Paulo de Nadal era um padre jovem e bonitão, o cabelo prateado sempre em contraste com a batina preta. Sua arrojada ideia logo ganharia as capas de jornal: "Obra da Igreja quer eliminar as vilas de malocas". Não era depreciativo, na década de 1950, chamar os casebres de malocas. Havia umas 15 vilas desse tipo naquela época, o que era considerado muito para uma Porto Alegre de 400 mil habitantes – população quase quatro vezes menor do que a de hoje.
Aos 35 anos, padre Paulo atuava como pároco da Igreja Nossa Senhora da Piedade, no bairro Rio Branco. Convivia com a classe média da região, mas preferia celebrar suas missas em capelinhas modestas, junto às malocas da Zona Leste. Acreditava que os pobres, esquecidos pelo Estado, eram os que mais precisavam do amparo de Cristo. Só que ele andava meio frustrado.
– Enquanto a gente trabalha as pessoas de dia, as forças do Mal destroem tudo à noite – costumava dizer, referindo-se aos pais que obrigavam as filhas a se prostituir, aos maridos bêbados que batiam nas mulheres e à criminalidade que emergia da madrugada.
VÍDEO: veja o que ocorre nos 6,5 mil metros quadrados do Mensageiro
Começou a idealizar um lugar para onde essas famílias fossem transferidas. Um lugar de propriedade da Igreja, em que a própria Igreja oferecesse moradia digna, escolas perto de casa, capacitação profissional, emprego para todos, creche para crianças, uma estrutura robusta para aquele povo se emancipar da miséria.
– Com todo o respeito, Paulo, como é que a Igreja vai sustentar um negócio desses? – duvidavam alguns amigos.
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O caminhão do Mensageiro da Caridade vai se espremendo entre vielas do Rubem Berta e desemboca em uma vila, onde alguém vai doar roupas. Descem do veículo dois carregadores e o cabineiro – logo explicaremos o que faz um cabineiro –, enquanto cinco homens nos olham torto a 10 metros dali. Um deles, já se aproximando, leva a mão direita ao cós da bermuda. Os quatro comparsas vêm atrás.
– Melhor guardar a câmera – recomenda o cabineiro Edson da Silva, e o nosso fotógrafo enfia o equipamento no caminhão.
O quinteto reconhece o gesto de diplomacia, interrompe a caminhada e nos encara de longe. Por sugestão de Edson, nossa equipe aguardará do lado de fora a coleta das doações. É a única, entre 20 visitas em uma tarde inteira, que ZH não consegue acompanhar.
Vinte visitas, vale frisar, só deste caminhão – há outros nove circulando ao mesmo tempo em Porto Alegre, cada um em uma zona da cidade. No total, em dois turnos, os 10 veículos atendem ao chamado de 350 doadores em um único dia. São 1,8 mil visitas por semana, mais de 7 mil por mês.
– Tem lugar em que a gente nem entra. No Morro Santa Tereza, esses tempos, um cara sacou a pistola e nos barrou na entrada – recorda o cabineiro.
Edson tem 23 anos, uma filha de três, e começou no Mensageiro como carregador. O carregador, já diz o nome, carrega os móveis ou qualquer coisa que os doadores queiram entregar. Mas tem que ficar quieto – nada de tagarelar na casa dos outros. O carregador só cumprimenta: na chegada, diz "bom dia" ou "boa tarde"; na saída, diz "muito obrigado" e ponto.
– Se todo mundo fala, a coisa vai se espichando, e a gente tem pressa: são 20 ou 30 casas para visitar em quatro horas – diz o motorista e coordenador dos caminhões, Rodrigo Cardoso Vieira. – E nem todo doador quer bater papo. Nossa regra é ser discreto, educado e rápido.
Quem se comunica mesmo, quem é treinado para isso, quem pergunta aos donos da casa onde estão os móveis, quem responde a eventuais dúvidas, quem faz tudo isso é o cabineiro. Ele também é o responsável pela rota do caminhão: manuseia guias, mapas e listas telefônicas – "não gosto de GPS", avisa Edson – para orientar o motorista, que é o maior salário da equipe.
