O cinema brasileiro está em alta com a indicação do longa Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, a três categorias no Oscar 2025. Há 65 anos, porém, outra produção nacional competiu na categoria de melhor filme internacional — e saiu vencedora: Orfeu Negro, com o gaúcho Breno Mello como o protagonista Orfeu.
Dirigido pelo francês Marcel Camus, o filme de 1960 é baseado na obra Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. Na pele do personagem principal estava Breno Mello, porto-alegrense cuja trajetória singular o levou dos gramados do futebol, onde foi campeão gaúcho, em 1954, pelo Renner, ao glamour de Cannes e do Oscar.
Quem foi Breno Mello?
Breno Higino de Mello nasceu em Porto Alegre, em 1931. Antes de brilhar nas telas, porém, atuava como jogador de futebol.
A carreira do meia começou no São José, o Zequinha, da capital gaúcha. No entanto, foi no extinto Grêmio Esportivo Renner, a Máquina do 4º Distrito, que viveu seu momento mais marcante nas quatro linhas.
Ele estava no elenco conhecido como o "Papão de 54", que conquistou o Gauchão de 1954, considerada uma das maiores façanhas da história do futebol estadual, ao desbancar a hegemonia de Grêmio e Inter.
Após o título, Breno jogou no Santos, onde dividiu o campo com Pelé, e no Fluminense. Foi no Rio de Janeiro que a vida do gaúcho tomou um rumo inesperado.

Ida para o cinema
Em 1958, após um empate em partida de futebol, Breno voltava para casa quando foi abordado por José Leventhal, advogado de Marcel Camus, cineasta francês que buscava um ator para interpretar Orfeu, protagonista de Orfeu Negro.
Com a fisionomia perfeita para o papel, Breno superou mais de 300 candidatos, mesmo sem qualquer experiência no cinema. Ele fez história sendo o primeiro protagonista negro no audiovisual brasileiro.
Orfeu Negro
Baseado na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, Orfeu Negro foi filmado no Rio de Janeiro e trouxe uma estética inovadora ao combinar a tragédia grega com o cotidiano das favelas cariocas.
O longa contava a história de Orfeu, interpretado por Breno Mello, e Eurídice, que foi vivida pela atriz norte-americana Marpessa Dawn.

A obra ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1959 e o Oscar de melhor filme internacional em 1960. O prêmio, porém, foi para a França, que coproduzia o longa com Brasil e com a Itália.
Com trilha sonora de Tom Jobim e Luiz Bonfá, o longa também foi fundamental para popularizar a nascente Bossa Nova no exterior.
Depois das telas e dos campos
Apesar do sucesso do filme, Breno não conseguiu manter uma carreira no cinema, atuando em apenas mais cinco produções: Os Vencidos (1963), Rata de Puerto (1963), O Santo Módico (1964), O Negrinho do Pastoreio (1973) e Prisioneiro do Rio (1988).
Após deixar os gramados e as telas, Breno enfrentou dificuldades financeiras e viveu longe dos holofotes. Passou ainda por clubes menores, como o Água Verde (hoje Paraná Clube), e trabalhou como colunista e representante comercial em Novo Hamburgo.

Nos últimos anos, Breno viveu de forma discreta e simples no bairro Tristeza, em Porto Alegre. Faleceu em 2008, aos 76 anos, deixando cinco filhos e 12 netos.
Dois anos antes do falecimento, ele voltou a Cannes para assistir Em Busca de Orfeu Negro (2005), documentário sobre a obra que o imortalizou.
Sua última aparição nas telas, foi no documentário Papão de 54 (2005), que retratou a conquista do extinto clube de Porto Alegre do Campeonato Gaúcho quebrando a hegemonia da dupla Grêmio e Internacional.