Diz a superstição que chover no dia do casamento traz sorte e bênçãos aos noivos. Recordando suas núpcias _ em 27 de julho de 1947, há exatos 70 anos _, dona Idalina Anna Onzi, 95 anos, lembra que choveu torrencialmente naquele dia. Lenda ou não, a união com seu Attilio Onzi, 94, permanece firme até hoje, fortalecida pelo amor e carinho das quatro filhas e dos oito netos.
– Ele me ensinou o valor do trabalho. E eu, o ensinei a ter calma, a perdoar, a levar a vida com menos ansiedade – conta dona Idalina, sentada em uma poltrona na cozinha da casa onde mora desde 1960, após se mudarem de uma propriedade rural em Loreto para o bairro Rio Branco.
O mesmo jeitinho meigo que dona Idalina preserva até hoje fisgou Attilio em 1945, num baile em São Martinho da 2ª Légua, onde a jovem morava.
– O tio dela tocava bandonion e eu fui ao baile. Na época, chamavam de baile das damas, porque eram as moças quem convidavam para dançar – conta Attilio.
– E tu fez questão de passar bem na minha frente, né? – emenda Idalina, rindo.
O pedido de casamento veio dois anos depois e foi como mandava a tradição: a família do pretendente foi visitar a moça e o futuro sogro pediu a mão dela ao pai. Casaram-se às 10h30min de um sábado chuvoso, cerimônia precedida de um café na residência da noiva e concluída com festa – regada a vinho e muita música – na casa do noivo.
Filho mais novo, Attilio levou Idalina para morar com ele e os sogros em Loreto. Na propriedade, cultivavam uvas, faziam vinho e viviam da agricultura. Além de ajudar o marido na lavoura, Idalina também costurava. O primogênito, Valter, nasceu cerca de um ano depois, mas não resistiu à meningite e morreu ainda bebê.
– Era um menino lindo, forte – recorda Attilio com tristeza.
Após a perda do filho, Idalina deu à luz Geni, 67, Juracema, 66, Zulma, 63, e Zaira, 61. A preocupação com a educação das meninas levou o casal a deixar o interior e buscar estudo na cidade.
– Meu pai sempre foi um homem muito ativo. Ajudou a reivindicar estradas para a região e conseguiu até que o então prefeito Ruben Bento Alves criasse uma escola para as crianças dos agricultores que moravam lá em Loreto, que, no início, funcionou em um galpão na nossa casa – recorda Geni, que, como as três irmãs, seguiu a carreira do magistério.
Quando se mudou para o bairro Rio Branco, Attilio passou a trabalhar em uma fábrica de esquadrias, e Idalina, seguiu costurando. Da antiga máquina, saíram inúmeros vestidos de noiva – inclusive o da filha Geni –, roupas femininas e calças masculinas. No porão da casa, o nono manteve a tradição de fabricar vinho – coisa que fez só até o ano passado, em razão de problemas de saúde.
No almoço e no jantar, porém, ele não dispensa um cálice da bebida.
– Agradeço a Deus pela família que conquistamos. Minhas filhas nunca deram trabalho e até hoje vivemos em paz. Não há segredo para ter um casamento longevo. Acho que o principal é ter respeito pelo outro, tolerância e paciência. E comer junto, trabalhar junto, fazer coisas boas junto – define a idosa.
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Casal de Caxias do Sul completa 70 anos de casado e dá exemplo de vida
Attilio, 94 anos, e Idalina Onzi, 95, acreditam que amor foi preservado graças ao respeito e paciência mútuos
Eliane Brum
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