Em meio às atrocidades de Auschwitz durante a II Guerra, uma menina de 14 anos cuidava de uma pequena coleção de livros em um bloco onde funcionava uma escola informal. Dita Adlerova ajudou a manter a leitura viva apesar do ambiente nada acolhedor, e seus relatos serviram de base para o livro A bibliotecária de Auschwitz, do jornalista espanhol Antonio G. Iturbe, que, neste sábado, esteve na Feira do Livro de Porto Alegre para um painel e uma sessão de autógrafos.
Para Iturbe, os livros são canais de libertação, meio pelo qual as pessoas expressam suas ideias e nos fazem pensar. O autor lembra que diversos ditadores tentaram cortar essa liberdade, proibindo livros e perseguindo alguns escritores.
– Pensamos que as ditaduras são isoladas, mas também corremos o risco de outra ditadura perigosa agora, a do consumismo. O mundo capitalista não quer que sejamos cidadãos, mas consumidores. O livro tem papel importante em nos lembrar que o importante é o que somos, não o que temos. Neste caso, os livros não podiam matar os nazistas, mas abriam pequenas janelas para a emoção, para o sonho – avalia.
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O escritor se considera uma pessoa que "vive pelos livros". No entanto, pondera que é preciso ter cuidado com o pensamento de que a literatura tem o poder de mudar as pessoas:
– Hitler era um grande leitor, Stálin era um grande leitor, pessoas horríveis eram grandes leitores. Livros não são mágicos, mas são uma ferramenta. Com um machado, a pessoa pode cortar lenha para esquentar a família ou matar alguém. O livro também é assim.
Iturbe contou ainda que uma das coisas que mais chamou sua atenção foi que, mesmo com o medo e o terror, a vida daquelas pessoas de alguma forma continuava fluindo. Para o autor, é curioso imaginar que havia momentos de conversas e até um pouco de humor. Dita, por exemplo, tinha um namorado na escola, com 13 anos, e o local do seu primeiro beijo foi no Cemitério Judeu de Praga.
– É uma história sobre resistência das crianças e como elas conseguem manter o fio do cotidiano. Elas são muito resistentes porque têm uma flexibilidade tremenda. Converteram o lugar mais triste possível, um cemitério, em um lugar cheio de vida – declara.