Sebastian tem a multidão na palma de sua mão. Cantando uma versão da música How Will I Know?, da falecida cantora Whitney Houston, o entusiasta australiano recebe 1,5 mil ou mais espectadores para se juntar ao coro antes de fazer uma volta de honra ao redor do palco improvisado.
Ele é um dos 50 cantores amadores de todas as partes do mundo que reuniram coragem para participar de um fenômeno em Berlim: o Bearpit Karaokê. Nos últimos quatro anos, milhares de visitantes e moradores locais têm se reunido para as sessões ao ar livre de karaokê nas tardes de domingo no Mauerpark, que se estende ao longo de parte da "faixa da morte" entre a antiga Berlim Oriental e a Ocidental.
No entanto, uma decisão do conselho local pode colocar em risco essa imensa e popular sessão de cantoria em massa. O preço da permissão necessária para manter o karaokê foi triplicado para 1,5 mil euros. Além disso, estipulou-se que os shows deverão acontecer em 12 datas específicas durante o verão.
Isso pode desapontar muitas das 30 a 50 mil pessoas que visitam o Mauerpark todo domingo. Enquanto muitos estão lá para conferir o extenso mercado de pulgas, o karaokê é, sem dúvida, um formidável atrativo.
- O espetáculo surgiu de forma bem espontânea - afirma Gareth Lennon, um homem de 38 anosvindo de Dublin que administra o karaokê sob o pseudônimo Joe Hatchiban.
Ainda em 2009, ele e alguns amigos tiveram a ideia de andar ao redor da cidade em uma bicicleta, equipada com um alto-falante, um notebook e um microfone, tentando filmar as pessoas cantando no karaokê. Uma tarde, ele decidiu passar pelo anfiteatro de pedra nas profundezas de um íngreme gramado em declive em um dos lados do parque e checar se as pessoas se apresentariam.
- Em menos de um mês ou dois, nós já tínhamos a casa lotada e desde então segue acontecendo.
Sebatian é um grande fã, tendo subido ao palco cinco vezes:
- É algo muito bom para a imagem de Berlim.
Ele participou pela primeira vez durante um feriado no ano passado e a vinda se tornou um fator importante na hora de decidir se mudar para a cidade.
- Fiquei absolutamente extasiado - conta.
O peruano Luis Valderama morou em Berlim por cinco anos e participa do karaokê quase todos os domingos:
- É mesmo muito legal ver as pessoas. Quando elas cometem erros é engraçado, e quando elas tentam cantar, algumas são muito boas, mas outras também são bem ruins.
Argumentos
A perceptível popularidade do karaokê não foi suficiente para persuadir o conselho a simplesmente deixar as coisas continuarem como estão.
- Permissões especiais para eventos, bem como karaokê, são licenciáveis apenas quando há interesse público - disse Peter Lexen, do conselho de Pankow.
Ele diz ainda que o local é principalmente um parque e que as necessidades de lazer de todos os visitantes devem ser consideradas. O conselho também alegou que gostaria de dar a outros candidatos a chance de usar o espaço, algo que o grupo local Amigos do Mauerpark alertam poder levar à comercialização do parque.
Também é apontado pelo conselho que Lennon não oferece eliminação de resíduos ou instalações sanitárias adequadas. No entanto, isso sairia caro para uma operação tão discreta.
Apesar de pagar pela permissão e pelos direitos autorais das músicas usadas, Lennon não cobra de ninguém que queira participar ou assistir ao karaokê. Em vez disso, ele se atira no meio da multidão ocasionalmente durante as músicas.
Quanto à eliminação de resíduos, ele insiste que o anfiteatro é um dos poucos lugares no parque que não é poluído pelo lixo espalhado no final de semana, graças aos seus constantes apelos à multidão para recolher seu próprio lixo ou usar os sacos de plástico que ele pendura nas árvores.
Para Lennon, o maior problema não é tanto as taxas mais altas, mas a restrição das datas fixas. Em anos anteriores, ele simplesmente apareceria conforme o tempo estivesse bom e ao longo do verão iria arrecadar doações suficientes para recuperar o que foi investido.
Agora o cronograma é pré-definido e definitivo, e já ocorreram dois dias chuvosos em maio. Já houve sugestões de mudar o show para outro lugar. Mas ele não está convencido:
- Karaokê pode ser o veículo, mas as pessoas e o clima que surge no ambiente são o combustível.
Tradução: Paloma Poeta