O quarto vazio, aos poucos, foi ganhando cor, mas essa cor não é resultado de pintura ou reforma. A coloração predominante nos aposentos da publicitária porto-alegrense Camila Barreto, 31 anos, é o verde. Tom dado pelas 23 plantas que ela adquiriu de março até agora. Sim, Camila virou uma "mãe de planta" durante o período de distanciamento social e arranjou um espacinho para todas as recém-chegadas ficarem próximas dela.
— Comprei plantas desenfreadamente. Agora, minha mãe me proibiu de chegar aqui com outras, porque não tem onde colocar e também porque ela já tem as dela. Temos mais de 100 unidades aqui. Se entrarem mais plantas ou a gente sai de casa — diverte-se Camila.
De "assassina de plantas" até bem pouco tempo atrás, a publicitária passou a consultora informal de amigas que passam por maus bocados em casa com suas folhagens. Mensagens com fotos de folhas amareladas ou ressecadas pipocam no WhatsApp de Camila para ela dizer o que significam e como pode ser remediado:
— Aprendi e aprendo muito com a minha mãe. Ela tem uma planta que tem mais de 30 anos. Além disso, pesquiso muito no Google. Até agora, tem dado certo, não perdi nenhuma dessas que adquiri desde o início da pandemia no Estado.
Quem também busca conhecimento nos mais velhos para lidar e cuidar dos seus cactus e suculentas é a mestranda e professora Larissa Oyarzabal, 28 anos, moradora de Viamão. A avó da jovem sempre soube identificar o que a planta precisava. Larissa, por sua vez, acabava por deixar morrer – pelos mais diversos motivos – as plantinhas que comprava mensalmente:
— Elas duravam 30 dias comigo e acabavam morrendo. Com a quarentena, surgiu uma vontade de mudar a casa, mas como não tinha dinheiro para reformas, decidi investir em plantas. Hoje, tenho mais de 20 espécies de cactus e suculentas, passei a investir nos cuidados de samambaias, lírio-da-paz e jiboia e outras que tenho aqui no pátio e que eu não valorizava muito.
Todos os dias ela fica, no mínimo, uma hora envolvida com os vegetais e, nos finais de semana, chega a ficar até três horas dedicada à reprodução e ao transplante. Além da ajuda da avó, a mestranda conta com o auxílio de vídeos da internet e de um aplicativo que identifica o que a planta pode estar precisando.
O novo hábito e prática de cuidado com esse outro tipo de ser vivo renovou as energias de Larissa:
— A gente está vivendo um momento muito difícil com essa pandemia, que é algo que gera muita insegurança e tristeza. Particularmente, também estou sob pressão, porque estou escrevendo minha dissertação. Quando me conecto com as gurias (modo como ela chama suas plantas), eu me desligo disso e vejo vida diante de mim.
Confira as sete dicas de ouro para manter sua planta saudável
Pense sobre a decisão
Tenha em mente que a planta é um ser vivo. Por menores que sejam os cuidados de algumas espécies, ela vai exigir atenção. Por isso, avalie se você terá tempo ou vontade para ficar atento a regas, poda e adubação, diz a paisagista Renata Martins.
— Há de se considerar se o ambiente tem luminosidade suficiente para a planta se desenvolver. Caso a pessoa tenha filho pequeno ou animais de estimação, é preciso avaliar qual espécie será comprada. (Veja no infográfico abaixo os tipos indicados para cada ambiente e quais são as plantas pet friendly)
Como montar o vaso?
Caso você queira mudar a planta de vaso, siga as dicas para saber como montar a nova casa da sua planta. Opte por um vaso com furo na parte de baixo, deposite um pouco de brita, o suficiente para cobrir o fundo. Posicione uma manta filtrante acima destas pedras ou substitua este item por uma manta filtrante. Renata afirma que, para quem mora em apartamento e deseja reenvasar uma planta, a manta não é o mais indicado:
— As raízes podem se enrolar nesta manta e dificultar o processo de troca de vaso. Por isso, colocar só a área já é o suficiente.
