Fã de quadrinhos japoneses, Thiago* trocou as páginas ilustradas pelas armas aos 12 anos. Participou de assaltos, saiu de casa e acabou privado da liberdade na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase). No local, aos 18 anos, redescobriu as palavras.
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Começou a ler gibis e passou para os romances maiores, com temas policiais. Atualmente, devora a aventura infantojuvenil Vingança em Chamas, da série Amanhã, do escritor John Marsden.
- Fala sobre soldados e guerra, tem um pouco da minha vida. Gosto de livros que contem a vida das pessoas, mais reais - comenta o adolescente.
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Desde que começou a participar do projeto de incentivo à leitura da Comunidade Socioeducativa, onde está internado, ele conta que a escrita e o desenvolvimento nos estudos melhoraram. A mãe e a prima, destinatárias das cartas que ele escreve no local, chegaram a elogiar as frases mais complexas e a gramática correta, que eliminou abreviações das redes sociais.
- Quando tu começa a ler mais e se entreter, sai do pensamento que é só dinheiro e droga, vê que não vale a pena. Começa a pensar no futuro, em estudar - acrescenta Thiago, que tem planos de cursar mecânica automotiva.
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Colega de internação no local, Lucas* só conhecia uma biblioteca até o ano passado: a de sua escola, um lugar onde os professores só levavam as crianças. Sem livros em casa, não lia quase nada. O gosto pelas palavras só veio aos 17 anos, quando ele foi internado na Fase. Hoje, aos 18, elegeu Capitães da Areia, de Jorge Amado, como sua obra favorita. Encantou-se pela forma com que o autor relatou a vida dos meninos de rua. Identificou-se com os personagens.
- A leitura fez uma mudança na minha vida. Me deu mais interesse, eu presto mais atenção nas aulas - diz o adolescente, que sonha em cursar Biologia.
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Reinaugurada em julho, a biblioteca da Comunidade Socioeducativa ganhou livros, mobiliário e computadores novos. Um mês depois, começou a ser palco de um projeto de leitura elaborado em parceria com a escola, em que já foram trabalhadas obras como Moby Dick e Dom Quixote. Para os adolescentes em medida de isolamento, são preparados kits com livros, gibis e ficha de leitura.
- A produção textual deles melhorou muito, e eles passaram a se interessar mais por gramática, por saber como se escreve corretamente - afirmou agente socioeducador Alan Triumpho.
PERFIL DOS INTERNADOS
Adolescentes internados na Fase: 1.113
Homens: 1.084
Mulheres: 29
Doações do Banco de Livros: 6.940
*Os nomes dos adolescentes foram modificados em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
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Fernanda da Costa
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