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O tempo ajudou e centenas de pessoas reuniram-se neste domingo (24), em frente ao arco da Redenção, em Porto Alegre, para um protesto contra a chamada "cura gay" e a favor dos direitos da população LGBT. De crianças a idosos, a diversidade foi a principal característica do evento marcado pelos fortes discursos combatendo a homofobia.
Bem diferente da manifestação contra o encerramento da mostra Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que acabou em confusão após a presença de pessoas favoráveis à decisão do Santander Cultural de suspender a exposição, a tarde na Redenção foi tranquila. Com bandeiras e cartazes, o público acompanhava um grupo tocando instrumento de percussão e entoava cânticos que defendiam a liberdade sexual enquanto esperava pela fala de lideranças políticas, representantes dos conselhos de psicologia e líderes de coletivos.
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O psicólogo Nauro Mittmann, membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), foi ao ato com a família, incluindo a filha Júlia, de 11 anos. Contrário à decisão que permite que profissionais da área ofereçam terapia de reversão sexual, Nauro afirma que não há como curar algo que não seja uma doença e acha importante inserir a filha neste ambiente para que ela aprenda a conviver com a diversidade desde cedo. A pequena faz coro ao pai:
– É importante (se manifestar sobre o assunto), porque estas pessoas não são doentes e têm o direito de amar quem elas quiserem.
Com muito mais experiência que Júlia, a advogada aposentada Manoelinha Castro, de 75 anos, segue o mesmo discurso. Conta que já trabalhou com casos de violência doméstica e teve uma vida ligada à militância pelos direitos humanos. Fica contente com o crescimento no número de pessoas lutando pela causa e diz que vê um número cada vez maior de mulheres nas ruas, o que atribui à necessidade histórica pela necessidade de terem voz. Sobre tratar a homossexualidade como doença, se mostra espantada.
– Achei que isso já tinha passado. Isso é velharia, é coisa do meu tempo, porque as pessoastinham medo do desconhecido. Hoje não existe mais desconhecido – defende.
Um dos organizadores do protesto, o psicólogo Ramiro Catelan acredita que a manifestação cumpriu o seu papel de estender o diálogo com a população, indo além do ativismo e das pessoas que circulam na academia. Sobre a liminar que permite o tratamento terapêutico para resolver questões ligadas à homossexualidade.
– Dar margem para esse tipo de intervenção é dar margem para intervenções que são antiéticas, que violam os direitos das pessoas e que são ineficazes, pois não atingem os objetivos aos quais se supõem e geram prejuízos gravíssimos para quem passa por elas. A gente já está bastante documentado pela Associação Americana de Psicologia que pessoas que passaram por esse tipo de intervenção têm aumento nos índices de depressão, ansiedade e tentativa de suicídio. E as pessoas, eventualmente, vêm a se matar. É por isso que a categoria de profissionais da psicologia e a sociedade civil precisam vir a público repudiar e refutar qualquer retrocesso nesse sentido – defende.
A edição em Porto Alegre não foi um caso isolado. Desde que a liminar foi concedida, no último dia 18, diversas cidades brasileiras se organizaram para protestar. Neste domingo, além de Porto Alegre, estava marcado um ato em Curitiba.
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