No principal acesso à praia de Arroio Teixeira, balneário de Capão da Canoa, uma placa deixa bem claro que veículos não devem circular na faixa de areia, salvo que tenham alguma autorização. O advogado Luciano Garcia, 54 anos, de Porto Alegre, observou o aviso e tratou logo de estacionar o carro à sombra, na rua mesmo, garantindo o desembarque seguro da família sem desrespeitar a regra. Mas nem todo mundo age assim.
Apesar da sinalização evidente, os veranistas de Arroio Teixeira têm de dividir espaço com carros, motos, bugues e até vans quando se deslocam para a beira do mar. Por ali, é fácil encontrar veículos estacionados ao lado de guarda-sóis e de crianças brincando e correndo na areia. A aparente tranquilidade do cenário disfarça uma preocupação de quem mora ou veraneia no balneário.
– Muitos desses carros circulam por aqui correndo, e há alguns que ficam até brabos porque a gente está caminhando devagar em direção à praia. Nos finais de semana, motoristas bebem e depois saem dirigindo. É muito risco, porque na areia, ninguém está cuidando carro. Carro é para andar na rua – lamenta a advogada Jaqueline Bellardo, 34 anos.
De acordo com frequentadores, o problema se agrava mais aos finais de semana da temporada e em feriados, principalmente no acesso à orla pela Rua Dona Anália. A subprefeitura de Arroio Teixeira melhorou a pavimentação do trecho, pensando em facilitar o trabalho de equipes de resgate, que muitas vezes não contam com carros tracionados para encarar a areia fofa.
– Sinalizamos todos os acessos à praia, mas, mesmo assim, é um problema que ocorre com muita frequência – diz o secretário de obras de Arroio Teixeira, Eduardo Medeiros Sarmento, que está temporariamente respondendo pela administração do balneário.
Os veranistas já denunciaram o problema à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). A Brigada Militar, responsável pela fiscalização, tem feito ações em todas as praias do Litoral Norte, mas a falta de pessoal diante de toda a demanda compromete o trabalho, especialmente nas praias menores, como Arroio Teixeira. Em Torres, desde o ano passado, a praia de Itapeva fechou o cerco contra o acesso de veículos à areia, e os moradores celebram a decisão.
O comandante da 2º Companhia do 1º Batalhão Ambiental da Brigada Militar, capitão João César Verde Selva, explica que, dentro do possível, a BM tem coibido a prática de circular pela praia com veículos em todo o litoral. O desrespeito à legislação é considerado infração média, sujeita à multa, e ainda à penalidade administrativa pelos órgãos ambientais.
– Fazemos ações preventivas e repressivas diretamente com o público, como notificações e até remoção dos veículos nas ações ao longo da temporada – diz Selva.
Neste veraneio, o Instituto Curicaca, ao lado da prefeitura de Torres e da BM, encabeçou a campanha #praiasemcarro, promovendo ações na praia que faz divisa com Santa Catarina. Mas a conscientização da população ainda precisa de reforços. No Rio Grande do Sul, a Lei 9.204 proíbe veículos na praia, reforçando a Lei Federal 7.661 sobre a necessidade desse controle para evitar danos ambientais à fauna e à fauna costeiras.
E o Cassino?
Uma das características que mais identificam a praia do Cassino, em Rio Grande, é o trânsito de carros na faixa de areia. Não é permitido por lei, mas os ambientalistas entendem que é um hábito local bastante consolidado, o que dificulta mudá-lo.
A prefeitura e a Fepam fazem acordos anualmente para que os carros possam utilizar a orla. Há licença da Fepam para o uso de carros na orla, mas em áreas definidas e respeitando áreas de proteção ambiental, como dunas. Em 2016, o tráfego de veículos em um trecho entre o Cassino e a praia do Hermenegildo, em Santa Vitória do Palmar, ficou restrito e passou a ser monitorado. A área de 160 quilômetros fica entre o Navio Altair – um dos principais pontos turísticos de Cassino – e o Passo da Lagoa, em Santa Vitória do Palmar.
Pesquisadores e ambientalistas associam o fluxo intenso de carros, motos e caminhões com a redução de aves migratórias nas praias. O trânsito compacta a areia, impedindo o acesso das aves aos organismos que servem de alimentação.