A chegada do Uber em Porto Alegre foi triunfal. Certo dia de novembro, carros reluzentes, com seus estofados de couro e condutores bem-educados, foram postos à mercê de uma população queixosa de taxis sujos, abafados e, algumas vezes, guiados por motoristas inconvenientes. O melhor era que passear nos carrões custaria bem menos.
Aos que aplaudiram o Uber, seduzia a pitada de desprezo ao poder público. O Uber não devia satisfações à prefeitura - que, por sinal, já comete erros suficientes ao tentar fiscalizar os táxis. As tarifas não obedeceriam a lógica dos burocratas: o valor seria o mais justo para todos.
Opinião: Os desperdícios de dinheiro no dia a dia
Alguns vibraram com a iminente derrocada dos táxis e da EPTC. Era o estado da arte do capitalismo pisando sobre a ineficiência do Estado.
Eis que nas últimas semanas a imaculada condição do Uber começa a ser questionada. Discretamente, a empresa apresentou a Porto Alegre seu modelo de negócio: quando há muita procura, o aplicativo calcula um novo valor para a corrida. Um usuário que costuma pagar R$ 20 pelo deleite de andar algumas quadras em um Corolla luxuoso, poderá ter que desembolsar até R$ 100 em um dia de chuva ou no horário de pico. Oferta e demanda, senhores.
O caso do Uber mostra como serviços públicos e privados se equilibram em uma balança invisível, que dosa qualidade e universalidade. Os táxis - como todo arsenal de maus exemplos - não podem multiplicar o preço a seu bel-prazer. Por outro lado, você dificilmente embarcará em um carro do Uber com cheiro de cigarro e sem ar condicionado, embora possa se deparar com preços estratosféricos.
A chegada do Uber tende a elevar o nível dos táxis. E as melhorias dos taxis vão impedir que a conta do Uber suba ainda mais. Pelo bem da população, um não pode haver sem o outro. Nem keynes, nem Smith. Nem Estado, nem Capital. É a liberdade de mercado na disputa pela sua corrida.