– Aliás, minha meta é virar motorista – afirma o cabineiro, um ex-carregador já projetando a segunda promoção.
Mas, até lá, precisa mostrar serviço atendendo o público. Porque o maior temor da chefia, nessa entidade sem fins lucrativos, é saber que um doador foi maltratado: um doador maltratado deixará de ser doador e, sem doação, não há como vender nada, não há como faturar, não há como pagar salários nem como manter a considerável estrutura do Mensageiro: são 135 funcionários na sede de 6,5 mil metros quadrados (quem imagina isso olhando aquela despretensiosa fachada?) na Avenida Ipiranga, número 1.145. Nos quatro andares do prédio, há oficinas e marcenarias, um espaço para 80 crianças pobres, cursos gratuitos para o terceiro setor, dezenas de jovens em primeiro emprego, e o resto mostraremos adiante.
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Padre Paulo decidiu se cercar de gente influente. Com o aval do arcebispo Dom Vicente Scherer, fundou em 1957 o Secretariado de Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre e, para presidir a entidade, convidou o empresário Charles Springer – dono da Springer, que se preparava para lançar o primeiro ar-condicionado da América Latina. Advogados, comerciantes, industriais, médicos, contadores e boa parte da elite católica se envolveram na causa, até que, lá pelas tantas, o plano do padre parecia viável.
– Temos um terreno! Temos um terreno! – anunciou o advogado Roberto Bier da Silva. – A família Gonçalves Carneiro nos fará uma pechincha!
Eram 74 hectares na zona sul da cidade. Começava uma força-tarefa para arrecadar o dinheiro: padre Paulo ganhou um programa na TV Piratini, os jornais divulgavam a campanha todo dia, as damas doavam joias, os cavalheiros doavam dinheiro, os menos abonados doavam móveis e eletrodomésticos. Muitos móveis e eletrodomésticos. Tantos móveis e eletrodomésticos, que a sede do Secretariado de Ação Social da arquidiocese – no salão paroquial da Igreja Santa Teresinha, à margem da Redenção – não dava mais conta.
O governo do Estado, por meio do Daer, até emprestou um caminhão para que as doações fossem recolhidas na residência de quem doava. Eram voluntários que recolhiam. Eram mensageiros da caridade. "O que sobra em sua casa pode ser de grande utilidade aos pobres: o Mensageiro da Caridade aceita tudo", avisavam folhetos pelas ruas da Capital.
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– Boa tarde, senhor! Desculpe o incômodo, aqui é o Mensageiro da Caridade – anuncia o cabineiro Edson, seguido pelos carregadores Dionatan e Fabrício, na entrada de um galpão de tijolo à vista.
Quando a porta se abre, o cenário é de fim de mundo. Trezentos e oitenta metros quadrados de esculhambação em um lugar que, um dia, foi uma gráfica. O proprietário Marco Neves, 53 anos, vai doar um fogão de seis bocas, uma geladeira, uma mesa para impressora, um aparelho de som, um armário, uma escrivaninha e duas calculadoras de mesa, tudo amontoado por ali. Após demitir 10 funcionários, está fechando sua sede.
– Já passei por Plano Cruzado e confisco do Collor, mas nunca tinha enfrentado uma situação tão drástica – lamenta Marco, olhando para o chão. – Água, luz, telefone, aluguel, imposto, não tenho mais como pagar nada disso.
O caminhão segue adiante, passa em duas vidraçarias: na primeira, leva quatro tonéis de vidro estilhaçado, na segunda, outros cinco. Depois, recolhe papelão, barras de ferro, jornal velho, rádio estragado, garrafas, ferragens e sucata de todo tipo – uma montanha de inutilidades em residências e depósitos da Zona Norte.
– Mas as pessoas doam lixo?
– Graças a Deus – responde o motorista, e a explicação vem na estrofe abaixo.
"O Mensageiro é nosso amigão
Recicla o lixo, não jogue nada no chão
Metal, papel e vidro também
Com sua doação você ajuda alguém."
