede municipal. O protesto, que ocorreu ao lado do Monumento ao Expedicionário, foi batizado como "Livraço".
– Nossa manifestação é para que o investimento no programa volte ao patamar de antes – afirmou o escritor Caio Riter, um dos organizadores do ato.
Criado em 2002, em parceria da Secretaria Municipal de Educação (Smed) com a Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), o Adote um Escritor seleciona obras recém-lançadas para aquisição e trabalho em salas de aula. As atividades são encerradas com visitas dos autores às escolas.
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Uma das principais críticas dos manifestantes foi sobre a redução no valor dos repasses da Smed para a compra de livros pelos colégios. Antes das alterações, anunciadas em julho, a quantia direcionada pela secretaria à aquisição de obras variava de R$ 4 mil a R$ 9 mil por instituição, conforme organizadores do ato.
Com a reformulação do programa, as compras de livros inicialmente ficariam suspensas. No entanto, os termos do acordo foram redefinidos no último dia 24, estabelecendo que a secretaria pagará a cada escola R$ 500 de cachê por encontro com autores participantes do programa, além de R$ 1,5 mil para a aquisição de obras ou transporte de estudantes à Feira do Livro.
– Antes de começarmos o movimento contra as alterações, o investimento em compras seria zero. O avanço que tivemos é fruto da mobilização. O Adote um Escritor já formou uma geração de leitores – disse a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL), presidente da Frente Parlamentar de Incentivo à Leitura, uma das organizadoras do ato na Redenção.
Vice-presidente da Associação Gaúcha de Escritores (Ages), Antônio Schimeneck também criticou a remodelação do projeto de incentivo à leitura e defendeu o movimento contra as alterações:
– No fim do mês passado, tivemos a notícia de que a secretaria poderá investir cerca de R$ 1 mil na compra de livros. É pouco. A valorização dos escritores vem das vendas. É interessante ver a manifestação contra as mudanças.
"Queremos manter a ideia original do programa", diz secretário
O secretário municipal de Educação, Adriano Naves de Brito, avalia que a remodelação foi necessária em um momento de limitação orçamentária, para manter o foco do programa somente nos estudantes.
– Antes, o Adote um Escritor dava cartões para a compra de livros para professores, por exemplo. Embora a iniciativa seja louvável, é preciso fazer escolhas neste momento. Queremos manter a ideia original do programa: o encontro do aluno com o autor – comenta.
A secretaria afirma que, entre 2005 e 2016, investiu cerca de R$ 8 milhões no Adote um Escritor, sendo em torno de R$ 6,5 milhões para a compra de livros. Segundo Brito, por conta da remodelação, o orçamento do programa é de R$ 214 mil neste ano.