Se na década de 60 a chegada das pílulas anticoncepcionais foi festejada pelas mulheres, na atualidade esse método contraceptivo já não é mais tão bem quisto, principalmente pelos efeitos colaterais associados ao uso de hormônios sintéticos. Frente a essa realidade, o público feminino sai em busca de novas opções para evitar tanto a gravidez indesejada, quando a contração de alguma doença sexualmente transmissível (DST) e, assim, ter relações sexuais sem preocupação. Pelo menos enquanto o anticoncepcional masculino não chega ao mercado.
A literatura científica sobre saúde reprodutiva divide os métodos contraceptivos em cinco tipos: naturais, de percepção ou comportamento, de barreira, hormonais e cirúrgicos. Abaixo, confira o funcionamento de cada modelo e as taxas de eficácia – de uso ideal (quando se seguem à risca as indicações de uso) e de uso típico (como costuma acontece na prática). Veja:
NATURAIS
Tabelinha (eficácia não comprovada): Cálculo do período fértil de acordo com o período menstrual. As mulheres normalmente ficam mais férteis no meio do seu ciclo menstrual, quando ocorre a ovulação. Por exemplo, se a cada 28 dias ocorre a menstruação, a data fértil é o 14º dia do ciclo. Como a maioria das mulheres possui um ciclo menstrual que varia entre 28 e 31 dias, os dias mais férteis estão entre o 14º e 16º dia. Nestes dias, é preciso prevenção, caso engravidar não seja a intenção. Esse período inclui três dias antes e depois do período fértil, ou seja, do 8º ao 19º dia do ciclo.
Coito interrompido (96% uso ideal e 73% uso típico): É quando o parceiro retira o pênis da vagina quando estiver prestes a ejacular. Dessa forma, o sêmen não entra em contato com a vagina, mas o líquido pré-coito, que pode conter espermatozoides, sim.
PERCEPÇÃO/COMPORTAMENTAL
Temperatura basal (eficácia não comprovada): É feito a partir da verificação diária da temperatura do corpo da mulher para descobrir a data provável que a ovulação ocorreu. Consiste em medir a temperatura basal do corpo de manhã, antes de levantar da cama, com um termômetro na boca, no reto ou na vagina. A temperatura basal é a temperatura do corpo medida assim que a mulher acorda, antes de qualquer esforço, e costuma ser mais baixa nos primeiros dias do ciclo menstrual, entre 36º e 36,5ºC. Após a ovulação, essa temperatura tende a subir, ficando em torno dos 37ºC, por conta da liberação da progesterona. Quando a mulher está ovulando, ou seja, está no seu período fértil, a temperatura basal do corpo aumenta entre 0,25 e 0,5ºC.
Muco cervical (eficácia não comprovada): Baseia-se nas alterações de muco cervical para saber o período fértil. O muco cervical é uma secreção natural que provém do colo do útero e se altera de acordo com o ciclo menstrual e ação dos hormônios (estrogênio e progestagênio). Durante o período fértil, o muco cervical fica mais "grosso", semelhante à clara de ovo. Caso a intenção seja não engravidar, é recomendado não ter relações sexuais sem proteção durante essa fase do ciclo. Também é conhecido pelo Método da Ovulação de Billings (MOB), que tem entre 76% e 96% de eficácia.
Sintotermal (99,7% uso ideal e 76% uso típico): Percepção dos dias férteis do ciclo da mulher pela observação das alterações de temperatura basal e das mudanças do muco cervical. A mulher deve anotar as informações em um aplicativo específico no celular ou em uma tabela em papel.
BARREIRA
Camisinha masculina (98% uso ideal e 84% uso típico): Feita de látex flexível, fino e resistente, funciona como uma “capa” protetora do pênis e da vagina. A camisinha deve ser colocada no pênis ereto, antes da penetração. Você ou seu parceiro devem pressionar a ponta da camisinha, para evitar a entrada de ar, e colocá-la sobre o pênis, desenrolando-a devagar até a base. Após a ejaculação, é necessário retirá-la com cuidado, enrolá-la em um papel higiênico e jogá-la no lixo.
Camisinha feminina (98% uso ideal): Feita com o mesmo material da camisinha masculina, tem o mesmo mecanismo de funcionamento. Em uma posição confortável, a mulher deve segurar a camisinha com o anel externo para baixo, comprimir o anel interno com o dedo polegar e o indicador e a introduzir na vagina. Com o indicador, ela deve empurrar a camisinha o mais fundo possível. O anel externo deve ficar cerca de 3 cm para fora da vagina. Após a relação sexual, é preciso retirá-la cuidadosamente, puxando pelo anel externo e pela "bolsa plástica", enrolá-la em um papel higiênico e jogá-la no lixo.
DIU de cobre (99,4% uso ideal): Um dispositivo em formato de "T" cilíndrico colocado no útero, que dificulta a ascensão dos espermatozoides à trompa uterina. Ele diminui a movimentação e função dos espermatozoides no útero e das trompas uterinas, dificultando a fecundação do óvulo, além de deixar o endométrio mais fino, o que impede a fixação do óvulo caso ele seja fecundado. Observa-se também reação inflamatória local, parecida com a reação do organismo a um "corpo estranho". Deve ser inserido e removido em uma clínica por um profissional de saúde qualificado.
