O escritor Charles Dickens sabia das coisas: histórias sobre crianças órfãs têm um gigantesco potencial de comover o público. O tema, porém, é caborteiro: a mesma vocação para fazer as lágrimas jorrarem também pode afogar o juízo crítico e reduzir a experiência de ler um livro ou ver um filme a mera catarse de emoções. Nesta semana, entraram em cartaz na Capital dois títulos que conseguem desviar desse estelionato narrativo – coincidentemente, ambos na disputa do Oscar: a animação Minha Vida de Abobrinha e o drama Lion – Uma Jornada para Casa. Em sua estreia no longa-metragem de ficção, o diretor Garth Davis arriscou embrenhar-se na duvidosa senda do cinema de bons sentimentos adaptando o relato autobiográfico escrito pelo indiano-australiano Saroo Brierley – o livro foi publicado no Brasil pela editora Record. Saiu-se bem: indicado a seis estatuetas douradas, incluindo a de melhor filme, Lion abre mão de anabolizar a naturalmente já tocante trajetória do garotinho pobre que se perde da família no interior da Índia e acaba adotado por um casal da Austrália.
Duas vidas
Com seis indicações ao Oscar, "Lion" conta história real e comovente na medida certa
Filme estreou nos cinemas de Porto Alegre na última quinta-feira
Roger Lerina
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