Como nos boatos da separação do casal Gisele Bündchen e Tom Brady, no mundo da música, da tv, da moda ou no próprio cotidiano, a história se repete. Após deflagrado um caso de traição, começa uma devassa por parte da mídia e da sociedade para encontrar motivos e culpados, ou melhor, culpadas.
A mulher, seja a esposa traída ou a "destruidora de lares", é sempre ré no tribunal da moral e dos bons costumes. Mas por que será que os maridos infiéis poucas vezes são responsabilizados?
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- A sociedade, de um modo geral, legitima que os homens tenham mais de uma mulher, que tenham um comportamento permissivo, que rompam com as convenções. Apesar disso, o homem não é responsabilizado pela ruptura. Existe uma ideia de que os homens não conseguem resistir a sensualidade feminina - explica a cientista politica Telia Negrão e coordenadora do Coletivo Feminino Plural de Porto Alegre.
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Para o sociólogo e professor aposentado da UFRGS Renato de Oliveira, a não culpabilização masculina é herança de nosso passado:
- Esse comportamento tem muito a ver com os resquícios ideológicos de uma organização social patrimonialista que vem do Brasil colônia. Naquela época, a sociedade era fundamentada sobre relações de poder patriarcais com foco no homem chefe de família e único detentor das liberdades.
Outro ponto para entender este comportamento ainda vigente é a naturalização dos valores. Segundo a professora do departamento de Psicologia Social da PUC-SP, Maria da Graça Marchina Gonçalves, certas concepções que adquirimos ao longo da história são internalizados e reproduzidos sem questionamentos.
- A concepção histórica do lugar e do papel da mulher foi se naturalizando como se fosse algo próprio da natureza humana. Entretanto, esses valores são uma construção cultural. Reproduzi-los sem questioná-los é contribuir para sua aceitação. É a ideologia dominante da naturalidade - explica a professora.
De acordo com a especialista, a sexualidade ainda é interpretada de forma diferente para homens e mulheres, principalmente no caso da traição. No que se refere a exploração da sexualidade, a sociedade tolera a liberdade do homem mas condena a da mulher.
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Essa condenação se dá porque os comportamentos práticos mudam mais rápido que valores e costumes sociais, é o que afirma Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora dos livros Por que homens e mulheres traem? (Ed. BestBolso, 2010) e A Outra (Ed. Record, 1997 e BestBolso, 2009).
- Mesmo com as mulheres apresentando comportamentos mais independentes e autônomos, na nossa cultura o marido ainda é uma riqueza. Ele é valorizado e disputado. Se olharmos na prática, as mulheres são responsáveis por 70% dos pedidos de divórcio. Isso mostra que elas não estão tão tolerantes como no passado. Apesar desse comportamento, os valores ainda estão em mutação. A "vida boa" dos homens está com os dias contados - destaca a antropóloga.