Essa é uma coluna de despedida.
Escrevo com o coração pequeninho de emoção, certa de que não houve mais bela homenagem do que essa que a Câmara Rio-Grandense do Livro e meus pares de letras me prestaram. Nunca houve. Assim, resolvi dizer adeus falando sobre um constante personagem da Praça da Alfândega.
O Moishe é um cão golden retrivier de 15 anos, uns 40 quilos, e que tem as patas traseiras muito fraquinhas. Porque também lhe pesa a idade, é capaz de dar alguns passos, mas logo tomba ou senta. Sua dona, a professora da UFRGS Marília Levacov, fez um carrinho para ele. Uma plataforma de madeira que deve ter uns três por dois metros, estrutura sustentada por quatro rodas e puxada por uma haste de ferro. Assim, Marília leva Moishe a passear, ele sentado comodamente sobre o carrinho, os dois escoltados por Sépia, a outra golden da casa, cachorra jovem e simpática feito um sol. Lá pelas tantas, Marília ajuda Moishe a descer do carrinho para fazer xixi e cocô. Ele custa um tanto a se equilibrar, mas dá seus três ou quatro passos: faz o que tem que fazer e é colocado de volta no seu meio de transporte. Crianças e adultos cercam Moishe, que, com paciência canina, retribui com um dócil olhar os carinhos que recebe. Daí, Marília acha que é hora de ir adiante e puxa o carrinho pelas alamedas da Praça.
Marília e seu Moishe são, para mim, o que é a Feira e o que somos nós, aqueles que nos dedicamos aos livros e à literatura. Por mais que nos sintamos fracos e combalidos, logo vem o amor – e damos adiante nossos três ou quatro necessários passos. Sempre adiante.
Obrigada por tudo, amada Feira do Livro de Porto Alegre.