A onda cor-de-rosa que se formou com o lançamento do filme Barbie não parece estar perto de passar. Duas semanas após a estreia nos cinemas, o longa de Greta Gerwig segue dominando as rodas de conversa, as vitrines das lojas e as discussões nas redes sociais, mostrando que o sucesso de bilheteria é também um verdadeiro fenômeno cultural. Algo que há tempos não se via na indústria cinematográfica.
Ao contrário do que acontece normalmente, Barbie foi exibido em mais salas de cinema nos Estados Unidos em sua segunda semana do que na primeira. No Google Trends, "barbie" segue entre os 20 termos mais pesquisados em todo o mundo e, nas redes sociais, qualquer pessoa que diz "não aguentar mais Barbie" é imediatamente rechaçada.
Alguns analistas mundo afora apontam que o sucesso de Barbie — juntamente com o de Oppenheimer, de Christopher Nolan, que estreou no mesmo dia — pode ser um ponto de virada na produção cinematográfica atual, que vem enfrentando uma crise.
— O grande debate atual é: como convencer uma pessoa a sair de casa e prestigiar um filme no cinema? — pontua Waldemar Dalenogare, crítico de cinema, professor da Boston University e membro da Critics Choice Association. — Recentemente, lançamentos que movimentaram o público a ponto de esgotar ingressos muito antes da estreia do filme estão sustentados em franquias já consolidadas, como filmes da Marvel. E mesmo assim, em alguns casos, existe uma falta de interesse do público, que poderia perfeitamente aguardar por um lançamento no streaming — acrescenta.
Mas como, afinal, Barbie conseguiu levar tanta gente ao cinema? A seguir, GZH reúne alguns motivos que explicam o sucesso do filme protagonizado por Margot Robbie.
Curiosidade e expectativa
O hype de Barbie começou cedo. Logo que o filme foi anunciado, em abril de 2022, começaram a viralizar memes mostrando adultos e homens "durões" pedindo "dois ingressos para Barbie, por favor" — o que já demonstrava a capacidade do filme de mobilizar um público diverso.
A expectativa era acompanhada de certa curiosidade: como se faz uma adaptação live-action de um brinquedo? Várias animações da Barbie foram produzidas ao longo dos anos, é verdade, mas nenhuma chegou a se tornar conhecida como a "história oficial" da boneca, a exemplo do que ocorre com outras franquias do cinema, como as do Homem-Aranha.
Além disso, a Barbie não é apenas "um brinquedo". Trata-se da boneca mais popular do mundo, tão amada por meninas quanto odiada por adultas. Nos últimos anos, as mulheres têm levantado uma série de críticas ao padrão de feminilidade estabelecido pela boneca — que, ainda que tenha assumido características mais diversas, majoritariamente é representada como uma mulher branca e magra.
Falar sobre a Barbie era um desafio e a Mattel sabia disso. Por isso, a empresa levou anos para produzir um filme sobre o brinquedo, após engavetar uma série de projetos. Ao fazê-lo, despertou mais ainda a curiosidade do público ao escalar Greta Gerwig, diretora premiada por seus filmes de teor feminista.
— Ao chamar uma profissional como Greta para direção e roteiro, Barbie se tornaria um filme que obviamente levaria em conta a experiência autoral dela. É a Barbie de Greta Gerwig — explica Dalenogare. — Quando existiu uma confiança a ponto de ver Barbie também como fenômeno cultural, o resultado foi impactante. O público, de forma espontânea, decide vestir rosa.
Conforme a ostensiva campanha de marketing da Warner ia sendo posta em prática, o longa ia ganhando contornos cult, o que gerava ainda mais burburinho. Basta lembrar das reações nas redes ao primeiro teaser lançado, que mostrava a cena inicial do longa, uma referência ao clássico 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Agora, Barbie não apenas seria um filme divertido, ou nostálgico, ou colorido. Seria também inteligente.
Abordagem sagaz
Outro ponto que favoreceu Barbie é que, ao estrear, o filme entregou o que prometia. Seja pelo texto de Gerwig, pelas atuações de Margot e Ryan Gosling ou pela produção visual, o longa despertou o interesse do público também por meio do boca-a-boca, tornando-se um filme-debate.
Ao apostar em um tom satírico, cômico e por vezes dramático, a diretora e o marido dela, Noah Baumbach (autor de História de um Casamento), construíram um roteiro original, cuja abordagem fugiu do teor infantil visto nas antigas animações da boneca, ao mesmo tempo em que encarou de frente críticas feitas à figura da Barbie e da própria Mattel.
A ousadia foi tanta que Margot Robbie, que foi uma das produtoras do longa, disse ao portal Screen Rant que ficou surpresa com o sinal verde da Mattel para que o longa saísse do papel.
— Quando li o roteiro pela primeira vez, pensei: "Nunca faremos este filme, e isso é uma pena, porque é um roteiro tão bom, mas a Mattel não concorda com isso" — confessou a atriz.
Para convencer os executivos, Margot fez uma aposta: comparou Barbie com Jurassic Park, de Steven Spielberg, argumentando que os estúdios podem, sim, fazer muito dinheiro com uma ideia ousada aliada a um diretor visionário.
Sucesso de bilheteria
Barbie tem quebrado recorde atrás de recorde e já é a maior estreia feminina da história dos Estados Unidos. Com US$ 155 milhões arrecadados nos primeiros três dias, o filme bateu os US$ 146 milhões de Super Mario Bros. — O Filme e deve deter a maior bilheteria do ano no país.
Ao que tudo indica, veremos nascer uma franquia da Mattel. A empresa já está produzindo 13 filmes inspirados em brinquedos, incluindo Hot Wheels, Polly Pocket — protagonizado por Lily Collins e dirigido por Lena Dunhan (outra diretora conhecida por sua abordagem feminista) e um sobre o personagem de TV Barney, com Daniel Kaluuya.
Uma sequência de Barbie não foi confirmada, mas nos bastidores da indústria, a possibilidade já é considerada quase certa. Enquanto isso, Greta Gerwig já declarou que "está fora".
— Até agora, isso é tudo que tenho a oferecer. Eu me sinto assim no final de todo filme, que eu nunca vou ter uma nova ideia e que tudo que eu gostaria de ter feito, eu fiz — disse, ao jornal The New York Times. — Eu não quero estragar o sonho de ninguém, mas para mim, no momento, tô fora — acrescentou.
*Produção: Mariana Barcellos