Momentos de crise financeira como o atual costumam levar as pessoas a tomarem medidas conservadoras para garantir a segurança de seu dinheiro. Nada de grandes financiamentos – até por que os juros subiram demais –, tampouco arriscar nos investimentos e muito menos assumir novas contas. São medidas sábias, sem dúvida – desde que não tragam uma névoa que cubra melhores oportunidades.
Uma das falhas apontadas por analistas financeiros nestas ocasiões é deixar o dinheiro na caderneta de poupança, imaginando que ele esteja protegido da inflação. Não é bem assim. Pela primeira vez em muito tempo, a caderneta não acompanhou a alta de preços em 2015 – avançou pouco mais de 8%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) chegou a 10,7%. Ou seja, quem tinha dinheiro neste tipo de aplicação ficou um pouco mais pobre.
Algumas pessoas já perceberam o descompasso entre poupança e a vida real: no ano passado, as retiradas de recursos da caderneta superaram os depósitos em R$ 53 bilhões – boa parte desse dinheiro foi direcionado a investimentos mais rentáveis, como CDBs e Títulos de Tesouro.
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Aliás, a exemplo da poupança, o Brasil é cheio de indexadores que vestem uma roupagem de segurança e benefício social, mas, na prática, tiram dinheiro do bolso do contribuinte e levam aos cofres do governo. O mais gritante talvez seja o rendimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço: o dinheiro lá estacionado rende 3% ao ano mais TR (Taxa Referencial) – ou seja, uma perda líquida ao redor de de 7% em relação á inflação no ano passado.
O Congresso aprovou recentemente uma mudança na regra do FGTS, e os juros subirão gradativamente até 2019, quando novos depósitos alcançarão o índice da poupança. Até lá, muitos consultores financeiros sugerem sacar o fundo para eliminar parcelas da casa própria, por exemplo, abatendo juros. Outro caso é a correção da tabela do Imposto de Renda.
A cada ano que as faixas de contribuição não são reajustadas, ou são revisadas em um valor irreal de 4,5% (centro da meta da inflação, que desde 2009 não é alcançado), a Receita agrega mais contribuintes e aumenta a mordida. A fome tributária tem sido impiedosa: a defasagem total da tabela do IR acumula 72% nos últimos 20 anos, conforme o Sindifisco.