O morador de Picada Café, na Serra gaúcha, Rodrigo Castelhano, se prepara para cruzar as Américas a bordo de seu Fusca 1974 em uma expedição que une suas maiores paixões: cinema, cerveja e fusca.
— Sou apaixonado por cinema desde que eu fui pela primeira vez, com cinco anos de idade. Não só profissionalmente, mas no meu dia a dia tudo é cinema. E adoro Fusca, sempre viajei muito de Fusca. Conheci a cultura cervejeira através do cinema — comenta Rodrigo.
Batizada de Expedição Malte, a aventura tem como destino final o Alasca, nos Estados Unidos. O objetivo é viver uma aventura regada a cerveja, paisagens e encontros, com direito a um documentário final para eternizar cada quilômetro rodado. A produção cinematográfica já tem nome: Expedição Malte — A Cerveja do Novo Mundo.
"Viajo todas as Américas visitando as cervejarias de Fusca", resume a sinopse. Tudo isso na companhia do fusca apelidado de "De Niro", grande fiel de Rodrigo desde 2020, ano em que o viajante começou a sonhar com a expedição.
Durante o trajeto, o cervejeiro pretende registrar experiências em cervejarias artesanais, conversar com mestres cervejeiros e explorar a cultura dos lugares por onde passar.
— A cerveja, digamos que ela é um fio condutor que vai me conduzir durante essa viagem — diz.
A jornada começa no dia 16 de abril, mas sem data para voltar. A incerteza não afeta a família, que, segundo o viajante, já está acostumada com o "Rodrigo que não para".
— Trabalhei esses anos todos, condicionando a minha vida para eu fazer isso. Ou seja, meus filhos estão preparados para isso, a minha esposa está preparada para isso, e todo mundo me apoia — comenta.
Trajeto
Saindo do Rio Grande do Sul, Rodrigo planeja subir a costa brasileira até o Rio Grande do Norte. Conforme o produtor, a ideia não é passar por todos os Estados brasileiros e sim "vivenciar o momento".
O cervejeiro explica que a viagem deve ser guiada por um roteiro muito flexível.
— Posso chegar em Florianópolis, falar com a galera cervejeira lá, e eles me indicarem "ó, tem uma cervejaria em tal lugar, vai lá e visita eles". E aí eu vou fazer um desvio do meu caminho — exemplifica.
O trajeto segue pelo interior do Brasil até a saída para outros países.
A experiência ao Extremo Sul
A expedição ao Alasca foi divida em duas partes: Extremo Norte e Extremo Sul, viagem realizada em 2023.
Rodrigo e De Niro pegaram a estrada em uma longa expedição, chegando ao Extremo Sul da América onde é possível alcançar de carro: na Bahia Lapataia, dentro do Parque Nacional Tierra del Fuego, na Argentina.
Foram 15,6 mil quilômetros percorridos em 107 dias — cerca de três meses —, cruzando países como Uruguai, Argentina e Chile.
Durante o percurso, Rodrigo também visitou cervejarias e documentou a cultura cervejeira local. No entanto, enfrentou algumas adversidades, como o frio extremo nas Cordilheiras dos Andes e a falta de preparo para temperaturas abaixo de zero.
— Sofri muito no frio e fiquei muito feliz também quando eu saí do gelo, que eu disse "nossa, eu suportei, aguentei, sobrevivi a esse frio". E o fusca é uma lata. Tudo congelava dentro dele. Tinha cinco litros de água, às vezes, e congelava. Eu levava cerveja dentro dele, que eu ganhava das cervejarias, elas congelavam e estouravam como se estivesse dentro do congelador — relembra.
No retorno ao Brasil, ainda teve parte de seus equipamentos furtados, o que o fez repensar a segurança da nova jornada.
— Roubaram muita coisa dele. Roubaram equipamento, roubaram câmera, roubaram quatro HDs. Eu trabalho com audiovisual e nesses HDs tinha muito trabalho meu, inclusive da própria viagem em si. Então isso me abalou bastante — conta.
De Niro: um lar sobre rodas
Para encarar a nova longa viagem, o fusca De Niro foi transformado em um verdadeiro lar sobre rodas.
— Ele é o protagonista dessa história. Eu só sou o cara que vai conduzir ele até lá. Então, eu adaptei ele, mas tentei não descaracterizar — explica Rodrigo.
Equipado com cozinha, geladeira, painel solar e até uma estrutura multimídia para transmissões ao vivo, o veículo se tornou não apenas um meio de transporte, mas uma base de trabalho e moradia.
— Nesse momento, o De Niro é praticamente a minha vida, porque eu trabalhei ele durante esses anos para que ele virasse uma casa. Ou seja, a minha casa, teoricamente, está em cima dele — comenta Rodrigo.
Mesmo com as adaptações, o viajante manteve o motor original 1300, garantindo que o carro preservasse a essência. Já para mais conforto, substituiu os bancos originais por assentos mais ergonômicos, que podem ser ajustados e transformados em cama. O banco de trás precisou ser retirado para que os outros móveis e eletrodomésticos coubessem no veículo.
Outra mudança foi uma prevenção para não vivenciar novamente o furto de seus equipamentos que sofreu na volta ao Brasil da viagem ao Ushuaia, na Argentina, um dos momentos mais difíceis para Rodrigo.
Para evitar novos problemas, ele instalou um sistema de segurança no Fusca, incluindo um cofre soldado à estrutura do carro, tornando impossível retirar itens de valor sem levar o veículo inteiro.
Financiamento da expedição
Trabalhando com audiovisual, o cineasta encontrou na produção de conteúdo sobre cervejarias uma forma de garantir recursos para a viagem. Para subsidiar a própria expedição, Rodrigo vai precisar trabalhar durante o percurso.
— Se perguntar pra mim "tu sai com o dinheiro todo da viagem?" Não, essa viagem vai ter que se fazer durante o tempo que eu estiver na estrada também — explica.
A ideia é estabelecer parcerias, registrar o processo de fabricação das cervejas e criar materiais para redes sociais e divulgação. Dessa forma, além de documentar a cultura cervejeira ao longo do caminho, consegue gerar renda para manter a expedição em andamento.