Ainda abalada pela viuvez iniciada cinco anos antes, Maria Stringhini chegou ao Asilo Padre Cacique, em Porto Alegre, em um dia de janeiro de 1997. No estacionamento, questionou-se:
— O que eu vim fazer aqui? Sou a mulher mais infeliz do mundo.
Mas seguiu em frente, cumprindo a recomendação que recebera. Precisava conhecer as pessoas. Puxou assunto na ala feminina e, no setor masculino, enxergou um violão sem cordas atrás de um armário. Propôs ao proprietário:
— Se eu comprar as cordas, você toca para mim?
Ele concordou. Maria redescobriu seu violino, sem uso havia mais de três décadas. Reabilitou os dois instrumentos e deu jeito de lembrar o que havia esquecido. Nesse reencontro com a música, começava seu vínculo com a Parceiros Voluntários, organização não governamental (ONG) que completou 26 anos em janeiro. A voluntária e a ONG nasceram juntas.
A violinista, hoje com 82 anos, voltou a estudar e passou, com o tempo, a ampliar o repertório. Pode atender a pedidos de apresentações em escolas, igrejas, hospitais. Homenageou a mãe, falecida em 2016, ao final do velório, antes que o caixão fosse fechado. Durante quase 20 anos, as duas frequentaram juntas o Padre Cacique, uma tocando, a outra ouvindo as histórias dos moradores.
— Sou completamente diferente. O que aprendi e mudou a minha vida é que o corpo envelhece, mas o coração não. A música provoca emoções. As pessoas se soltam, viram crianças, começam a dançar e cantar — conta Maria.
Daniel Santoro, presidente do conselho de administração da Parceiros Voluntários, relembra o início do projeto, em um mundo muito diferente, ainda majoritariamente analógico. Nas duas versões de Brasil, havia e ainda há a necessidade de assistência social em geral. O objetivo da ONG era aplicar no país um conceito já praticado no Exterior.
— O voluntariado organizado não é somente uma ação pontual, mas mais estruturada. Os interessados faziam uma reunião de conscientização e eram encaminhados a uma organização social para se vincular. Percebeu-se que a demanda era muito superior. As organizações precisavam não somente de voluntários, mas também de capacitação para se desenvolver e buscar mais recursos. Encaminhar voluntários, por si só, seria insuficiente. Começamos a capacitar as organizações de forma crescente — recorda Santoro.
A matriz continua sendo em Porto Alegre, mas há escritórios em São Paulo e em outras 16 cidades gaúchas. Não é preciso residir em uma dessas localidades para se tornar voluntário, encaixar-se em uma faixa etária preestabelecida ou dispor de um número mínimo de horas a serem cumpridas.
— O que importa é o intuito do engajamento para ajudar a vida do outro sem estar buscando remuneração. O voluntariado proporciona uma experiência transformadora. Ninguém fica igual. Todos queremos ser integrantes de uma sociedade. Somos seres gregários, precisamos do outro para nos sentirmos vivos, completos. O trabalho voluntário permite isso. É um círculo virtuoso que transforma não só o seu entorno, mas de dentro para fora. Nosso sonho é fazer a transformação social por meio do voluntariado — comenta o presidente.
Números da ONG
- A Parceiros Voluntários tem unidades em Porto Alegre, São Paulo e 16 cidades do interior do Rio Grande do Sul
- Mais de 8,8 milhões de pessoas foram beneficiadas em 26 anos de atividades
- Em 2022, cerca de 380 organizações da sociedade civil (OSCs) foram atendidas por meio de capacitações com o objetivo de desenvolver melhores práticas de gestão e transparência e para temas como envelhecimento e inovação
- Também no ano passado, mais de 4,2 mil alunos de escolas de seis Estados passaram pelo projeto Tribos nas Trilhas da Cidadania. Em programas empresariais, foram 2 mil voluntários
Como participar
- Acesse a plataforma Parceiros Conecta, rede colaborativa que facilita a comunicação entre ONGs e voluntários
- OSCs podem se cadastrar para divulgar vagas de voluntariado
- Interessados em se tornar voluntários acessam o mesmo endereço para criar um perfil e passar pela Jornada do Voluntário, conteúdo online de conscientização. A confirmação do cadastro será feita por e-mail. Na sequência, como em uma rede social, o usuário poderá se conectar com outros voluntários e procurar iniciativas com as quais se identifique, de acordo com suas habilidades e disponibilidade. É possível se engajar em atividades pontuais, de longo prazo, presenciais e virtuais
- Mais informações podem ser obtidas no site da ONG ou pelo e-mail sejavoluntario@parceirosvoluntarios.org.br