Diafragma (94% uso ideal e 84% uso típico): Cúpula feita de silicone ou látex, com bordas firmes e flexíveis. Vem em tamanhos diferentes, entre 6 cm e 8 cm. Devido a essa variação, é necessário que você converse com o seu médico para saber a medida ideal para você. Ele forma uma barreira no colo do útero, impedindo que os espermatozoides fecundem o óvulo. Com as mãos limpas, comprimir o diafragma com o dedo indicador e o polegar e introduzi-lo no início da vagina. Depois, é necessário empurrá-lo com o dedo indicador para dentro, com o mesmo movimento que é feito na colocação de absorventes internos. Para retirar, basta introduzir o dedo indicador na vagina e puxar o diafragma com a ponta do dedo. É possível aplicá-lo até 6 horas antes do ato sexual e retirá-lo até 6 horas depois.
Espermicida (82% uso ideal): Solução em gel, creme ou geleia, que tem como objetivo paralisar os espermatozoides. Possui substâncias químicas que paralisam os espermatozoides, impedindo que eles fecundem os óvulos. Deve ser aplicado no fundo da vagina com o auxílio de um aplicador, pelo menos 10 minutos antes do ato sexual (seguir informações do fabricante).
HORMONAIS
Pílula (99,7% uso ideal e 92% uso típico): Um anticoncepcional em formato de comprimido, ou seja, de via oral. Pode ser uma combinação dos hormônios estrogênio e progestagênio ou apresentar somente um deles, o progestagênio. De modo geral, ao ser ingerida, a pílula libera hormônios que impedem a ovulação. Podem ser combinadas (com os dois hormônios) ou somente de progestânio. Com a pílula combinada, a mulher precisa tomar um comprimido por dia sempre no mesmo horário, com intervalos mensais que mudam de acordo com a pílula. Com a pílula de progestagênio, é necessário tomar um comprimido por dia, sempre no mesmo horário, não sendo necessária a pausa.
DIU hormonal (99,8%): O SIU, sistema intrauterino, também conhecido como DIU hormonal, é um dispositivo em formato cilíndrico colocado no útero que dificulta a movimentação dos espermatozoides e inibe o crescimento do endométrio. Ele também diminui a movimentação e função dos espermatozoides no útero e das trompas uterinas, dificultando a fecundação do óvulo, além de deixar o endométrio mais fino, o que impede a fixação do óvulo caso ele seja fecundado. Deve ser inserido e removido em uma clínica por um profissional de saúde qualificado. Tem duração de cinco anos.
Anel vaginal (99,7% uso ideal e 92% uso típico): Anel feito de silicone, flexível e transparente com cerca de 5,5 cm de diâmetro, que combina os hormônios estrogênio e progestagênio. Eles são liberados continuamente quando o anel é introduzido na vagina a partir do primeiro dia da menstruação. A retirada deve acontecer ao final da terceira semana de uso para, então, acontecer a menstruação.
Adesivo (99,7% uso ideal e 92% uso típico): Um adesivo de 4,5 cm x 4,5 cm, fino, de cor bege, que combina os hormônios estrogênio e progestagênio, que são absorvidos pelo organismo e impedem a ovulação. Deve ser colocado sobre a pele do braço, das costas, virilha ou nádegas no primeiro dia do ciclo menstrual e renová-lo a cada semana, durante 3 semanas. Depois, é necessário retirar o adesivo e fazer uma pausa de 7 dias.
Injeção (99,9% uso ideal e 97% uso típico): Um anticonceptivo injetável aplicado no músculo, normalmente nas nádegas ou braços, podendo ser de administração mensal (que possui a combinação dos hormônios estrogênio e progestagênio) ou trimestral (somente com progestagênio). Após ser aplicado no músculo, o anticoncepcional injetável, aos poucos, vai liberando os hormônios que impedem a ovulação. A aplicação deve ser feita por profissional da saúde, conforme administração, mensal ou trimestral.
Implante (99,9%): Um pequeno bastão de 4 cm de comprimento é implantado sob a pele e impede a ovulação. O implante libera gradativamente doses de progestagênio, hormônio que impede a ovulação. O bastão é colocado embaixo da pele do braço, com anestesia local, e só pode ser inserido e removido por um médico ou profissional de saúde qualificado. Deve ser trocado a cada três anos.
CIRÚRGICO
Laqueadura (99,5%):Um processo cirúrgico de esterilização definitiva da mulher. As trompas uterinas são fechadas, impedindo o encontro do espermatozoide com o óvulo.
Vasectomia (99,9%): Um processo cirúrgico de esterilização masculina. Os deferentes, canais que levam o espermatozoide dos testículos até as vesículas seminais, são fechados, impedindo a saída dos espermatozoides do pênis. Por meio de uma cirurgia simples, o médico retira um pedaço de cada um dos canais, impedindo a circulação e a liberação do espermatozoide.
*É importante lembrar que a camisinha (masculina ou feminina) é o único método que previne doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
Fontes: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Medical Clinics of North America, Direito de Escolha
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