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Nesta segunda-feira (9), serão completados dois anos desde que foi dado o possível primeiro passo para a revitalização do Teatro do IPE, em Porto Alegre. Foi quando a Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac) assumiu a gestão do espaço, visando a uma reforma.
Desde então, o projeto ficou apenas na fase de elaboração. Porém, a pasta espera avançar na contratação das obras neste primeiro semestre.
Fechado desde meados dos anos 2000, o Teatro do IPE é emblemático para a cena cultural gaúcha. Pelo seu palco passaram espetáculos como Bailei na Curva, Se Meu Ponto G Falasse, Rádio Esmeralda e A Verdadeira História de Édipo Rei, além de terem surgido lá personagens como o Guri de Uruguaiana. Foi uma referência para companhias e artistas em busca de projeção.
Problemas de infraestrutura
Localizado na região central de Porto Alegre, o Teatro do IPE foi inaugurado em 1981, marcando a comemoração dos 50 anos do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPE). Com capacidade para 200 lugares, o espaço destinado a espetáculos ocupa um prédio anexo à sede da organização, hoje dividida em duas autarquias: IPE Saúde e IPE Prev. Ambas eram responsáveis pelo local, que havia sido aberto em 1972 como Auditório do IPERGS.
A partir dos anos 1980, quando o auditório virou teatro, passou a abrigar espetáculos, shows e palestras. Contudo, passou a se deteriorar com o tempo. As atrações foram minguando até deixarem de ser realizadas. A agenda cultural de Zero Hora registrou espetáculos lá até dezembro de 2007.
Questionado sobre o fechamento do teatro, o IPE Prev afirma, em nota: "Ao que parece, isso se deu dentro de uma conjuntura englobando as reestruturações administrativas mais focadas na prestação dos serviços diretamente relacionados à finalidade dos atuais institutos: prover assistência à saúde e à previdência aos servidores públicos do Estado e de seus dependentes".
Conforme Thiago Dapper, diretor administrativo financeiro do IPE Saúde, não houve ato ou comunicado formal de fechamento do teatro. Foi algo gradativo.
— Está fechado há algum tempo por questões de infraestrutura — relata Dapper. — O teatro precisa ser atualizado por dentro. Não tem camarim, por exemplo. Há defasagem estrutural, algumas infiltrações, mas o principal problema é a acessibilidade. Só tem escadas. São questões vitais para reabri-lo.
Dapper acrescenta que, durante anos, gestores tentaram buscar uma solução, seja uma parceria público-privada (PPP), seja uma cedência do teatro, mas não houve sucesso até dois anos atrás.
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Revitalização da região
Em 9 de fevereiro de 2023, foi assinado o Termo de Cessão de Uso do Teatro IPE, que passou à Sedac a gestão das atividades culturais a serem desenvolvidas no imóvel até 2043. Tanto o IPE Saúde quanto o IPE Prev entendiam que a secretaria teria uma melhor expertise para trabalhar com o teatro.
Para a secretária da Cultura, Beatriz Araujo, o espaço é adequado para fomentar a cena cultural não só de Porto Alegre e arredores, mas também do Interior. Ela frisa que a motivação para assumir o espaço se solidificou quando a pasta obteve recursos — a obra será financiada pelo Tesouro estadual.
— Com a revitalização da região toda, como a Orla, o teatro passa a ser um ativo muito importante, que precisa ser fortalecido para agregar como equipamento cultural — argumenta Beatriz. — Na hora em que percebi que tinha possibilidade de investir, buscamos o espaço.
Investimento de R$ 16 milhões
Beatriz conta que, após a assinatura da cessão, a Sedac elaborou um estudo sobre o local com a Secretaria de Obras Públicas (SOP), prevendo a recuperação das estruturas e a manutenção de alguns elementos que constam no prédio — como a arquitetura brutalista, que representa a época de sua construção.
— Quando estávamos finalizado esse projeto preliminar, fizemos uma reunião que incluiu Newton Burmeister, arquiteto que projetou aquele auditório. Precisávamos ouvir a opinião dele diante das alterações e ampliações que estávamos propondo. Burmeister fez algumas considerações e retrocedemos em alguns itens que ele considerou. Tudo isso levou esse tempo — justifica a secretária.
No meio desse processo, a enchente atingiu o andar inferior do prédio, que funcionava como arquivo do IPE. O local ficou submerso por mais de um mês. Em relação ao restante da estrutura, Beatriz classifica o local como "defasado" e "envelhecido", como uma casa que há muito tempo não é aberta.
