
A vitória histórica de Ainda Estou Aqui no Oscar 2025 como melhor filme internacional atesta, dentro da academia, um padrão recorrente: o cinema como instrumento de memória e resistência reverbera com força e o resultado é a estatueta dourada como símbolo de luta contra regimes autoritários. A Argentina, por exemplo, possui dois Oscars: em 1985 venceu com A História Oficial e em 2009, com O Segredos dos Seus Olhos, ambos filmes com temática sobre a ditadura que assolou o país de 1976 a 1983.
Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, traz uma abordagem mais subjetiva da ditadura, centrando-se em Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, que luta para que não se esqueça o que aconteceu ao seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, que foi torturado e morto. O filme mostra ainda as consequências emocionais da ditadura.
Ainda Estou Aqui, com este viés mais sensível sobre o que significa sobreviver a um regime de repressão, instiga um questionamento fundamental: como as marcas da ditadura ainda repercutem na nossa sociedade?
Walter Salles, com o filme, ajuda na preservação da memória e na construção de um debate para que essas histórias não sejam esquecidas, expondo os horrores de uma ditadura encerrada há 40 anos.

Com a vitória brasileira, a América Latina soma quatro estatuetas: a Argentina tem duas e o Chile possui uma com o filme Uma Mulher Fantástica (2017).
Com A História Oficial, de Luis Puenzo, os argentinos venceram o Oscar em 1985. O filme mostra a busca de uma mãe por respostas sobre a origem de sua filha adotiva, em um contexto de repressão e desaparecimentos forçados durante a ditadura argentina. A perspectiva feminina da obra é algo que também ressoa em Ainda Estou Aqui.
Em 2009, a segunda estatueta. O Segredos dos Seus Olhos, de Juan José Campanella, protagonizado pelo astro Ricardo Darín, faz uso do gênero policial e de uma atmosfera noir para contar a história de Benjamín Espósito (Darín) que depois de trabalhar a vida toda em um Tribunal Penal encara a aposentadoria. Sem esposa ou amigos decide escrever um romance baseado em um acontecimento pelo qual passou em seu tempo de investigador. Em 1974, ele foi encarregado de investigar um violento assassinato. O ano em que aconteceu o crime no filme reflete um dos períodos mais pesados da ditadura argentina. O departamento de justiça era composto por sujeitos perigosos, todos colocados pelos militares numa perseguição aos "comunistas". O assassinato simboliza a morte de milhares de pessoas causada pelo regime. Milhares desapareceram, muitas de forma gratuita, da mesma maneira que Ainda Estou Aqui retrata o desaparecimento de Rubens Paiva.
Além da América Latina, outras produções com temática sobre regimes autoritários levaram para casa o Oscar.
Outros filmes vencedores
Z - Grécia (1969)
O charme discreto da burguesia - França (1973)
O Tambor - Alemanha (1979)
O labirinto do Fauno* -Espanha (2006)
A vida dos outros - Alemanha (2006)
* Venceu o Oscar de Direção de Arte Artística, Maquiagem e Fotografia