Uma audiência na Câmara dos Deputados realizada na quarta-feira (18) para debater duas mostras de arte envoltas em polêmica sobre moral e limites da liberdade de expressão — a Queermuseu, cancelada em Porto Alegre, e a exposição do MAM que trouxe a interação de uma criança com um artista nu — virou um reflexo do que ocorreu na internet, resultando em discussão e xingamentos pessoais.
A proposta da audiência era ouvir o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, a respeito das exposições realizadas com incentivo da Lei Rouanet. A sessão, porém, transformou-se em um debate acalorado que opôs Leitão, deputados "a favor da família" e Glauber Braga (PSOL-RJ), única voz que se manifestou contrária à censura das exposições.
Um dos pontos críticos da audiência foi uma discussão entre Givaldo Carimbão (PHS-AL), deputado que se apresentou como católico, e Leitão. O ministro se exaltou quando Carimbão o questionou sobre a hipótese de sua mãe ser retratada em obras como a exposição Queermuseu fez com Virgem Maria, imagem satirizada e sexualizada, como uma em que ela aparecia acalentando um macaco. Segundo Leitão, o debutado "baixou o nível e ofendeu diretamente" sua falecida mãe.
Com plateia dominada pela ala conservadora da Câmara, a sessão foi encerrada após o debate polêmico. Debutados questionaram a falta de uma condenação enfática do Ministério da Cultura às mostras e chegaram a levantar cartazes com imagens das exposições fazendo referências às obras como "pornografia travestida de cultura".
Braga e o delegado Eder Mauro (PSD-PA) discutiram em voz alta e tiveram de ser apartados por seguranças. Ambos trocaram provações por quase cinco minutos, até que Alberto Fraga (DEM-DF), que presidia a audiência pública, teve de intervir para que a sessão continuasse.
Laerte Bessa (PR-DF) argumentou que "a Constituição não fala em pornografia", Leitão afirmou que "a liberdade de criação, expressão e manifestação" são direitos resguardados pela Constituição e Braga questionou o desejo dos colegas, ironizando se o que eles querem é uma comissão avaliadora de projetos com Silas Malafaia e Feliciano.
Entre os nomes participantes da plateia estavam Marco Feliciano (PSC-SP), João Campos (PRB-GO) e Rozangela Justino, psicóloga que ficou conhecida por defender a "cura gay".