Enquanto a cultura local ainda busca formas de contornar os danos causados pela enchente a importantes espaços de apresentação, Porto Alegre ganhará um novo teatro em 2025. O espaço será localizado na Rua Fernando Machado, no Centro Histórico, e deve ter as portas abertas no segundo semestre.
O projeto é encabeçado pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (SindBancários), que já administra o CineBancários, tradicional cinema da Rua General Câmara, e pela Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS), proprietária do prédio que sediará o equipamento cultural.
O investimento estimado é de R$ 4 milhões. A verba sairá dos cofres das entidades de classe, sem aporte de recursos públicos, conforme informado pelos sindicatos.
O local será batizado como Teatro Bancários RS — Sala Multicultural. Sua principal característica deve ser o formato escolhido para a estrutura, ainda inédito em Porto Alegre. Trata-se de um teatro transformável, capaz de se adaptar a seis diferentes configurações de palco e plateia — teatro de arena, frontalista e de três lados, auditório, shoebox concerto e shoebox artes cênicas.
O projeto é assinado por Voltaire Danckwardt, arquiteto que tem vasta trajetória no meio das artes cênicas. Segundo ele, a ideia é que o novo espaço possa abrigar tipos distintos de espetáculos, adaptando-se às necessidades de cada um.
— Um teatro se define pela relação que estabelece entre o palco e a plateia. Via de regra, os locais optam por uma única possibilidade de relação, estabelecendo-se como teatros de arena, teatros frontalistas ou outro tipo, e os espetáculos precisam se adaptar a isso. Neste novo espaço, queremos que o formato se adapte aos espetáculos, não o contrário — explica Danckwardt.
O arquiteto detalha que o local terá estruturas que poderão ser facilmente movimentadas e ajustadas conforme a configuração demandada pelos espetáculos. Para isso, contará com um palco móvel, passível de estar em qualquer ponto da sala, e uma arquibancada retrátil, com um mecanismo que permitirá estendê-la sobre o espaço ou escondê-la totalmente em uma espécie de armário.
A capacidade do novo teatro será para até 330 pessoas, número que terá variação de acordo com o formato.
— O processo de transformação da sala será muito rápido, de modo que poderemos receber espetáculos de diferentes formatos em um mesmo dia. Poderemos ter uma palestra para centenas de pessoas pela manhã, com formato de auditório; um concerto à tarde, em formato frontalista; e uma montagem intimista à noite, em formato de arena, por exemplo. Serão muitas possibilidades — explica o arquiteto.
Conforme Danckwardt, as obras devem ser iniciadas na virada do ano. O arquiteto diz que o projeto contempla também a questão acústica, que deve fazer do espaço um excelente palco para música, e a aquisição de equipamentos modernos de som e iluminação cênica. Um projetor também possibilitará que seja usado como sala de cinema.
Palco para a cultura sul-americana
Gestor cultural do novo espaço, Vitor Ortiz destaca a importância que o Teatro Bancários terá para o setor artístico do Estado. Segundo ele, a oferta de locais para receber espetáculos é desproporcional em relação à demanda da produção local, sempre muito aquecida.
— Será um palco para diferentes manifestações artísticas, podendo receber teatro, dança, circo, música e audiovisual. Queremos que o espaço esteja integrado à cena cultural local, que possa receber festivais tradicionais da cidade, como o Porto Alegre em Cena, o Porto Verão Alegre e o Palco Giratório, além de contar com uma programação própria de muita qualidade — projeta Ortiz.
A curadoria deve privilegiar espetáculos de companhias locais e de países da América do Sul, conforme Ortiz. A intenção é que o Teatro Bancários transforme-se no palco da cultura sul-americana em Porto Alegre. Tanto que a inauguração, no segundo semestre de 2025, será marcada também pelo início do Festival Teatro dos Bancários — Cena Sul-Americana, projetado para virar a marca registrada do novo espaço cultural.
O projeto para a primeira edição do evento já tem recursos aprovados na Lei Rouanet e a programação já está sendo pensada, conforme Ortiz. Mais detalhes devem ser anunciados na terça-feira (3), a partir das 18h30min, quando o projeto do Teatro Bancários será lançado oficialmente pelo SindBancários e pela Fetrafi-RS, em evento para a comunidade cultural que contará com apresentação de Katia Suman e uma versão pocket com cerca de 20 minutos do show Tãn Tãngo, de Hique Gomez e Dunia Elias.
O evento servirá para apresentar os detalhes do futuro espaço. Conforme Juberlei Bacelo, diretor de comunicação da Fetrafi-RS, o local que sediará o novo teatro, no número 820 da Rua Fernando Machado, vinha sendo subutilizado pela federação. Era um sonho antigo das entidades de classe do setor financeiro transformá-lo em um equipamento que fizesse diferença na cena cultural da cidade.
Na visão dele, o anúncio se torna ainda mais relevante após a enchente, que atingiu teatros públicos e causou danos também às companhias de arte. Ele espera que a notícia soe como um alento à classe artística da cidade.
— Depois de tudo o que passamos em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, estamos precisando de perspectivas positivas. É de uma alegria enorme conseguir colocar à disposição da cidade um espaço com essa qualidade, justamente em um momento de reconstrução física e emocional. É a realização de um sonho antigo, que se torna ainda mais especial neste contexto — reflete Bacelo.