O nosso leitor Carlos Osvaldo Brugali fez questão de levar até a redação de Zero Hora uma carta endereçada a mim, com a ressalva “em mãos”, e entregue com a recomendação de urgente. Ao abrir o envelope, não foi difícil entender a pressa, pois era uma linda mensagem relativa ao Dia das Mães, que se aproximava.
Sob o título Retrato de Mãe, o texto que ele trouxe é atribuído a dom Ramón Angel Jara, bispo de La Serena (Chile), capital da Região de Coquimbo e que fica 340 quilômetros ao norte de Santiago. Fundada em 1544, é a segunda cidade mais antiga do país, atrás somente de Santiago.
Ramón Ángel Jara (1852-1917) nasceu na capital chilena e foi um personagem importante em seu tempo. Cursou Direito na Universidade do Chile e foi ordenado sacerdote em 1875. Foi administrador apostólico da diocese de Valparaiso de 1894 a 1898, ano em que foi nomeado bispo de Ancud. Em 1909, foi nomeado bispo de La Serena, onde faleceu. Dom Ramón Angel Jara é reconhecido como orador brilhante, e uma de suas obras mais aclamadas e populares é exatamente este poema que publicamos em homenagem a todas as mães. A tradução é de Guilherme de Almeida (1890-1969), advogado, jornalista, poeta, ensaísta e tradutor, que foi eleito, em 1930, para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira 15. Obrigado, Brugali.
Retrato de Mãe
"UMA simples mulher existe que, pela imensidão do seu amor, tem um pouco de Deus; e pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo; que sendo moça, pensa como uma anciã e, sendo velha, age com as forças todas da juventude; quando ignorante, melhor que qualquer sábio, desvenda os segredos da vida e, quando sábia, assume a simplicidade das crianças; pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama e, rica, emprobrecer-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos; forte, entretanto estremece ao choro de uma criancinha e, fraca, entretanto se alteia com a bravura dos leões; viva, não lhe sabemos dar valor porque à sua sombra todas as dores se apagam e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios. Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope de lágrimas este álbum: porque eu a vi passar no meu caminho. Quando crescerem seus filhos, leiam para eles esta página: eles lhe cobrirão de beijos a fronte; e dirão que um pobre viandante, em troca de suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria MÃE..."