A grita do movimento feminista #MeToo ressoou em Cannes ainda antes de o festival de cinema começar. O motivo da celeuma foi o anúncio de que o ator francês Alain Delon será homenageado com uma Palma de Ouro honorária.
Na véspera da abertura, a organização da mostra de cinema foi informada de que uma delegação de mulheres americanas organizou um abaixo-assinado contra a entrega do prêmio. Em conversa com a imprensa na segunda-feira (13), o diretor artístico do festival, Thierry Frémaux, reagiu.
— Nós não estamos dando o Nobel da Paz a ele — disse, frisando a contribuição artística do ator.
O motivo da controvérsia é que Delon afirmou que já estapeou mulheres com quem teve relações no passado. Ele também se opõe à adoção de crianças por casais do mesmo sexo e é entusiasta da plataforma política do direitista Jean-Marie Le Pen, seu amigo.
— Ele é livre para ter as opiniões que quiser, ainda que eu não concorde com elas — acrescentou Frémaux, que alfinetou os Estados Unidos quando soube que o abaixo-assinado era encampado por americanas. Ele sugeriu, então, que se fizessem petições contra o aquecimento global naquele país, já que Donald Trump é cético quanto ao assunto.
Aos 83 anos, Alain Delon é um dos rostos mais conhecidos do cinema europeu. Nos anos 1960 atuou em O Leopardo e Rocco e Seus Irmãos, as duas obras mais conhecidas do italiano Luchino Visconti, e em O Samurai, de Jean-Pierre Melville. Com o passar do tempo, ele seguiu a mesma tendência que sua conterrânea - e contemporânea - colega Brigitte Bardot e passou a adotar visões políticas cada vez mais à direita.
Embora tenha sido palco, no ano passado, de uma marcha de mulheres no tapete vermelho e embora tenha assinado um acordo se comprometendo à paridade de gêneros, o Festival de Cannes é criticado por movimentos feministas, que questionam a pouca presença de diretoras mulheres na corrida pela Palma de Ouro.
Dentre os os 21 concorrentes ao prêmio, que incluem Quentin Tarantino e o pernambucano Kleber Mendonça Filho, só quatro são diretoras mulheres. São elas a austríaca Jessica Hausner, pelo drama de ficção científica Little Joe; e as francesas Céline Sciamma, do filme de época Portrait of a Lady on Fire, e Justine Triet, da comédia Sibyl. Já a franco-senegalesa Mati Diop concorre pelo drama migratório Atlantique.