Quem canta são 25 crianças e adolescentes, todos entre seis e 17 anos, sentados em roda no quarto andar da sede do Mensageiro.
É lá que funciona o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, e eles agora impostam a voz na oficina de canto. Há também oficinas de dança, violão, percussão, artesanato, culinária, informática, inglês e teatro, todas gratuitas, mas é cantando que eles entendem por que o lixo é importante.
– Não sei se alguém já te disse, mas é que o lixo também dá para vender, sabia? – conta a pequena Caroline, seis anos, repetindo que todos podem doar "metal, papel e vidro também", como ensina a música.
– Para nós, tudo vale dinheiro – resume a supervisora-executiva, Lourdes Cecília Fantin. – Uma boa parte do faturamento vem da venda de sucata para fábricas.
Caroline, uma das 80 crianças pobres que todo dia passa o turno inverso à escola no Mensageiro, onde almoça e lancha, sabe que só está ali por causa das doações. Moradora de uma vila próxima, conta que sua mãe decidiu levá-la ao centro de convivência "para o papai conseguir dormir".
– É que ele trabalha a noite inteira abrindo a porta do edifício para as pessoas que chegam da rua. Aí, quando ele volta para casa, a minha mãe já está no trabalho, onde ela fica passando vassoura enquanto os colegas estão no computador – explica Caroline, as covinhas enfeitando a pele mulata.
Mas nem todos têm uma família. Uma parte da turma que frequenta o Mensageiro dorme todos os dias no Pão dos Pobres e em outros abrigos de Porto Alegre. Alguns foram retirados dos pais pela Justiça. Tinham sofrido, na própria casa, maus-tratos ou abuso sexual.
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Em 11 de outubro de 1962, no coração da Cavalhada, foi inaugurada a Cidade de Deus. Um complexo habitacional para 20 mil pessoas que, além de trocar suas malocas por casas de alvenaria, ingressavam em um sistema inovador de economia sustentável. Os moradores passaram a trabalhar em açougues, padarias, mecânicas, matadouros, carpintarias e confeitarias, e o lucro das lojas era revertido para manter a estrutura inteira.
– A Cidade de Deus virou potência, começou a receber indústrias – lembra Ivo Guizzardi, atual superintendente-executivo do Secretariado de Ação Social da Arquidiocese.
Só que não levou tanto tempo para a coisa degringolar. No fim dos anos 1960, os balancetes viviam no vermelho. Dizem que os funcionários da padaria, sempre livres para levar o que quisessem, começaram a abusar: levavam montanhas de pão para casa. O mesmo teria ocorrido com a carne do açougue, com as tortas da confeitaria e com outros produtos cuja venda sustentava a Cidade de Deus.
Padre Paulo, ao perceber que o Mensageiro da Caridade crescia, com as doações se avolumando em uma nova sede na Avenida Ipiranga, decidiu vender baratinho alguns móveis para quem pudesse pagar. Era o jeito de manter as contas em dia, sem deixar de distribuir aos pobres o grosso da mobília.
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Tudo se transforma no Mensageiro da Caridade, tudo ganha um novo propósito, e isso inclui pessoas e coisas. Uma máquina de lavar, por exemplo.
A Brastemp entra no caminhão toda puída e enferrujada, não serve para nada, não funciona faz tempo. Quem doa é o barbeiro Rafael Cavinato, 27 anos, de mudança com a mulher para uma casa maior no Sarandi – ele também entrega um roupeiro, duas cômodas, duas camas e uma estante.
– Se eu vender, vou ganhar o quê? Cem reais? Prefiro mil vezes ajudar alguém – argumenta Rafael.
Tudo vai direto para a loja do Mensageiro, onde será vendido a valores módicos, menos a combalida máquina de lavar. Ela entra de caminhão no pátio da sede, desce da carroceria nos braços de Dionatan e Fabrício e, de elevador, sobe ao terceiro piso, onde o chefe é Clério Eloí da Silva, 58 anos, 42 de Mensageiro. É um ex-carregador que hoje coordena a oficina de eletrodomésticos.
– Entrei aqui com 16 anos, não sabia nem apertar um parafuso – relembra ele, cercado por geladeiras, máquinas, fogões, TVs, batedeiras, liquidificadores, ventiladores e centenas de outros aparelhos que ocupam o andar inteiro. – Isso aqui é quase uma escola técnica, só que as pessoas ganham para aprender.
A antiga Brastemp do barbeiro Rafael pousa na frente de Clério. Ele pede para um assistente ligá-la – Josias Lopes é o nome do rapaz, tem 22 anos e um filhinho de seis meses –, ouve-se um ruído agudo de arrebentar os ouvidos, e então começam os diagnósticos:
– A carcaça não presta, vai à venda com a sucata de ferro.
– A tampa está quebrada, vai à venda com a sucata de plástico.
– O fio está desencapado, vai à venda com a sucata de cobre.
– Mas o motor funciona, a bomba também, a correia idem, e olha como está bom o cesto de roupas.
O assistente Josias busca no depósito outra máquina igualzinha, mas com a carcaça intacta e o motor estragado – aliás, esse motor já foi à venda com a sucata de antimônio. Começa a transferência de peças: o que estava bom na primeira vai para a carcaça da segunda e, em menos de meia hora, há uma máquina de lavar funcionando como nova.
Ela vai para o elevador de novo, agora rumo ao primeiro andar, onde fica a loja. O coordenador da área, Alamir Pedroso, 53 anos, bate o olho e já fixa o preço: R$ 300.
– Se o cara só tiver R$ 200, a gente faz também.
Em geral, os preços são calculados em uma média de 30% do valor de mercado – isso quando o produto está em bom estado, claro. Sofás custam de R$ 100 a R$ 250; geladeiras, no máximo R$ 400; TVs, R$ 200; liquidificadores, R$ 30; ventiladores, até por R$ 20.
– Quanto custa aquele maior, moço? – aponta uma garota para um sofá com um rasgo no braço.
– Esse aí? Oitenta. Mas por 50 já vai. Até por 30, na verdade – repensa Alamir, para depois cochichar à reportagem: – Não vou deixar sair sem nada uma pessoa que precisa. Isso aqui é o Mensageiro da Caridade, né?
Aliás, o Mensageiro da Caridade só recebe doações? Não doa nada? Doa, sim: aquela roupa que o caminhão foi buscar lá no início do texto – na vila do Rubem Berta em que um homem levou a mão ao cós da bermuda – foi entregue nas ilhas do Delta do Jacuí. Quinhentos quilos de roupa doada por semana são repassados para lá. Quando ocorrem enchentes ou qualquer desastre, mobília de graça é distribuída aos flagelados.
– Mas não dá para ser Sílvio Santos e gritar "quem quer dinheiro" – pondera a supervisora-executiva, Lourdes Cecília Fantin. – Cento e trinta e cinco famílias das pessoas que trabalham aqui, além das crianças do centro de convivência, dependem das vendas.
E não anda lá essas coisas a situação financeira. É o terceiro ano seguido em que o Mensageiro gasta mais do que arrecada. Em 2015, a receita foi de R$ 5,8 milhões, e as despesas, de R$ 6,4 milhões.
A explicação é lógica. Quando a economia vai bem, que não é o caso agora, as pessoas compram produtos novos com mais frequência e fazem doações maiores e melhores. Quando a economia vai mal, como atualmente, as doações diminuem e tendem a ser de menor qualidade – porque os produtos bons, claro, as pessoas seguram em casa.
– Sem falar que a classe mais necessitada compra muito mais do Mensageiro em época de vacas gordas – completa Ivo Guizzardi, o superintendente-executivo.
A diretoria calcula que, para equilibrar as finanças, teria de demitir entre 30 e 40 funcionários. Mas a intenção, por enquanto, é seguir trabalhando no vermelho.
– Muitos são pais de família com 16, 18 anos. Se perdem o emprego aqui, nesse momento do país, vão fazer o quê? No ambiente em que vivem, vão acabar assaltando quando bater a fome – pressente a supervisora Lourdes.
