Em 2021, o Nuances – Grupo pela Livre Expressão Sexual (uma das iniciativas pioneiras na defesa da diversidade sexual no Brasil) completa três décadas de atividades.
Ele surgiu em abril de 1991, na Casa do Estudante Universitário (CEU) da UFRGS, que, na época, além de universitários que faziam política em diretórios acadêmicos, já acolhia também grupos feministas. Para Célio Golin, então aluno de Ciências Sociais, isso parecia indicar que existiam brechas para modelos alternativos de militância.
Outro morador da CEU, o caxiense Glademir Antonio Lorensi, que cursava Biologia, havia conhecido o historiador e antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, durante um simpósio acerca da homossexualidade no Recife, no começo dos anos 1980.
A ideia de criar algo similar em Porto Alegre tomou forma durante uma conversa regada a cerveja entre Célio e Glademir no Bar Xiru, junto ao Viaduto Imperatriz Leopoldina, nas proximidades do campus central da UFRGS.
Entre um gole e outro, Glademir sugeriu que o grupo adotasse o nome de Movimento Homossexual Gaúcho (MHG), quase uma provocação ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). A abreviatura chegou a ser impressa em panfletos que convidavam simpatizantes para reuniões preliminares em uma sala da CEU, mas não chegou a vingar. Os encontros já haviam sido transferidos para a garagem da casa que abrigava o Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa), na Rua Luiz Afonso, na Cidade Baixa, quando foi adotada a denominação definitiva, Nuances (palavra de origem francesa, que remete às diferentes tonalidades de cada cor), inspirada em ideias de liberdade e diversidade.
— Desde o início, não queríamos a limitação de rótulos, porque gênero e desejo são variáveis que se misturam. Ninguém é 100% homo ou heterossexual — assinala Golin.
Definido o nome, o grupo buscou sede própria no andar de cima de um sobrado na Rua Vieira de Castro, no bairro Farroupilha, onde hoje está o Café Fon Fon. O endereço tinha tudo a ver – da sacada, os militantes podiam observar a agitação em frente ao Doce Vício, um dos principais bares do roteiro gay de Porto Alegre nos anos 1990, que ocupava o prédio ao lado. Atualmente, o Nuances está instalado em uma sala na Rua Vigário José Inácio, no centro da Capital.
O Nuances começou a ganhar visibilidade em 1997, com a primeira edição da Parada Livre, que reuniu 150 seguidores. No ano seguinte, já eram 2 mil participantes. O auge da manifestação foi em 2005, quando 100 mil pessoas acompanharam a passeata. A essa altura, as ideias do movimento já estavam articuladas em torno do Jornal do Nuances, que circulou ininterruptamente entre 1998 e 2009, com média de 12 a 16 páginas impressas em 10 mil exemplares.
Um dos destaques das Paradas Livres era a Nega Lu, como ficou conhecido o homossexual negro Luiz Airton Farias Basto (1945-2005), ícone de sucessivas gerações, que marcou a cena cultural e comportamental da Capital entre os anos 1970 e 1990. Embora já não fosse jovem, a Nega Lu dispensava o conforto de carros alegóricos para desfilar a pé, distribuindo panfletos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, nos quais esbanjava irreverência com frases como “seja ordinária, mas use camisinha”.
Por sinal, uma exposição fotográfica sobre a Nega Lu deverá ser uma das atrações da programação que celebrará os 30 anos do Nuances, que inclui também uma edição especial do Jornal do Nuances, reconstituindo a trajetória inovadora da organização.