Uma iniciativa realizada em Cuiabá, para dar visibilidade a crianças e adolescentes de quatro a 17 anos aptos à adoção no Mato Grosso, ganhou visibilidade em todo o Brasil. Chamada "Adoção na Passarela", a ação gerou polêmica nas redes sociais pela exposição dos menores, apontada como desnecessária por internautas. No evento, os candidatos em busca de uma família desfilaram em uma passarela montada no Pantanal Shopping durante a noite de terça-feira (21). A atividade foi promovida pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional Mato Grosso (OAB-MT).
As entidades envolvidas na organização do evento se manifestaram em nota no final da tarde desta quarta-feira (22). Disseram que o objetivo do evento, que faz parte da programação da Semana da Adoção e ocorre pela segunda vez, nunca foi "apresentar as crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção. A ideia da ação visa promover a convivência social e mostrar a diversidade da construção familiar por meio da adoção com a participação das famílias adotivas". Acrescentam que nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a desfilar e que "expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse".
"A ação deu a eles a oportunidade de, em um mundo que os trata como se invisíveis fossem, poderem integrar uma convivência social", escrevem. Na nota afirmam que crianças e adolescentes desfilaram na companhia de seus "padrinhos" ou com pais adotivos. E que o evento foi realizado com autorização judicial das varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande e com o apoio do Poder Judiciário.
Por fim, citam que na edição anterior do evento, realizado em 2016, dois adolescentes foram adotados "graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão". Acrescentam que a iniciativa é "tão exitosa", que outros Estados adotaram eventos semelhantes, como Espírito Santo, Pernambuco e Minas Gerais.
Em entrevista feita pela assessoria de imprensa da OAB-MT, a presidente da CIJ, Tatiane de Barros Ramalho, afirma que o evento finaliza diversas ações realizadas durante a Semana da Adoção, que incluíram palestras, seminários e recreações para as crianças.
— A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e os menores em si terão um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer cabelo, maquiagem e usar roupa para o desfile — diz a presidente.
Um dos críticos do "Adoção na Passarela" foi o ex-candidato à Presidência da República, Guilherme Boulos. Em seu perfil no twitter, ele escreveu: "A 'passarela da adoção', em Cuiabá, expondo crianças de 4 a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra".