"Pequena cidade recolhida no alto da serra, e ainda sofrendo com a falta de estradas, Bento recria seu forte espírito colonial e se urbaniza lentamente. E, da mesma forma como não consegue escoar facilmente seus produtos, custa-lhe chegar a medicina, os remédios, a luz elétrica, a telefonia, as informações. Mas a escassez é a mãe da inventividade. E as soluções de moradia, mobiliário, vestimenta, alimento começam a ser fortemente desenvolvidas pelos habitantes. Tudo é feito pelas mãos de cada um que acredita em si e por todos que se ajudam, principalmente dentro das famílias – unidas na oração e no trabalho. A infraestrutura básica é incipiente: os dejetos de esgoto são retirados das casas em carroças do serviço público, a água potável tem de ser buscada na praça Marechal Deodoro, a iluminação pública tardará a chegar. Em 1910 vem um trecho de ferrovia até Carlos Barbosa, e a iniciativa, ao invés de se estender até Bento, vira em direção a Caxias. Os cidadãos revoltam-se. Pelo lado fluvial, melhoram as balsas que saem de Santa Teresa, e muita madeira retirada das abundantes matas de pinheiros desce o rio para a venda em Porto Alegre. Assim se cria uma economia extrativista. Em 1919 um ramal do trem chega finalmente à cidade, e alargam-se também algumas estradas de chão. A euforia toma conta das pessoas e a cidade cresce. Com o evento da II Guerra Mundial, em 1939, vendo a Itália, a pátria mãe, em oposição à pátria recém adotada, um dilema se impõe: ser quem se é. Fica proibido o dialeto, reprimida fortemente a origem, retirada a ligação com o país além-mar. Um corte abrupto. Mas que, como veremos, não matará as raízes.”
Serra gaúcha
História de Bento Gonçalves é contada em livro
Século XX – Memórias de Bento Gonçalves é amplamente ilustrado com fotos da cidade
Ricardo Chaves
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