Conhecido por ser a voz do Wolverine de Hugh Jackman no Brasil, o carioca Isaac Bardavid, quando faleceu em 2022, aos 90 anos, havia deixado este trabalho concluído — afinal, o ator australiano já havia se despedido do personagem cinco anos antes, em Logan (2017). Porém, dentro do universo da Marvel, nunca há uma despedida definitiva.
Desta forma, Jackman decidiu voltar a colocar as garras de fora em Deadpool & Wolverine, que chega aos cinemas nacionais na próxima quinta-feira (25) — com sessões de pré-estreia já na quarta (24). Assim, abriu-se uma dúvida dentro do mundo da dublagem BR: quem iria assumir o gogó do mutante mais famoso dos quadrinhos?
Eis que ganhou força, entre os fãs, o nome do gaúcho Luiz Feier Motta, que já havia emprestado a sua voz ao personagem nas animações X-Men: Evolution (2000-2003) e X-Men '97 (2024). De fato, foi o dublador de Caxias do Sul o escolhido pela Marvel e pela Disney para assumir o papel que foi de Bardavid.
O saudoso dublador, além de ter sido um grande parceiro de trabalho de Motta, tendo, inclusive, dirigido ele em filmes como Space Jam: O Jogo do Século (1996), em que o gaúcho deu voz ao astro do basquete Michael Jordan, também era um amigo próximo.
— Por isso, foi uma emoção muito grande ser escolhido para substituí-lo. Me senti gratificado. E eu sempre repito isso: estou homenageando, com o meu trabalho, o Isaac Bardavid, por todo o legado dele, como o Wolverine, dublando o Hugh Jackman — conta Motta.
Apesar de dedicar a dublagem ao amigo, o artista gaúcho conta que, para dar vida ao Wolverine, decidiu fazer um novo trabalho, diferente do anterior, tendo como referência o próprio Hugh Jackman — que ele já havia dublado em Van Helsing — O Caçador de Monstros (2004).
De acordo com Motta, esta nova abordagem dada à voz do Wolverine foi muito elogiada pelo diretor de dublagem do filme, Sérgio Cantú, bem como pelos executivos da Marvel e da Disney.
— Não posso falar muita coisa, porque tenho contrato de confidencialidade antes da estreia. Mas misturaram um pouco de comédia no filme e acho que essa mistura fechou todas, ficou muito boa. Acredito que vai ser um grande sucesso — adianta o dublador.
Motta já havia participado do Universo Cinematográfico Marvel (MCU na sigla em inglês), dentro da franquia Guardiões da Galáxia, fazendo a voz do personagem Stakar Ogord, interpretado por Sylvester Stallone — ator que o gaúcho dubla há mais de 30 anos. Como a trilogia de James Gunn já foi encerrada, corre pouquíssimo risco de ambos os personagens do dublador se encontrarem nas telonas.
Sobre o futuro de Wolverine no MCU, Motta esclarece que não pode entrar em detalhes — por mais que muitas pessoas peçam spoilers sobre o novo filme:
— Tenho um contrato de confidencialidade. Não posso falar nada antes da estreia. E, além disso, quando a gente dubla, nós não fazemos ideia do que está acontecendo. Dá para ter uma pequena noção, mas não conseguimos concluir efetivamente o que vai acontecer porque está muito separado. Só fazemos as nossas falas, não interagimos.
Logística complicada
Motta fez a primeira rodada de dublagens no comecinho de maio, antes de a enchente assolar o Rio Grande do Sul. Foram 12 horas de trabalho, divididas em dois dias, em São Paulo — o gaúcho tem um estúdio em casa, mas, pela grandiosidade do projeto e para evitar qualquer possibilidade de vazamento de spoilers, o artista precisou deixar o Estado.
No final de junho, Motta foi chamado para fazer mais uma sessão de dublagem, para pequenos ajustes, novamente em São Paulo. Surgiram, então, dificuldades de chegar até o local, por conta do fechamento do aeroporto Salgado Filho, voos cancelados em Caxias do Sul e a necessidade de fazer parte do trajeto de ônibus. Foi uma maratona — com um pouco de sorte — para conseguir finalizar o trabalho dentro do prazo estipulado. Mas deu tudo certo.
— A tragédia nos atingiu. E, em termos de locomoção, estamos contra a parede. Eu, por exemplo, não estou mais aceitando nada, porque não tem como sair daqui (de Caxias do Sul) — detalha Motta.
O dublador lamenta, inclusive, não ter podido ir conhecer Hugh Jackman pessoalmente:
— Me mandaram o convite para participar desse evento com os atores no Rio de Janeiro, mas eu não pude ir por falta de voos. Estava tudo lotado, tudo esgotado. Não pude ir, infelizmente.