Um dos mais destacados especialistas do mundo em burnout, ápice do esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho, o canadense Michael Leiter estará em Porto Alegre para palestrar, no dia 23, na abertura do 15º Congresso de Estresse, realizado pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR).
Leiter, professor da Universidade Acadia, no Canadá, discorrerá sobre uma receita eficaz para a prevenção do burnout, válida inclusive para profissionais que lidam com grandes demandas e sob intensa pressão: engajamento. O funcionário engajado se sente pleno de energia e confiante no seu potencial, dedicando-se ao cumprimento das tarefas.
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- O trabalho nos toma tempo demais, não pode ser malfeito ou causar sofrimento - alerta o psicólogo, em entrevista a ZH.
O congresso será realizado no Centro de Eventos do Hotel Plaza São Rafael. Informações sobre inscrições e a programação no site ismabrasil.com.br, pelo e-mail stress@ismabrasil.com.br ou pelo telefone (51) 3222-2441.
Quais os fatores que costumam provocar o burnout?
A principal razão é uma incompatibilidade entre as pessoas e os seus empregos. É impossível gostar de certos empregos, ao mesmo tempo em que existem pessoas que nunca vão se satisfazer em emprego algum. Mas, na maioria dos casos, o burnout ocorre quando elas estão em um emprego incompatível com o modo como desejam trabalhar. Um emprego pode ser satisfatório durante um tempo, mas se torna tedioso quando a pessoa está pronta para seguir rumo a uma posição mais desafiadora. As principais características da síndrome de burnout são a exaustão contínua, a ocorrência de atitudes cínicas em relação ao trabalho, aos clientes e aos colegas e o sentimento de desencorajamento e de perda da confiança nas próprias habilidades.
O senhor diz que o engajamento pode ser um eficiente antídoto contra o burnout. Como?
O engajamento é o oposto do burnout. A pessoa se sente enérgica, dedica-se ao trabalho, sente-se confiante em suas habilidades. Com frequência, o engajamento reflete um bom casamento entre o funcionário e o emprego. Valores são importantes. O empregado engajado está convencido de que o emprego está de acordo com os seus valores: quanto mais ele contribuir por meio de suas tarefas, mais ele se convencerá de que está fazendo uma contribuição positiva. Em contraste, quem está sofrendo burnout tem a certeza de que o trabalho não coincide com os seus valores. Essas pessoas sentem que estão perdendo tempo ou até mesmo causando dano.
Nunca estivemos tão conectados à internet. É fácil encontrar aqueles que nunca desligam do escritório. O esgotamento provocado por esse tipo de relação permanente com o trabalho potencializa o risco de burnout?
A tecnologia contribui para o burnout se usada em excesso, mas a falta de acesso à tecnologia também pode levar ao burnout quando força as pessoas a trabalhar de forma ineficiente ou a receber informações importantes com atraso. O mundo corporativo de hoje não está confinado ao escritório. O trabalho pode ir a qualquer lugar e se espalhar pelas horas do dia. Cada um deve tomar decisões sobre como se manter conectado e quando interromper essa conexão. Depende do tipo de trabalho e dos diversos estilos de comunicação. Não há uma fórmula que se adapte a todos.
Que tipo de consequência a insatisfação prolongada com a vida profissional pode trazer?
O trabalho nos toma tempo demais, não pode ser malfeito ou causar sofrimento. É importante encontrar maneiras de usar o emprego de hoje como forma de se posicionar para o seguinte, que poderá ser melhor. O desemprego provoca um estresse severo. É importante evoluir de um emprego ruim para um emprego melhor, e não simplesmente pedir demissão.
É possível reverter o burnout sem mudar de emprego ou de atividade profissional? Um funcionário que adoece de insatisfação pode conseguir reverter o quadro e ser feliz no mesmo lugar?
É importante mudar a forma de encarar o trabalho para se recuperar do burnout. Não conheço alguém que tenha conseguido retornar ao mesmo emprego com sucesso depois de sofrer burnout naquela posição. As pessoas podem ter a mesma ocupação ou trabalhar na mesma organização, mas fazendo algo diferente.
O burnout
A psicóloga americana Christina Maslach abordou o burnout (do inglês burn out, que significa esgotado, desgastado, destruído) em sua tese de doutorado, em 1982, quando especialistas da área começavam a falar de profissionais que adoeciam no trabalho. Professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, hoje ela é considerada a maior referência mundial no assunto. Michael Leiter, palestrante que estará em Porto Alegre, é um parceiro frequente de Christina em produções acadêmicas.
Emprego saudável
Características fundamentais de um ambiente de trabalho que permite o engajamento
- Segurança psicológica: as pessoas não vão constrangê-lo ou isolá-lo.
- Relações respeitosas com colegas e supervisores.
- Local com móveis e equipamentos apropriados, onde o funcionário possa circular.
- Possibilidade de tomar decisões.
- Senso de justiça: os chefes no comando utilizam processos transparentes para tomar decisões justas.
- Reconhecimento e recompensa a contribuições qualificadas.
- Sensação de que as tarefas estão de acordo com os valores do profissional.