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Símbolo da Sociedade dos Amigos de Tramandaí (SAT), a garça de oito metros de altura esculpida em concreto que sinalizava a frente da entidade passará a voar em outros ares: na fachada de um edifício de 17 andares, também na Avenida da Igreja. A construção do prédio - uma permuta selada pela sociedade, que cedeu um terço do terreno original em troca de 13 apartamentos e duas lojas na construção - dará fôlego para que o clube reabra suas portas ainda em 2015.
Ícone da decadência enfrentada pelas sociedades de amigos dos balneários, a SAT não suportou despesas mensais de R$ 12 mil e está fechada desde outubro de 2013 em função de dificuldades financeiras. Dos 571 sócios, menos de 200 estavam em dia com a mensalidade à época do encerramento das atividades. Estrutura de lazer ultrapassada, infiltrações e falta de climatização no salão, palco de tantos Carnavais, não atraíam novos frequentadores. Com reforma em andamento, o atual presidente projeta a reabertura entre maio e junho, na inauguração da Festa do Peixe.
- Houve uma fuga da juventude dos clubes, uma mudança cultural. No Litoral, outro fator é o movimento sazonal. Sempre tivemos uma boa fluência e arrecadação no verão, mas não conseguíamos nos manter no inverno - avalia o presidente da SAT, João Sacramento.
Até o final dos anos 1990, as festas de Carnaval do clube de Tramandaí arrastavam 3 mil pessoas em cada uma das cinco noites de folia - e costumavam acabar à beira-mar, com o nascer do sol. Foram diminuindo de frequência, parte pelo desinteresse dos antigos foliões, parte pelo surgimento de casas noturnas no Litoral Norte. Até que o último Carnaval celebrado no clube, em 2013, minguou para dois bailes adultos e um infantil.
Integrante de um tradicional bloco que frequentava os bailes da SAT, o advogado Flávio José de Souza, 78 anos, participou dos eventos sociais desde meados dos anos 1950 até o fechamento da entidade. Foi inclusive em uma dessas festas de Carnaval - quando passavam a última noite em Santo Antônio da Patrulha - que começou a namorar Zilá Teresinha Matos de Souza, 76 anos, com quem é casado há 55 anos.
- Sentimos o fechamento (do clube), mas acho que foi uma saída muito interessante para a sociedade, porque realmente havia compromissos que eram impossíveis de serem atendidos com o rendimento - aponta.
A atual direção investe em melhorias 20% do valor arrecadado com a permuta da construção do prédio residencial no terreno ao lado da sede. A fachada e o jardim ficarão como novos, o telhado do salão - que também ganhará aparelhos de ar-condicionado - será refeito, assim como a piscina térmica. Um ginásio poliesportivo também deve ser inaugurado, e os eventos sociais retornarão à agenda de Tramandaí.
Em comunicado em jornais locais e correspondências enviadas aos antigos sócios, a SAT informou que "interrompeu suas atividades sociais, culturais, recreativas e esportivas por tempo indeterminado com a finalidade de reestruturação administrativa, econômica e financeira". A ação serviu para informar à comunidade o que ocorria por trás dos muros azuis da sede - mas muito tramandaiense e veranista ainda desconhece o destino da sociedade, admite o presidente. A direção espera, agora, que eles retornem para reviver o clube que recém completou 70 anos.
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A SAT começa a se reerguer
Foto: Diego Vara
Mudança de perfil e parcerias comerciais
Os clubes do Litoral Norte mudaram o perfil para atrair filhos e netos dos antigos frequentadores e encarar o declínio de procura pelos tradicionais eventos sociais. Hoje, os que resistiram ao tempo garantem que vivem bom momento.
Antes com funcionamento apenas na alta temporada e atividades voltadas aos veranistas, parte das entidades optou por operar durante o ano inteiro. Assim, ganharam moradores à procura das atividades esportivas oferecidas nas suas dependências. São casos como os da Sociedade dos Amigos da Praia de Torres (SAPT) e da Sociedade dos Amigos de Capão da Canoa (SACC).
Outra semelhança foi a busca por parcerias comerciais - estratégia não exclusiva ao clube de Tramandaí. A fachada da SACC, na Avenida Paraguassu, área central de Capão da Canoa, se tornou um ponto comercial com sete lojas que incrementaram em 100% o orçamento da entidade. A SAPT também aluga a antiga sede para o comércio na área central de Torres, e a Sociedade dos Amigos do Balneário de Atlântida (Saba) aproveita a área privilegiada à beira-mar da praia para a instalação de restaurantes.
- Foi a grande revolução da sociedade. Os associados praticamente cobrem os gastos do mês. Chega no dia 1º, e devemos R$ 60 mil, que é o custo mensal. Com os aluguéis das lojas, temos recursos que permitem investimentos - avalia o presidente da SACC, Cauby Maluf.
Em menor intensidade do que nos áureos tempos das marchinhas, os carnavais adultos e infantis estão na programação dos três clubes a partir de hoje.
- O público jovem está voltando - comemora o presidente da Saba, Lino Kieling.
Detalhe ZH
Durante décadas, foliões lotaram clubes por todo o litoral norte do Estado.
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Foto registra a festança de Carnaval com salão lotado na SAT, em 1981
Foto: Damião Ribas , bd, 01/03/1981