Com ginga, coreografia, figurino e sorrisos marcantes, o Coral de Crianças Watoto traz ao Brasil uma experiência transformadora. O grupo está em turnê mundial e reúne crianças órfãs, abandonadas ou vítimas da miséria em Uganda, na região central da África. Muitos dos cantores mirins perderam os país para o vírus HIV ou para a guerra civil, traumas que deixaram sequelas no país até os tempos atuais.
Suas vidas mudaram ao ingressarem no projeto Watoto, organização que tem como matriz uma igreja cristã fundada em Uganda em 1984. A atuação foi ampliada ao campo social com a construção de vilas em que viúvas e órfãos são reunidos em novas famílias principalmente em Kampala, capital de Uganda. As apostas em ações de desenvolvimento educacional e cultural são outro braço da Watoto.
O coral é parte do programa e, para divulgar o trabalho social e as causas do combate à aids e à orfandade, tem como uma das suas tarefas excursionar pelo mundo. Desde junho, o grupo está com 17 crianças e 10 adultos no Brasil. Até setembro, serão cerca de 80 apresentações dos jovens, cujas idades variam dos 6 aos 14 anos, no sul e no sudeste brasileiro. Neste final de semana (13 e 14), estão em Gravataí para mostrar sua arte, baseada em temas religiosos e louvores a Jesus Cristo, ao público de uma conferência que ocorria em igreja da Assembleia de Deus. A agenda inclui mais três apresentações no Rio Grande do Sul nos próximos dias (ver quadro).
Patrick Matovu, 10 anos, é um simpático e sorridente garoto abrigado pela Watoto. Com uma colorida gravata borboleta, conta que, quando nasceu, sua mãe adoeceu. Passou a ser criado pelos avós, mas, como eram muito pobres, eles decidiram pedir ajuda à organização Watoto. Aos três anos, Patrick foi levado sem outros familiares biológicos para uma das vilas da igreja em Kampala. Desde então, Watoto passou a ser seu lar — em geral, uma viúva se torna a mãe de uma casa com oito crianças. Embora seja a sexta turnê do coral pelo Brasil, o menino está fazendo sua estreia no país. Diz ter gostado do clima e do idioma. Ele não hesita quando questionado sobre o futuro:
— Quero ser pastor.
A obstinação de Patrick não é casual. A Watoto afirma que o seu objetivo final como entidade religiosa e social é "desenvolver líderes".
— Nós resgatamos vulneráveis e os desenvolvemos para que eles sejam futuros líderes para o nosso país e para a África. O objetivo final é reconstruir Uganda e a África — explica Rogers Edyamu, 30 anos, o gentil líder do coral.
Para atingir as metas, Edyamu ressalta que entre os propósitos da Watoto está o desenvolvimento de capacidades nas pessoas para que possam se tornar referências, conseguir trabalho e sustento. Um dos desafios, diz ele, é ainda lidar com os dramas remanescentes da guerra civil e da ação de governantes tiranos que assolaram Uganda.
— Estamos tratando o trauma que ficou. Tivemos meninas que foram raptadas e escravizadas por rebeldes. Elas engravidaram e hoje são vistas com rejeição, apesar de serem vítimas — relata.
Watoto explica, em seu site oficial, que se financia a partir de doações e de parcerias internacionais. A ação social conferiu prestígio e reconhecimento à organização, fundada pelo pastor Gary Skinner, de origem canadense. Contudo, há críticas em Uganda e nos Estados Unidos. Entidades ligadas aos direitos humanos dizem que Watoto apoiou a criação de leis em Uganda para punir homossexuais, fato que se converteu em polêmica.
— Watoto foi envolvida nessa assunto por conta de um evento que ocorreu na igreja, mas essa não é uma posição nossa. Por termos reconhecido prestígio, por vezes tentam nos envolver nisso — argumenta Daniel Heinrichs, gestor do escritório do Watoto no Brasil, sediado em Curitiba.
À época da polêmica, Watoto lançou uma nota oficial dizendo que a organização seguiria "empenhada em exemplificar o amor de Cristo a todos os que encontramos" e que "o contexto para a plena expressão da sexualidade humana está dentro dos laços do casamento entre um homem e uma mulher".
Próximas apresentações do Coral de Crianças Watoto no Rio Grande do Sul:
Terça-feira (16), às 19h30min — Igreja Batista Montserrat, em Porto Alegre
Quarta-feira (17), às 20h — Igreja Assembleia de Deus, em Cachoeirinha
Quinta-feira (18), às 19h30min — Pavilhão Evangélico, em Três Coroas