
Aquele início de noite de quarta-feira, dia 28 de março de 1973, parecia igual aos outros. Quando me preparava para encerrar minha jornada de fotógrafo na sucursal do Jornal do Brasil (JB), na Capital, fui alertado pelo motorista David, que voltava para sua casa no bairro Azenha, de que a Zero Hora estava em chamas. Ele retornou ao Centro para me apanhar e fomos, imediatamente, para a sede do jornal na Avenida Ipiranga.

A confusão era grande e o fogo alto consumia o prédio. Para minha surpresa, as labaredas lambiam a fachada do edifício, mas o cubo de acrílico com o logotipo da Zero Hora continuava iluminado e girando sobre o poste. Com gente correndo e bombeiros chegando, fiz algumas fotos e corri de volta à sucursal para enviar as telefotos ao Rio de Janeiro antes do fechamento da edição de quinta-feira. Revelei o filme, fiz as cópias e transmiti para o JB por meio de um aparelho que usava o telefone para isso. Ainda com pressa, enrolei o filme de negativos na mão, coloquei na bolsa e voltei ao “prédio sinistrado”, como se dizia na época.
A sede fumegava encharcada e às escuras; o acrílico do luminoso, derretido, pendia da estrutura. A melhor notícia era de que, ao que tudo indicava, não havia vítimas. Fiquei sabendo que os colegas jornalistas da ZH estavam no Jornal do Comércio (JC), na Avenida João Pessoa, fazendo a edição do dia seguinte. Fui até lá e, solidário como o JC, coloquei minhas fotos à disposição, caso precisassem.
A quinta-feira amanheceu com mais uma edição de Zero Hora nas bancas, como sempre. Sob a minha foto, que ocupava metade da capa, a manchete não deixava dúvidas: “Incêndio não parou jornal”.
Também de momentos de bravura como esse foram feitos os 56 anos que este jornal completa hoje. O prédio novo, inaugurado três anos antes, totalmente destruído internamente pelo fogo, teve que passar por uma longa reconstrução. Enquanto isso, a redação, em uma metáfora de recomeço, voltava às origens, tornando a ocupar a velha sobreloja daquele prédio da Rua Sete de Setembro, onde ficava o Cine Rex e o jornal começara. Mesmo local em que, em 1969, um garoto de 18 anos, chamado Ricardo Chaves, entrou pela primeira vez em busca de trabalho. Parabéns, Zero Hora!