"Você acreditará que o homem pode voar". Essa frase estampava o cartaz de Superman: O Filme, de 1978, prometendo uma experiência jamais vista no cinema. E cumpriu. Relatos da época contam que fãs ficaram extasiados. A produção foi um sucesso de crítica e de público, sendo uma referência para o cinema de super-heróis. Não foi o primeiro, mas foi pioneiro ao se levar a sério.
No Brasil, a produção estreou nos cinemas em 2 de abril de 1979. Agora retorna, remasterizada, para encantar os novos públicos e levar os veteranos de volta ao estado de fascinação de 45 anos atrás. O filme reestreou nos cinemas nesta quinta-feira (26) e ficará em cartaz por uma semana.
Na produção comandada pelo cineasta Richard Donner, o público acompanha a história de origem do Homem de Aço (Christopher Reeve), seus dias como Clark Kent, desde o emprego como jornalista até sua paixão por Lois Lane (Margot Kidder), e a luta contra o vilão Lex Luthor (Gene Hackman), que tem planos diabólicos. De brinde, ainda há a participação de Marlon Brando como Jor-El, o pai kryptoniano do herói.
O longa, que custou US$ 55 milhões — valor altíssimo para a época, equivalendo a cerca de US$ 255 milhões hoje — conseguiu obter excelente retorno financeiro, faturando aproximadamente US$ 300 milhões — US$ 1,4 bilhão, se ajustado pela inflação — nas bilheterias ao redor do mundo. Além disso, houve aclamação por parte da crítica, com a produção sendo indicada a três estatuetas do Oscar e levando um prêmio especial da Academia por seus efeitos especiais. Ou seja, um sucesso.
— O filme consegue condensar muito bem todos os elementos que tornam o Superman um personagem especial. O herói, na época, já tinha 40 anos de existência, e a narrativa consegue organizar muito bem todas as ideias em um roteiro conciso, coeso e extremamente objetivo — explica o jornalista Pedro Kobielski, fundador e comunicador do Muralha da Fonte, podcast focado no universo da DC Comics.
Referência
Os elementos citados por Kobielski, sendo os principais deles a esperança, a bondade e o otimismo, foram bem trabalhados pelo roteiro, pela direção, mas, principalmente, por Reeve, o protagonista da aventura. O ator quase desconhecido, que depois de Superman virou um astro, tornou-se um híbrido entre ser humano e super-herói, tamanho o entrelaçamento entre ele e seu personagem.
— O Christopher Reeve foi o ator que melhor conseguiu personificar as duas identidades de um super-herói, na versão humana e na versão heroica. Nunca mais no cinema alguém conseguiu um feito parecido, tamanho talento e identificação do ator com o personagem — afirma André Bozzetti, coordenador do projeto Clube das 5 e membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs).
A escolha pelo jovem ator, aos 26 anos na época, foi justamente para que o rosto fosse do Superman, não de alguém já famoso no meio — até Sylvester Stallone foi considerado, mas não ficou com o papel. Ainda bem. Reeve é reverenciado até hoje, e qualquer outra adaptação do herói é comparada à sua.
Ele interpretou Clark Kent por quatro filmes, que foram caindo de qualidade conforme iam sendo lançados — o último, Superman IV: Em Busca da Paz (1987) termina de maneira lamentável a saga do herói no cinema, mas não o suficiente para manchar o legado do astro que lhe deu vida.
Documentário sobre Christopher Reeve
Em 1995, Reeve sofreu um acidente de cavalo que o deixou tetraplégico, mudando o foco de sua carreira: passou a militar por pesquisas médicas como forma de ajudar aqueles que se encontram na mesma situação. A sua trajetória está sendo contada no documentário Super/Man: A História de Christopher Reeve, que chega aos cinemas nacionais em 17 de outubro. Pelos festivais em que passou, o filme emocionou plateias.
— O acidente apresentou para o público uma nova face do ator, a da pessoa Christopher Reeve, mostrando como ele podia fazer diferença para o mundo não só voando e protegendo a Terra de mísseis nucleares, mas também melhorando a vida de pessoas em dificuldade — complementa Bozzetti.
O Homem do Amanhã
— Não existiriam super-heróis da Marvel, da DC, nem nada, se não fosse o Superman. Ele é criado no final dos anos 1930, com os Estados Unidos se recuperando da Grande Depressão, como uma solução imediata para os problemas daquelas pessoas. Os quadrinhos, na época, eram uma mídia de fácil acesso, custando US$ 0,10. O Superman conversava com as classes mais humildes da sociedade norte-americana — aponta Kobielski.
O legado do Homem de Aço nos cinemas, após a saída de Reeve do papel, ao fim da quadrilogia, em 1987, nunca mais foi visto em sua plenitude. Pelo menos, é o que os fãs alegam. Em 2006, Brandon Routh vestiu a capa do herói, em uma interpretação interessante, mas em um filme abaixo das expectativas. Sete anos depois, foi a vez de Henry Cavill colocar o uniforme — com o qual ele ficaria por mais uns anos —, mas com críticas ainda mais pesadas, pela abordagem mais sombria dada pelo cineasta Zack Snyder. Também não funcionou.
Agora, James Gunn — diretor da trilogia Guardiões da Galáxia, na Marvel — assumiu como chefe da divisão de cinema da DC Comics e ele próprio vai comandar a próxima aventura do Azulão.
Superman chega aos cinemas norte-americanos em 11 de julho de 2025, com David Corenswet interpretando o herói. A ideia é resgatar o mesmo tom das aventuras protagonizadas por Reeve.
É o longa-metragem que deve abrir as portas para o novo universo cinematográfico da DC, visto que o antigo fracassou em sua tentativa de fazer frente a Marvel. Mais uma vez, o herói simboliza esperança.