Uma relíquia está guardada no Museu Municipal Professor Laurindo Vier, em Santa Maria do Herval – cidade localizada na encosta da serra gaúcha, a 65 km da Capital. É o Memorial da Arquitetura Germânica, um conjunto de réplicas em miniatura de antigos prédios históricos da colonização alemã no Rio Grande do Sul, que teve início em 1824.
O acervo inclui a maquete do próprio prédio que abriga o museu, uma casa construída em 1910 por Adam Vier, no estilo enxaimel (técnica que utiliza uma estrutura de madeiras encaixadas com os vãos preenchidos por pedras, tijolos ou taipas). Originalmente, era um salão de baile.
— A minha avó Loiva, hoje com 84 anos, caminhava 10 quilômetros para vir dançar aqui. Andava com os calçados nas mãos para que estivessem limpos na hora de entrar no salão — conta Lucas Molling, assessor da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de Santa Maria do Herval, órgão responsável pelo museu.
Algumas curiosidades rondam o antigo casarão. Justino Antônio Vier, primeiro prefeito de Dois Irmãos, nasceu ali. Em 1928, Jacob Vier entregou a propriedade ao cunhado Felipe Vier em troca do moinho situado junto ao rio Cadeia. Nos anos 1930, após o falecimento de Felipe, a viúva se mudou com os filhos para Porto União, em Santa Catarina. Apenas um deles, Laurindo (professor que chegou a ser vereador por Dois Irmãos), permaneceu no sobrado, que foi repassado depois à Sociedade União Hervalense e ainda alojou pontos de comércio e pequenas fábricas calçadistas ao longo das décadas posteriores.
Em 1997, a edificação foi adquirida pela prefeitura e se transformou em museu. A maior parte das peças expostas, como ferramentas e utensílios de carpintaria, cerâmica e costura, que integraram o cotidiano dos imigrantes alemães, foi doada pela comunidade durante uma gincana. Mas a principal atração é a coleção de miniaturas de antigos prédios da Rota Romântica — região composta por 14 cidades, que se estende da planície do Vale do Sinos ao planalto da serra gaúcha.
— Só 5% das construções ainda estão de pé. O foco foi resgatar o que se perdeu — explica o criador das maquetes, Iteno Gressler da Silva, de 70 anos, natural de Santa Maria do Herval, hoje morando em Campo Bom.
Autodidata, Silva não tem formação artística, tendo trabalhado a vida toda na indústria calçadista — seu último emprego antes de se aposentar foi o de revisor de calçados (encarregado de acompanhar o processo de fabricação) em uma multinacional do Vale do Sinos. Entre as 82 construções representadas no museu, estão o Hospital Elizabet (1893) e a Sociedade Schützen-Club (1897), ambos de São Leopoldo, além da primeira fábrica de chapéus (1897) do município.
Outro destaque é a Cervejaria Ruschel (1893), de Feliz, a segunda da região — em 1953, passou a se chamar Polka Bier e hoje pertence à Ambev. De Novo Hamburgo, além do Cinema Central (1913), há o Salão de Bailes (1900) e a Biblioteca Pública (1932). Cabe citar, ainda, a primeira escola de Campo Bom (atual Colégio Sinodal Tiradentes, de 1828) e a Pousada Huff, a primeira de Gramado (1924).
Oitavo distrito de São Leopoldo até a emancipação, em 1988, Santa Maria do Herval, que atualmente possui cerca de 6 mil habitantes, ficou conhecida como os “fundos da colônia”. Também era chamada de Teewald (expressão em alemão que significa “floresta de chás”), por causa da erva-mate cultivada em meio às lavouras. Silva ainda produziu outras 55 réplicas da colonização alemã (nenhuma repetida, como faz questão de ressaltar), que estão abrigadas no Parque Aldeia do Imigrante, em Nova Petrópolis.