A estimativa de investimento para a obra é de R$ 16 milhões. De acordo com Beatriz, o projeto preliminar está pronto, e a licitação deve ser publicada até abril.
— Se tudo der certo, sem contestação de empresa ou licitação deserta (sem propostas), conseguimos contratar ainda no primeiro semestre. Nossa expectativa é entregar até o final do governo, não importa que seja em dezembro de 2026. Minha meta é essa, mas não posso garantir — diz.
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Gestão do teatro
O projeto do novo Teatro do IPE, diz Beatriz, prevê atualizações como acessibilidade e plano de prevenção e combate a incêndios (PPCI). As cadeiras devem ser trocadas para assentos mais confortáveis, e o hall de entrada será ampliado, possibilitando que tenha um café.
O projeto também prevê ampliação dos banheiros e recuperação das estruturas deterioradas pelo tempo. A parte elétrica do prédio será toda refeita, como pontua a secretária.
— Como era um auditório, o teatro era bastante precário no que diz respeito aos camarins. Agora, estamos inserindo — afirma. — Na parte de baixo, vamos colocar um setor administrativo, que não tinha. É muito carente de coisas que antes não eram pensadas.
Possivelmente, a ocupação ocorrerá por meio de editais, como no Teatro Oficina Olga Reverbel e outros órgãos da Sedac. Contudo, Beatriz observa que a forma de gestão do Teatro do IPE está fora de seu horizonte neste momento. Até porque a obra pode ser concluída só no final do mandato.
— Temos que encontrar meios de fazer a gestão mais adequada. Pode acontecer uma parceria. Mas não quero deixar heranças que possam ser ruins para governos futuros. Quero entregar todos os equipamentos recuperados e atualizados, oferecendo boas condições — conclui a secretária.
Depoimentos de artistas
Pelo palco do Teatro do IPE passaram espetáculos históricos do teatro gaúcho. Bailei da Curva, por exemplo, estreou em 1º de outubro de 1983. Foi também local para o surgimento do popular Guri de Uruguaiana, personagem de Jair Kobe.
A seguir, leia depoimentos de artistas sobre o Teatro do IPE.
Julio Conte
Diretor e dramaturgo, coautor de Bailei na Curva
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"O Teatro do IPE tem um caráter sentimental e muito importante na minha vida, pois foi onde estreamos o Bailei na Curva. Foi onde começou toda a trajetória. Fizemos temporadas no Teatro do IPE até 1985. Foi um momento muito importante, porque o Bailei entrou para a história do teatro de Porto Alegre.
Uma das coisas que contribuíram foi que, como o teatro não tinha programação, a gente ficava dois ou três meses em cartaz. Saímos, voltávamos e ficávamos mais dois meses. Íamos para o Theatro São Pedro, fazíamos uma temporada e voltávamos para o Teatro do IPE. Há uma relação muito intrínseca, crucial e emocional do Bailei com o Teatro do IPE.
Hoje, quando passo em frente ao teatro, penso: 'Pô, tinha fazer alguma coisa nesse teatro, porque é um teatro bonito, interessante, não é difícil de estacionar, é um lugar legal, o palco é agradável, o ambiente é acolhedor'. Sempre me dá um misto de nostalgia e tristeza ao ver o jeito que o teatro ficou."
Jair Kobe
Humorista e músico, criador do Guri de Uruguaiana
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"Minha relação com esse espaço é a mais especial de todas, pois foi onde estreei no teatro. Foi em outubro de 2001, com o espetáculo Seriamente Cômico. Estava me lançando ao teatro e ao humor, antes só tinha uma experiência de shows com a música (Kobe participou do histórico grupo Canto Livre).
As lembranças que tenho do Teatro do IPE são as melhores possíveis. Foi muito bom e importante para mim ter começado nesse teatro. Me deu as condições que eu precisava para minha estreia. O Guri de Uruguaiana surgiu ali. O espetáculo tinha vários personagens, entre eles o Guri. Ali começaram as versões do Canto Alegretense, ali começou tudo."
Deborah Finocchiaro
Atriz e diretora da Companhia de Solos & Bem Acompanhados
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"Retornar ao Teatro do IPE será de importância ímpar para a nossa comunidade. Um teatro que está fechado há mais de 10 anos, sucateado, abandonado. Abrigou tantos espetáculos históricos.
Com a Companhia de Solos & Bem Acompanhados, fizemos inúmeras apresentações lá. Entre elas, espetáculos infantis, logo que eu comecei a fazer teatro, há 40 anos. Fiz inúmeras temporadas da peça Pois É, Vizinha... e lá era um lugar que sempre lotava."