Por Pedro Haase Filho, interino
“Ucho, ucho, o papa é gaúcho”. O cântico da multidão, que irrompeu no momento em que João Paulo II vestiu um chapéu típico durante a missa campal que rezou em Porto Alegre em julho de 1980, resumiu com precisão o fascínio que o simbolismo do traje gauchesco exerce mesmo naqueles que não são adeptos diretamente ao tradicionalismo. O uso da pilcha por figuras públicas se verifica há muito tempo, mesmo antes de a vestimenta regional se tornar, de fato, uma referência definitiva e cultuada da identidade gaúcha.
Os primeiros registros do culto à tradição remontam a 1899, quando um anúncio no jornal Diário Popular, de Pelotas, conclamava os leitores a participarem de uma reunião para tratar de um incipiente movimento tradicionalista. Mas só na segunda metade dos anos 1940, por iniciativa de um grupo de estudantes do colégio Júlio de Castilhos, na Capital, liderados por Paixão Côrtes e Luís Carlos Barbosa Lessa, o nativismo ganhou força e o traje típico do gaúcho passou a ser utilizado por mais e mais gente.
Pois ainda no século 19, a primeira personalidade de que se tem notícia de ter adotado a pilcha como prova de empatia com o povo local foi nada menos do que o imperador Dom Pedro II, que posou pilchado para o fotógrafo Luiz Terragno durante visita ao Rio Grande do Sul em 1865, à época da Guerra do Paraguai. O ato foi seguido por seu genro, o Conde D’Eu. Com o passar dos tempos, outras figuras notáveis também fizeram uso da vestimenta, ou de parte dela. Uma das mais emblemáticas foi a sapucaiense Ieda Maria Vargas, que desfilou com o traje típico gaúcho ao ser eleita Miss Universo, em 1963. Nem mesmo Pelé escapou da pilcha após um jogo que disputou no Estado.
A pilcha foi transformada em traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul a partir de uma lei estadual de 10 de janeiro de 1989. Conforme a lei, será considerada pilcha somente a vestimenta que, com autenticidade, reproduza com elegância a sobriedade da nossa indumentária histórica, conforme os ditames e as diretrizes traçados pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).