Falar sobre depressão não é fácil. Englobar um dos maiores males do século 21 dentro de um desenho animado para crianças é mais complexo ainda. Esta é a proposta de O Parque dos Sonhos, produção que já pode ser vista na Capital em sessões de pré-estreia.
A trama tem como protagonista June, menina sonhadora que descobre, escondido em uma floresta, um parque de diversões chamado Wonderland, habitado por animais falantes. Caótico e desorganizado, o local vai precisar da atenção especial de June e de seu grande poder de imaginação para se tornar outra vez um refúgio mágico.
O Parque dos Sonhos é dirigido por David Feiss, criador da série animada A Vaca e o Frango.
Na versão em inglês, os personagens são dublados por, entre outros, Mila Kunis, Jennifer Garner e Matthew Broderick. Nas cópias do circuito nacional, as vozes em português são de atores como Lucas Veloso, conhecido por trabalhos em novelas como Velho Chico e por encarnar Didico na nova versão do humorístico Os Trapalhões. Em entrevista a GaúchaZH, Veloso fala sobre o trabalho de emprestar a voz ao castor Gus e sobre seus novos projetos.
Qual é a principal temática do desenho O Parque dos Sonhos?
O roteiro trata da temática da depressão em uma menina. Isso mostra que a doença não tem idade para chegar. É possível acontecer com qualquer um. A June tem esse parque dos sonhos no coração. O longa mostra de um jeito poético como recuperar a luz que tem nessa criança.
Para dublar o personagem Gus, que tipo de preparação foi necessária?
Não me preparei (risos). Não vimos nada antes de entrar no estúdio. Apenas li a sinopse, e trabalhamos sem ver as cenas e o texto previamente. Confiei cegamente na direção de Wendel Bezerra, um dos maiores nomes da dublagem brasileira. Entramos no estado de espírito do Gus e funcionou bem. É complicado escutar em inglês e ter de falar em português na sequência, mas foi um bom trabalho.
Qual foi a inspiração para construir a voz do personagem?
O Gus é da zeladoria do parque, conserta coisas, briga com o Cooper (outro castor na trama), mas estão o tempo todo fazendo as pazes e se ajudando. Não teve inspiração prévia, e a voz apareceu. Algo curioso é que não lembro a voz que fiz, hoje não consigo me imitar (risos). Se tivesse que regravar, teria de fazer tudo de novo – ver o filme e tentar repetir. Essa desconstrução do Lucas para entrar no Gus foi o que me deu de presente a voz dele. O personagem em si ajuda: é forte, rapidinho, não é dramático, tem uma nota acelerada. Me identifiquei muito. Apesar de atrapalhado, é organizado.
Participação no quadro Dança dos Famosos, atuação na novela Velho Chico e, agora, dublagem. O que mais você tem pela frente?
Eu me preocupo em construir uma carreira. É importante pagar os boletos, mas procuro passar uma mensagem com o que faço. É algo além do glamour, e acredito que tenho conseguido fazer isso. Comecei a pisar no cinema, que é um dos meus objetivos de vida. Quero fazer comédia na telona. Tenho muita vontade e sigo para onde Deus me levar: se for para apresentar um telejornal com nariz de palhaço, vou fazer isso (risos).
Como foi trabalhar no projeto Os Trapalhões, em 2017, em homenagem aos 40 anos da trupe? A nostalgia não atrapalhou na hora de atuar?
Como fiz o Didico, as pessoas tinham que entender que não era o Didi em cena. A única coisa que eu negociei com a direção foi utilizar a voz dele, para causar alusão, dar saudades e esse ar nostálgico. Não sei como o público mais velho se comportou, mas a galera mais jovem curtiu. Funcionou bem. Participar de Os Trapalhões foi a realização de um sonho por eu ser filho de humorista. Eu cresci vendo eles, assim como Escolinha do Professor Raimundo, Jô Soares e outros programas do gênero. Foi como tomar cerveja com Thor e Odin no Olimpo.
O que seu pai, o humorista Shaolin (1971-2016), lhe deixou como ensinamento de vida? Tanto como humorista como pai, ele legou vários ensinamentos. No humor, ficou a referência de atuação. Ele era muito sábio e lia muito, frisava o pé no chão em tudo o que fazia. Era um cara de raiz. Não importava quantos teatros lotava, o nível de fama dele, mas sempre que tinha uma folga ele voltava para Campina Grande, na Paraíba, e ia para o mesmo bar com os amigos. Ele contava as mesmas piadas e se divertia muito. Essa coisa Hollywood não entra na minha cabeça. Devo isso a ele.