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Porto Alegre se alvoroçou com a mixaria dos preços no final dos anos 1960 – o Mensageiro da Caridade era mais barato do que qualquer brique. Em menos de uma semana, o boca-boca se alastrou, as vendas dispararam e o faturamento bateu recorde.
O Mensageiro passou a contratar funcionários, comprar caminhões, construir oficinas, ampliar marcenarias. Aquele sistema de economia sustentável da Cidade de Deus enfim dava certo, mas no Mensageiro da Caridade: a venda das doações bancava a estrutura e o salário de todos, deu para erguer até um novo andar para acolher crianças.
O complexo de habitações expunha um rombo insanável. Padre Paulo não escondeu a tristeza quando um lote da Cidade de Deus foi desapropriado e outro, doado para o município. O posto de saúde, com médicos bancados pela Igreja, também acabou nas mãos do governo – era insustentável, um projeto daqueles.
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– Mão na cabeça! Mão na cabeça!
A viatura surpreende a boca de fumo na Vila Cruzeiro, e ninguém consegue correr. Aos 24 anos, Lennon Azeredo sente o cano da pistola lhe roçando a nuca. O PM só diz "perdeu" e lhe arranca do bolso 50 gramas de cocaína – está configurado o flagrante por tráfico. Lennon já se imagina no Presídio Central, mas o policial aproxima a boca do seu ouvido, devagarinho, e fala sussurrando:
– Se eu te pegar de novo quando voltar, e eu vou voltar, eu te mato. Tá me ouvindo? Eu te mato.
Dois anos depois, agora aos 26, Lennon é cabineiro no Mensageiro da Caridade, onde entrou como carregador após pedir uma ajuda do tio, que há 22 anos trabalha lá como motorista.
– Aquilo foi um sinal para eu refletir e largar de mão – interpreta o rapaz, hoje reciclado, transformado, casado e pai de duas meninas, sempre planejando, como a maioria dos cabineiros, ser promovido a motorista. – É verdade que eu ganhava mais na boca, mas eu quero é dinheiro limpo.
Na chegada dos caminhões no pátio da sede, no fim da tarde, Lennon ajuda a retirar um roupeiro horroroso, descascado e quebrado nas portas. O guarda-roupa vai para a marcenaria, ali no térreo, onde João Batista Moreira, 44 anos, dará um jeito:
– Vou transformar em uma cômoda.
Com uma serra circular, ele aproveita os fundos do armário para fazer as laterais do novo móvel, usa quatro gavetas que sobraram para encaixar entre as paredes, depois acomoda uma estante para TV em cima e pronto. A nova cômoda vai para a loja: R$ 50.
O marceneiro João Batista iniciou a relação com o Mensageiro aos oito anos de idade, quando sua família ganhou uma casinha na Cidade de Deus, o complexo habitacional idealizado por padre Paulo De Nadal. Ele, o pai, a mãe e cinco irmãos moravam na cocheira do cavalo do avô materno.
– Meu pai tinha botado tudo fora por causa da bebida. Só que a época da cocheira nem foi tão ruim: como o meu avô era bem mais forte, o pai parou de bater na gente – recorda João Batista, que frequentou o centro de convivência das crianças até os 17 anos. – O Mensageiro da Caridade formou o meu caráter. Muito do que sou, devo a ele.
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A última vez em que o Padre Paulo sorriu foi em julho de 1976. Aos 56 anos, ele era a atração maior de um congresso latino-americano de cáritas e ação social, evento importante nos altos da Glória, em Porto Alegre. Fora chamado para palestrar sobre o sucesso do Mensageiro da Caridade. Detalhou a trajetória toda, recebeu calorosos aplausos e, feliz com o reconhecimento, sentou-se sorrindo para almoçar.
Teve um infarto fulminante e morreu ali mesmo. Empertigado na cadeira à beira da mesa. Seu corpo foi enterrado na entrada da igreja da Cidade de Deus, onde segue até hoje. Seu corpo também ganhou uma estátua em bronze, em frente à sede do Mensageiro da Caridade.
O passo a passo de uma doação: