
Estar no teto do mundo, como é chamado o cume do Monte Everest, pode ser o sonho de vários alpinistas. Mas estar a 8.848 metros acima do nível do mar não é o bastante para o brasileiro Rodrigo Raineri, 49 anos.
Depois de chegar no cume da montanha, seu objetivo é voar por cerca de 30 quilômetros de parapente até uma das bases do acampamento. Será a última expedição de um dos mais experientes alpinistas brasileiros.
— Posso considerar que será minha aposentadoria. Vou começar a diminuir o ritmo porque é um esporte que depende muito do preparo físico — explica ele.
O voo solo de parapente após chegar ao topo do Everest será um feito inédito.
Raineri é o único brasileiro a ter escalado como guia as sete montanhas mais altas do mundo. Com Vitor Negrete, ele formou a única dupla do país a ter escalado a face sul do Aconcágua, montanha de 6.961 metros de altura na Cordilheira dos Andes – a mais alta fora da Ásia.
— O Everest é o ícone porque é a montanha mais alta do mundo. Mas não é a mais difícil. A mais complicada foi em 2002, a face sul do Aconcágua — conta o alpinista.
Não que não existam mais desafios a serem enfrentados. O planeta é muito grande, como diz o próprio Raineri, que vai completar 50 anos durante a expedição. Sua jornada começou no último dia 24, quando embarcou para o Nepal.
Há as mesmas montanhas, mas rotas diferentes, outras escaladas que poderiam valer a pena e manter Raineri motivado à procura de novos desafios. Mas é preciso saber a hora de parar.
Para citar outra frase do alpinista, o maior sucesso da expedição é voltar para casa.
— Alpinismo é um estilo de vida. Chegar ao cume (da montanha) é o grande objetivo, mas a expedição vale a pena mesmo se você não chegar. Sucesso é voltar para casa — afirma Raineri.
Escalar o Monte Everest não será novidade para o brasileiro, que já fez este percurso. Novidade será encerrar a subida com um voo de parapente. Acostumado a ser guia e antigo proprietário de uma empresa que levava pessoas para expedições nas maiores montanhas do planeta, ele sabe dos riscos envolvidos.
— Há vários pontos críticos que devem ser considerados. O maior risco no Everest é o de avalanches. Não são muitas, mas quando acontecem, podem ser gigantes e avassaladoras. Há também o problema da altitude, do ar rarefeito. É perigoso, mas eu sou profissional nisso. Dá para minimizar — avalia.
Raineri considera ter começado tarde a subir montanhas, aos 19 anos. Em 1988, escalou o Pico das Agulhas Negras, na Serra da Mantiqueira, no Rio de Janeiro. Depois disso, decidiu ir para a Holanda para estudar como ser guia. Voltou ao Brasil e se formou em Engenharia da Computação, mas resolveu que seria alpinista profissional.
A expedição deste ano para o Everest terá quatro fases. A primeira é a chegada ao Nepal, para o treinamento com o parapente e a realização de testes. Depois, Raineri fará a caminhada até a base da montanha, o que deve levar 10 dias. A seguir, começa o período de aclimatação, com pequenas subidas e descidas para que o organismo se adapte ao ambiente e à temperatura. A expedição termina com a escalada ao topo, o voo à base e o retorno ao Brasil.
— Eu sou o guia. Nunca dependo de um guia local. No caso do Everest, contratamos pessoas para dar suporte. Um cozinheiro, auxiliar de cozinha, e alpinistas sherpas, que nos acompanham até o cume e, se forem muito experientes, tomam decisões pela expedição. Mas não no meu caso. Eu tomo as decisões — explica Raineri.
Ele afirma que uma das finalidades do projeto é divulgar a escalada, esporte recém-incluído no programa olímpico e que será disputado pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio.
Em Campinas, onde mora, o alpinista tem uma carreta basculante em que colocou uma parede de escalada. Raineri quer levá-la a escolas e parques da cidade para explicar as regras da modalidade e incentivar a prática.
O maior risco no Everest é o de avalanches. Não são muitas, mas quando acontecem, podem ser gigantes e avassaladoras. Há também o problema da altitude, do ar rarefeito. É perigoso, mas eu sou profissional nisso.
Ele já praticou a escalada no passado, mas lembra que são coisas parecidas apenas no princípio de subir para atingir determinado ponto. No restante, são modalidades bem diferentes:
— A escalada envolve explosão. O alpinismo é logística e resistência. A parte mental esportiva da escalada é a mesma de um ginasta. Você não precisa ter medo de cair. Escalar uma montanha é diferente. Você tem de superar o frio e uma série de limitações.
Como o sucesso é voltar para casa, ao chegar em Campinas, Raineri espera compartilhar, talvez pela última vez, a sensação de ter chegado ao teto do mundo.
— É a sensação de saber que você é capaz de realizar um sonho. Estar em uma expedição dessas é uma satisfação enorme — afirma.