Na sequência, despeje terra preta, acomode o torrão da planta e complemente com mais terra. Muitas pessoas colocam cascalhos ou pedras coloridas na parte de cima dos vasos, mas isso não é obrigatório, diz a paisagista Fabiana Soares.
— Isso tem uma função mais decorativa, mas, no verão, auxilia a manter a umidade da terra — explica.
Como saber quando devo regar?
Uns esquecem a hidratação e outros regam em excesso. A rega é uma das principais dúvidas dos marinheiros de primeira viagem. O aconselhado é que você toque no solo da planta antes de pensar em hidratá-la, explica Fabiana.
— Se a terra do vaso estiver úmida no topo, não é preciso regar. Contudo, às vezes, a terra pode estar seca no topo e úmida na raiz. Por isso, o mais indicado é que a pessoa pegue um palitinho de churrasco e crave na terra o mais fundo que conseguir. Se o palito estiver úmido, não é preciso regar — diz ela.
Para garantir uma boa hidratação, faça a chamada rega completa, que é aquela que faz a água escorrer pelos buraquinhos da parte de baixo do vaso.
Qual terra é melhor?
Para Renata Martins, o mais aconselhado é que os vegetais sejam plantados em terra preta, também chamado de composto orgânico. Alguns tipos são até misturados com frutas, o que é ideal para quem mora em apartamento. Uma vez envasado o vegetal, a fertilização desta terra deverá começar a ser feita três meses após a mudança deste solo, aconselha Renata.
E o adubo?
É sempre bom manter a terra nutrida. Entretanto, não deposite cascas de frutas e borra de café diretamente nas plantas. Isso pode fazer com que a temperatura do solo aumente em razão do processo de compostagem e pode causar a morte da planta.
Há basicamente três tipo de abudo: o líquido, o granulado e o orgânico. No líquido, é preciso diluir parte do fertilizante em água – as medidas certinhas vêm nas embalagens. É possível aplicá-lo no solo ou diretamente nas folhas do vegetal a cada 15 dias ou uma vez ao mês.
O granulado requer muito cuidado. É importante estar atento às medidas e à maneira de fazê-lo. Caso você não siga as orientações a seguir, o solo pode ser danificado. Em plantas envasadas, coloque o adubo afastado das raízes e do caule. Preferencialmente, posicione os grãos nas laterais do vaso e regue. Essa opção é pratica, porque libera nutrientes por até seis meses.
Por fim, há a possibilidade de você mesmo fazer seu adubo orgânico. Basta juntar cascas de frutas, de legumes, de ovos e pó de café passado. Em um liquidificador, deposite esses materiais, acrescente água e bata no liquidificador até ficar com consistência bem líquida. Pode ser que seja necessário caprichar na quantidade de água. Use-o mensalmente aplicando diretamente na terra da planta e borrife um pouco nas folhas.
Quando podar?
O melhor momento de poda é no inverno, diz Fabiana, porque é neste momento, de temperaturas mais baixas, que a planta fica "adormecida":
— Isso quer dizer que cessa seu desenvolvimento neste período. Já as plantas que têm flores, devem ser podadas quando não tiverem florescência.
Ela destaca ainda que vegetais com folhagens devem ter manutenção sempre que for observada a presença de uma folha mais amarelada ou seca. Deixar galhos e folhas mortas no vegetal faz com que a planta drene nutrientes para uma área que não tem recuperação e isso pode prejudicar seu crescimento saudável.
De acordo com a paisagista, para podas de reprodução, a dica é simples:
— Corte bem rente do lugar onde nasce o galho.
Faxina
Acrescente na lista de cuidados não posicionar a planta muito perto de ar-condicionado e ventiladores para evitar a desidratação da terra. Soma-se a isso a faxina mensal que deverá ser feita nas folhas do vegetal.
Renata afirma que isso é importante por dois motivos:
— Essa limpeza, com pano umedecido com água, elimina pragas como cochonilhas e pulgões e tira a poluição das folhas, o que facilita seu processo de fotossíntese, o que é fundamental para seu desenvolvimento.